Cosmopolitan Boys Sunday Snippets #012

Ugly Bastard em cima de um carro no estúdio do Slawn.

28/07/2024, Domingo, 16:24 @ Centro, São Paulo

Me encontro no processo de lançar um dos maiores projetos que já fiz parte e tenho refletido bastante sobre como acessar espaços mais corporativos. Como me fazer ser ouvido/entendido por eles, como não perder a minha essência e não deixar de defender as coisas que acredito. Existe uma discrepância muito grande entre o que acontece na rua e o que pensam nos escritórios, ainda mais no Brasil, e é um grande desafio conseguir construir esses diálogos. Mas consigo enxergar um futuro promissor, falando por mim e por jovens criativos como eu.

Essas são algumas coisas que me fizeram pensar essa semana, espero que gostem:

*Cada tópico está dissecado um pouco mais. Clique nas setas e/ou nos links.

O QUE ESTOU LENDO:
Slawn – The good, the bad, and the Ugly Bastard

Slawn é um dos artistas contemporâneos mais relevantes na minha opinião. Acho que não tem nenhum dia que eu não veja algo envolvendo ele atualmente. Entrevista dele para e Avant Arte falando sobre uma escultura nova, processo criativo, controvérsias das suas obras e etc. O café dele em Londres foi um dos lugares mais legais que já fui na vida. E caso você se pergunte quem é o bebê que o Central Cee sempre aparece segurando, é o filho dele. Alguns trechos traduzidos da entrevista:

sobre a escultura: como Deus nos fez à sua imagem. Eu faço isso à minha imagem, algum garoto faz algo à sua imagem, e então o filho dele faz algo à imagem de outra pessoa, e assim por diante, mas tudo se resume a Deus.

Quando eu era mais jovem, eu tinha alguns amigos que podiam desenhar Ben 10 e outros desenhos animados muito rapidamente, e eu não conseguia fazer isso. Isso me irritava. A única coisa que eu conseguia desenhar era Diário de um Banana, então continuei desenhando isso e evoluiu para isso. Todo o ponto da arte que faço é que é fácil para mim fazer.

Agora é memória muscular – eu não consigo evitar. É daí que vem meu estilo, mas também continua me mandando de volta para onde eu já estive.

Eu era rebelde, cara. Meu professor me disse que eu não valia nada. Eu disse, legal, então vou me certificar de ser o maior e melhor artista do mundo. Eu tenho um problema com pessoas me dizendo que eu não posso fazer as coisas. Esse é o meu principal problema. Vou provar para você que eu posso. Então eu convenci todo mundo de que essa merda que eu faço é incrível. Até agora, está funcionando.

Eu me propus a fazer isso. Definitivamente. Não consigo fazer arte que as pessoas olhem e chorem de beleza. Minhas habilidades técnicas não chegam a esse ponto porque sou muito acelerado. Preciso de uma explosão rápida de algo, e a única maneira de obter essa resposta rápida é através da emoção. Você nem sempre consegue isso com felicidade, mas com raiva e fúria funciona todas as vezes. Sempre há algo para ficar irritado. Isso se espalha como fogo.

sobre controvérsias de sua arte ser racista: É mais a conversa. Eu vejo o que aconteceu no Twitter, e há pessoas respondendo “o que é Jim Crow? Nunca ouvi falar disso antes.” Tudo o que precisou foi eu ser o vilão na vida delas, e agora elas sabem algo que não sabiam antes. Agora, se elas entrarem em uma casa estranha e virem esses objetos, elas sabem o que é. Corra!

Eu gosto de ser o vilão nas coisas, porque muitas vezes você descobre que o vilão é apenas alguém que estava tentando, se não te salvar, então te dizer algo. Isso torna o filme muito mais interessante. Todo mundo adora um momento de eureka, como quando você está fazendo matemática e acaba funcionando. As pessoas que são inteligentes o suficiente para parar e pesquisar sempre descobrem que, mesmo que o trabalho não seja revolucionário, é interessante!

Sou um estudante do jogo. Nunca começo a falar sobre algo que não sei. As pessoas dizem “a única razão pela qual estão trabalhando com ele é porque ele é um idiota.” Não, é porque eu crio conversas para as pessoas, e elas gostam disso.

É por isso que criei o Ugly Bastard. Nunca, jamais pensei que sou feio. As pessoas me chamam de feio – cara, há uma boa chance de que sua namorada possa me querer. Ou me chamam de autodestrutivo – não, você só odeia que eu me amo. O problema é que eles realmente querem que eu não goste de mim mesmo, e isso não é possível.

