Quem foi o Zé do Caroço?

Jul 9, 2025

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Zé do Caroço foi José Mendes da Silva, um nordestino aposentado que se tornou figura querida e respeitada da comunidade no Morro do Pau da Bandeira, em Vila Isabel (RJ). Filho de uma diarista nordestina e um pedreiro, cresceu nos becos e ladeiras, virou líder do pavilhão na FEBEM e, aos poucos, tornou-se um personagem respeitado por toda a comunidade — não pela violência, mas pela palavra e pela capacidade de unir as pessoas. Ele instalou um sistema de alto-falante na laje de sua casa, o que permitia a divulgação diária de notícias úteis — desde avisos sobre tempestades, falecimentos, preços de feira, até horários de transporte — sem custo para os moradores.

O apelido “Caroço” vinha de uma condição de saúde: José desenvolveu caroços nas articulações, o que resultou em sua aposentadoria. Sua atividade chegou a gerar tensões: uma moradora, esposa de militar, teria reclamado do barulho do auto‑falante durante a novela, acionando a repressão da ditadura militar e desencadeando conflitos.

Essa história inspirou Leci Brandão, que compôs o samba “Zé do Caroço” em 1978–1985, celebrando o papel de José como líder comunitário que falava para o “mundo” da favela, muitas vezes em oposição à alienação da TV.

Sua vida e legado foram documentados em reportagens e depoimentos de pessoas que o conheceram — incluindo seu filho, Edmilson, e moradores da região. Eles lembram de José como precursor da comunicação comunitária, uma “rádio de chão” que plantou uma semente para práticas atuais como rádios coletivas e mídias populares.

A letra, além de contar sua história, faz uma crítica à alienação da população e a necessidade do povo de se organizar para lutar pelos seus direitos. Na época, o presidente era o General Ernesto Geisel, em plena ditadura. Por conta disso, Leci Brandão, que fez a música em 78, só conseguiu gravar em 85 em outra gravadora.

O samba se destacou, tendo sido regravado por artistas como Grupo Revelação, Art Popular, Seu Jorge (no álbum com Ana Carolina, 2005), e retomado em diversas versões até os dias atuais. Seu Jorge, inclusive, faz uma troca de palavras: “E na hora que a televisão brasileira DISTRAI toda gente com sua novela” por “DESTRÓI toda gente com sua novela”.

Editora e social mídia

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