De corpo e alma: as pinturas de Heloisa

A complexidade dos sentimentos é amplamente retratada pela artista plástica natural de Carapicuíba, que resulta em pinturas abstratas, coloridas e naturais. Sua imersão no silêncio e na natureza a permitem mergulhar em si mesma e em suas inspirações para transformá-las em memórias concretas.

Foto por Juh Almeida

A natureza e seu próprio corpo são partes essenciais de seu processo criativo. Sua cura vem de dentro e também de seu entorno, que estabelecem conexões significativas e são refletidas em suas telas.

O alto ancorado no baixo, o fisico envolvendo o espiritual, o humano no inumano, 2021
A vontade de se jogar dentro da bola do sol e esperar ela contar sua história, 2021

Conversamos um pouco com Heloisa sobre seus processos, anseios, devaneios e expectativas. Confira abaixo:

1. Você mencionou em entrevistas que sua infância foi tranquila e que você estava frequentemente ao redor de pessoas mais velhas. Como essa experiência influenciou sua observação e prática artística?

Sim, minha infância foi cercada dos meus avós e seus amigos, então tenho muita influência deles hoje em dia. E com isso, a introdução de aulas de desenho de observação em casa com amigo da minha avó que ia até em casa para passar um tempo comigo desenhando, uma pessoa de muito bom coração porque minha vó sempre me conta que ele tinha muito prazer de ensinar tudo que sabia a mim mesmo que de uma forma muito inocente acho que isso ficou no meu corpo e que mais tarde pude desenvolver melhor esse lado artístico.

Foto por Vinicius Marques

2. Quando foi o momento em que você percebeu que a arte seria seu caminho? Como foi essa transição de relações públicas para artes visuais na faculdade?

Todo dia percebo ainda mais isso, parece que sempre é novo porque eu amo muito mesmo. Não tem nada que eu ame mais do que pintar e como isso é um caminho ou um casamento, quanto mais tempo tenho praticado mais inesquecível tem sido – um caminho mesmo, o que aprender diariamente e não tem uma chegada, ninguém está antes de você ou depois, cada um tem seus próprios recursos, vontades. Um caminho único demais: isso é o que mais me interessa.

Fiz apenas um semestre de relações públicas antes de ir para arte e acho que percebi que não sou das relações muito menos públicas. Foi simples e um risco que gostaria de correr, afinal sempre me senti muito livre dentro de mim. Não sei explicar, mas confio nas minhas escolhas porque apesar da insegurança financeira que eu tinha ao escolher artes, não queria me arrepender de quem eu não tive coragem suficiente de ser então eu fui.

Às vezes sinto que vale a pena ser salva, 2023

3. Suas pinturas são conhecidas por retratar a complexidade da identidade e da experiência. Poderia nos contar mais sobre o processo de construção das camadas de cor em suas figuras?

Tenho uma ideia da paleta que vou seguir a partir dos elementos que vou compor na tela, então sempre é uma paleta nova, porque vou conhecendo mais o mundo e colocando o que vejo dele, seja em cor, tamanho e formas. Acho que o processo criativo envolve muita intimidade com o que quer fazer, saber o que eu quero é minha construção de uma tela.

4. Quem você vê como inspiração? Seja no mundo da arte ou em geral.

Tenho muitas inspirações artísticas. Não paro de estudar, sempre conheço novas e me apaixono. Os nomes mais recentes que tem feito muito bem aos olhos são artistas como Max Ernst, Mark Bradford, Cecily Brown. E claro, meus amigos que amo sempre: Marcela Cantuária, Pegge – que já passou por aqui -, enfim, muitos nomes me emocionam.

Nunca fingir amor como as frutas com agrotóxicos, 2023
Antes de encontrar beleza me encontrei no que vejo em você, 2023

5. Como a natureza e a vida ao ar livre influenciam seu processo criativo? Há um lugar específico que você considera particularmente inspirador?

Acho que todos os lugares pouco modificados por nós humanos, são sempre mais interessantes para mim. Gosto de ver a história na terra, saber a diferença das vegetações em diversos lugares diferentes. Silêncio – Sempre amei o tédio, sou grande fã dele. Ao mesmo tempo que faço muitas coisas, quando estou de frente com um horizonte, montanhas, mar, cachoeiras… Sei que posso gostar mais de viver. Me dão esperança.

Foto por Juh Almeida

6. Você mencionou a importância de limitar sua exposição às redes sociais. Como isso afeta sua prática artística e seu bem-estar geral?

Hoje em dia eu acho que estou aprendendo a mostrar mais meu trabalho. Não me limitar a isso porque é impossível e um pouco utópico para mim porque meus amigos e família usam muito as redes e querem saber o que estou fazendo. Então uso também da forma mais antiga que usávamos antes, para mostrar o que estou fazendo ou onde estou. Não sei, sinto as redes sociais muito não sociáveis, superficiais, e não gosto de me apegar a uma realidade que minha vida exista sempre dentro de uma tela. Meu bem estar está ligado com meu dia a dia que passa bem longe da internet, então vivendo me pego muito mais satisfeita do que mostrar sempre ou reafirmar sempre quem eu sou para pessoas dentro de uma tela.

Foto por Juh Almeida

7. Seu trabalho tem uma forte conexão com o corpo e o movimento. Como as atividades influenciam a criação de suas pinturas?

Eu pratico atividades físicas diariamente, com peso, sem peso, corro, yoga, etc. Tenho muita vontade de cada vez mais fazer mais e ampliar mais esse meu hobby. Com uma ou duas horas do meu dia entregue a essas atividades, muda toda minha relação com minhas responsabilidades do dia a dia. Principalmente a corrida – quando tenho a oportunidade única de ficar em silêncio dentro da minha própria cabeça e simplesmente me concentrar em algo que demanda muito de mim, apesar de correr a poucos anos (acho que três) -, sinto que quero cada vez ser melhor nisso. Gosto também desse mundo: roupas, playlists, pessoas se juntarem, essa energia esportiva me faz muito bem.

8. Sua abordagem para a moda e vestuário parece refletir seu trabalho artístico em termos de expressão e praticidade. Como você vê a relação entre sua arte e seu estilo pessoal?

Eu gosto de me vestir bem e confortável e peças de brechó e tênis entram muito nisso. Não tenho um estilo e o sigo, mas vou montando o que eu vejo de bonito também nas telas, colocando meu “estilo” no meu trabalho: às vezes muito colorido, com uma cor predominando mais ou tons mais escuros. Gosto de flutuar nesse mundo.

A magia acontecendo enquanto não foi colocada uma forma de como vão entender o que você sente, 2021

9. Quais são suas expectativas e sonhos para o futuro da sua carreira artística? Há novos projetos ou colaborações que você está ansiosa para compartilhar?

Acredito que seria meu maior sonho pintar pelo mundo e expor no mesmo, conhecer cada vez mais artistas e fazer projetos de exposições dentro e fora do Brasil.

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