Desde os 13 anos, tenho praticado sonhos lúcidos. Eu tenho dois ou três minutos toda vez que acordo de qualquer tipo de sono, onde meu cérebro está tão ativo. É incomparável. Eu acordo e anoto ideias.

Meu cérebro me dá o quebra-cabeça, tudo o que tenho que fazer é juntar as peças para seguir em frente. Então, quando estou pintando, não me concentro no trabalho. Acho que isso se chama estado de fluxo. Quando termino, é como se eu tivesse viajado no tempo, há uma peça de trabalho, e eu não precisei me preocupar.

Alguns artistas se sentem realizados quando veem uma bela obra que fizeram. Eu geralmente penso, “Vou fazer outra que seja melhor.” Não necessariamente “melhor” – tenho obras que pintei há três anos e são muito mais bonitas do que estou fazendo agora. Mas isso é porque o tempo torna as coisas mais bonitas. É por isso que sempre termino uma obra, mesmo que eu não goste dela.

As possibilidades são infinitas. Movimento é humanidade. Você tem que continuar se movendo. Talvez eu faça um dele se movendo constantemente. Talvez mude a cor.

Avant Arte: Finalmente, o que você tem a dizer ao mundo? Slawn: Vai se foder. Mas era isso que você estava esperando.

STÉPHANE ASHPOOL: “I DO, AND I THINK AFTER”

Conheci a Pigalle – marca fundada pelo Stephane – muitos anos atrás, provavelmente por conta do A$ap Rocky e toda a cultura de Tumblr, mas foi só mais recentemente que comecei a entender a importância cultural do Stephane para a cidade de Paris e pro streetwear como um todo (mais precisamente depois do Fashion Week do ano passado, que eu vi que ele era a pessoa por trás do trio elétrico da Stussy). A quadra de basquete do clipe de ‘Thiago Silva’ do Dave com AJ Tracey, era um estacionamento abandonado no bairro que ele transformou em quadra pra diminuir a violência no local através do esporte. Esse ano ele foi o diretor criativo dos uniformes das delegações olímpicas e paralímpicas francesas. A matéria fala com mais detalhes sobre tudo isso.

Há muito impulso para o parisiense nato no momento, que fundou a marca de streetwear Pigalle em 2008. Quase tudo o que Ashpool faz envolve sua comunidade, país e esporte — sua santíssima trindade, pode-se dizer.

Com palavras-chave e anedotas dos atletas alimentando seus passos sartoriais, Ashpool passou noites intermináveis em seu estúdio — ou “cozinha,” como ele chama (ele se considera um padeiro explorando novas técnicas e camadas) — tramando e se conectando com sua lista de fornecedores e vendedores com quem trabalhou ao longo dos anos.

Esta atenção aos detalhes e modo de trabalhar é algo que Ashpool nunca realmente deixou de lado, especialmente quando se trata de Pigalle (batizado em homenagem ao bairro onde nasceu e ainda vive). “Sempre disse aos meus pais que tive muita sorte de nascer nesta área, na fronteira de dois mundos diferentes. É um caldeirão,” ele diz. “De um lado, você tem a aspereza rude do Norte, e do outro está a sensibilidade chique parisiense que todos conhecem e amam.”

Dizem que nossos cérebros se desenvolvem e absorvem mais até os cinco anos de idade — e Ashpool claramente absorveu toda Pigalle durante seus anos de infância. Estamos há uma hora em nossa conversa; os carros buzinam incessantemente, os vizinhos acenam enquanto passam, mas nada disso incomoda Ashpool, cujos olhos brilham enquanto ele desaparece em uma névoa nostálgica. “Paris era e é cheia de pessoas excêntricas. Papai trabalhava em design de malhas. Mamãe era uma bailarina de Sarajevo. Cresci cercado por disciplina e criatividade. A cena queer ao redor da minha mãe era eletrizante; a extravagância de algumas das personalidades e trajes que vi nos anos 60, quando ela trabalhava com Paco Rabanne, foi tão reveladora para mim”, ele explica. Sua mãe ajudava as modelos a aperfeiçoarem seu desfile na passarela, graças ao seu histórico de performance, então Ashpool estava constantemente envolvido na energia vibrante do mundo da moda. “As pessoas não eram tímidas, e isso levou à minha curiosidade por esse mundo. ‘Rabanne está usando metal, uau. Mugler me faz sentir como se eu estivesse em um circo! Ah, Gaultier tem esses colarinhos franzidos!’ Era uma representação do meu bairro e das pessoas ao meu redor. Agora é normal, mas naquela época, era mágico.”

basquete ditou minha vida desde o começo”, ele diz. “Aos seis anos, eu treinava quatro vezes por semana até chegar aos vinte anos. Minha mãe me deu essa mentalidade de ‘se você está perdendo por 10 pontos, ainda pode ganhar com 20’, o que se infiltrou no meu basquete e na minha carreira em geral.” Por 10 anos, Ashpool jogou no mais alto nível pelo time oficial de Paris, recusando oportunidades de seguir uma carreira no esporte pelo equivalente francês da NBA. Agora, ele treina o time juvenil local, Pigalle Basketball 9, e usou seu amor pelo jogo para continuar a unir esporte e moda.

