Deadbeat, o disco de Kevin Parker depois de cinco anos
Kevin Parker volta com Deadbeat depois de cinco anos sem álbum próprio. Parker, um produtor obsessivo e compositor íntimo, traz em Deadbeat essas contradições de forma direta. O álbum foi lançado em outubro de 2025 e veio após uma série de singles que já anunciavam a mudança de direção, como “End of Summer”, “Loser” e “Dracula”.

A primeira diferença auditiva é óbvia. Onde em The Slow Rush buscava polimento e camadas infinitas, Deadbeat traz as guitarras e o padrão de sempre mas em muitos momentos cedem espaço à batidas secas, arpejos eletrônicos e linhas de baixo. Parker declarou que parte do disco foi gravado em fita e que ele queria permitir que as costuras aparecessem, que os erros fossem parte do corpo sonoro. A produção traz uma certa intencionalidade na imperfeição como sua escolha estética.

Tematicamente o álbum é um registro de desgaste emocional. As letras conversam com ausência, culpa e a vida em trânsito entre turnês e casa. Em faixas como “My Old Ways” e “End of Summer” a imagem que vem ao ouvido é a de alguém que contabiliza o próprio tempo perdido, que sabe a distância que a carreira impõe à família. Parker agora é pai e isso aparece nas linhas que mexem com responsabilidade e culpa. Em outros momentos, há autodepreciação assumida, voz que se baixa e confessa imperfeições. O disco se apresenta assim como espécie de inventário íntimo, com refrões que parecem pedidos de trégua consigo mesmo.
Sonoramente há duas fontes claras de inspiração que convergem: a cena rave australiana, os chamados bush doofs; e a tradição pop-dance que Parker trabalhou desde Currents. O disco pega o impulso das festas ao ar livre da Austrália e o traduz por um filtro doméstico.

É uma operação complicada e ambiciosa, já que ao flertar com o experimental e o pop, Kevin precisa ter em mente cada trecho que será significativo para tais representações. Algumas músicas atingem o equilíbrio com sucesso, outras soam deslocadas como “Dracula” com arranjos de voz, sintetizadores, mas ainda assim com um ar pop que desloca o início da faixa.
Há quem veja em Deadbeat um passo corajoso, uma forma de Parker se permitir vulnerabilidade depois de anos como produtor do pop. Ou então como um disco irregular em singles que funcionam melhor se comparados a parte central do álbum, com certas experimentações perdendo força ao longo da sequência.

Há sinais externos que ajudam a entender as escolhas. Parker vem de uma fase de colaboração intensa com artistas de pop e R&B. Ele carreou práticas de estúdio e técnicas de produção de grandes nomes para dentro de seu projeto solo. Ao mesmo tempo, lidar com filhos, turnês longas e crises de saúde auditiva o deixou em posição de repensar prioridades.
O título do álbum e algumas letras deixam claro que o tema central é a sensação de fracasso em cumprir expectativas, externas e internas.

No final, o ponto central é simples, Kevin Parker usou cinco anos para repensar a linguagem de suas músicas, e ao final de contas, o álbum soa como o esperado para 5 anos de pausa. A escolha por gravações mais cruas, por inserir elementos da rave australiana e por colocar a família e a falibilidade no centro das letras faz de Deadbeat um disco de tensão. O resultado é um álbum que precisa ser ouvido em condições distintas.
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