Você descobrirá que Ashpool coloca quase todo o seu coração em Pigalle. Todos os planos que ele tem para sua marca giram em torno de fundir os mundos do esporte e da moda, seja através de espaços físicos, ativações locais ou roupas.

“Meu principal lema é usar a moda como um meio para criar coisas diferentes. Um show, uma trilha sonora, uma festa, uma quadra de basquete.”

Usar o basquete para unir a geração mais jovem reforça a noção de Ashpool como um criativo focado na comunidade. Sua quadra Pigalle foi inaugurada há mais de uma década, e agora, as crianças que jogavam lá já estão todas crescidas. “Nós ficamos juntos como uma família”, diz Ashpool. “Minha outra loja foi assumida por esse garoto de 22 anos, Theo. Eu o conheci na quadra quando ele tinha oito anos. Ele se parece comigo, na verdade”, Ashpool ri. “Ele é um criativo incrível agora, então eu dei a ele minha loja para desenvolver seu negócio.”

Ashpool prova, vez após vez, que o esporte pode ser usado como um veículo para a mudança social. “A comunidade é uma grande parte da identidade de Pigalle,” ele diz. “Ser autêntico a quem você é, é o mais importante. Estou tentando colocar palavras nas coisas que eu simplesmente faço sem pensar, mas sou alguém que é espontâneo — eu faço, e penso depois.”

E é isso. Apesar do seu currículo impressionante, Ashpool continua a evoluir e permanece humilde. “Eu sou um bom aluno, mas ainda sou um estudante, no entanto. Tento não planejar muito e ser independente. A liberdade é o melhor luxo, confie em mim. Minha vida é como um set de DJ, não um álbum que termina após 10 músicas.” O patriota francês nunca se afastou muito de suas raízes, seu povo ou sua casa. “Sabe, eu assisto ao sucesso de longe. É algo tão pessoal. Eu apenas bebo meu café e fico no meu próprio caminho.”

O QUE ESTOU OUVINDO:
MIKE, Wiki, Alchemist – Faith Is A Rock

Revisitei esse esses dias, minha definição de ‘música para fazer coisas’. Projeto independente, capa bonita, merch foda, artistas autênticos.

Sainté – Margiela

Já falei do Sainté aqui, gosto muito de tudo que ele lança e escuto diariamente. Tinha visto que essa música ia sair, mas ainda não tinha visto o clipe. E quando vi me deparei comigo e com o Qaslu 😂:

Detalhe para a garrafa de vinho vazia

E a música é bem foda por sinal. Esse dia foi o Fête de La Musique, uma das coisas mais doidas que já vivi.

O QUE ESTOU ASSISTINDO:
Zack Fox – The Lot Radio

Estava esperando algo completamente diferente desse vídeo e fui surpreendido positivamente. É um set de 1h só de músicas que poderiam ser usadas de samples pelo Alchemist. Coloquei pra tocar durante a janta, enquanto comia salame e bebia vinho e não poderia ter combinado melhor.

Using This iPod For 30 Days Changed My Life

Esse cara tem um canal muito foda que fala sobre música e agora está fazendo uma série de vídeos sobre como ter voltado a usar um iPod mudou a vida dele. Fala sobre consumo consciente, algoritmo, vício em redes sociais, banalização da arte e etc. Conteúdo muito muito muito foda.

Olimpíadas

Qualquer horário, qualquer modalidade. Simplesmente acordar e ligar a TV. Amo demais o jeito que esse evento mexe com nossas emoções. O esporte é muito foda. Mais legal ainda sendo transmitido pela CazéTV, uma revolução da mídia surgindo diante dos nossos olhos.

TWEETS DA SEMANA:

Achei que não ia encontrar nada pra trazer durante essa semana, mas no final gostei bastante dos conteúdos. Espero que vocês gostem tanto quanto eu. Já encontrei o local pro nosso próximo evento, mais informações em breve.

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