Y-3: A história de Yohji Yamamoto e sua ligação com a Adidas

17 de out. de 2025

-

Yohji Yamamoto nasceu em 1943, em Tóquio, no meio de um Japão que tentava se reerguer depois da Segunda Guerra. O pai morreu na linha de frente e a mãe, costureira, sustentou a família costurando roupas para outras pessoas em um ateliê modesto, o qual foi o primeiro contato real de Yohji com o tecido. Ele cresceu observando bainhas, consertos, cortes precisos e a relação prática entre roupa e vida.

A escolha de cursar Direito na Universidade de Keio veio mais de uma tentativa de seguir o caminho socialmente aceitável do que de vocação, mas depois de formado, percebeu que não queria aquela vida, assim voltou para casa e começou a trabalhar com a mãe, aprendendo a costurar e a moldar roupas com as próprias mãos. Pouco depois, ingressou na Bunka Fashion College, escola que formaria vários nomes centrais do design japonês moderno.

Nos anos 1970, a moda japonesa vivia um momento de redefinição.

Jovens designers estavam desenvolvendo linguagens próprias, distantes da lógica ocidental de glamour e sedução, é aí que em 1972, Yohji criou a Y’s, sua marca feminina, que se destacava por utilizar tecidos naturais, cortes amplos e um olhar mais atento à forma e ao tempo do que à tendência.

Foi também nesse contexto que surgiu sua relação com Rei Kawakubo, fundadora da Comme des Garçons. Os dois formaram não apenas uma geração, mas um eixo criativo que alterou a forma como Paris entendia moda.

No começo dos anos 80, Rei já vinha apresentando coleções que causavam impacto pela radicalidade estética, e em 1981 Yohji estreia em Paris, sendo imediatamente colocado ao lado de Rei como parte da chamada “invasão japonesa”. Ambos partiam de um mesmo ponto, a recusa em aceitar a estrutura ocidental como única via. Se Rei abordava seu conceito de maneira agressiva e conceitual, Yohji fazia isso de forma mais melancólica e silenciosa.

No início dos anos 2000, quando o streetwear começava a se aproximar do luxo e a lógica das colaborações se consolidava como estratégia cultural, a Adidas procurou Yohji para pensar em um projeto conjunto. O encontro parecia improvável, mas acabou se tornando uma das parcerias mais relevantes da moda contemporânea. Em 2002 nasceu a Y-3, linha que unia o corte e a precisão estética de Yohji à tecnologia esportiva da marca alemã. O projeto não foi lançado como cápsula ou edição limitada, mas como uma linha permanente, com desfiles próprios e calendário fixo.

A Y-3 marcou um novo momento na relação entre moda e como o esporte era visto. As roupas misturavam calças amplas de corte fluido com casacos longos, tecidos técnicos e tênis futuristas, criando uma linguagem própria que rapidamente se destacou tanto nas ruas quanto nas passarelas. Os tênis Y-3 anteciparam a estética high-tech que anos depois seria incorporada por diversas marcas de luxo, com silhuetas mais adaptadas a um olhar “atlético” como os tênis com mola, bolhas de ar ou o boost criado pela própria Adidas anos depois, produtos esses que passaram a se comunicar com a cultura de rua mas nasceram com o foco em performance. A escolha do preto, os volumes generosos e os detalhes de alfaiataria aplicada ao esporte criaram uma assinatura visual distinta, que permanece até hoje.

Entre as peças mais emblemáticas estão as peças produzidas para a seleção japonesa, as emblemáticas camisas realizadas com o clube espanhol Real Madrid, a colaboração com a marca londrina Palace, as inúmeras chuteiras especiais já lançadas até hoje e todas os produtos que levaram o padrão de qualidade e tecnologia da Adidas para um outro nível. A Y-3 abriu espaço para que o sportswear fosse lido com mais sofisticação e para que o luxo absorvesse códigos urbanos sem perder consistência.

A criação da Y-3 não foi uma ruptura em sua carreira, mas uma extensão lógica de seu pensamento aplicado a um novo contexto. Em vez de adaptar sua linguagem, ele a expandiu justamente em ter criado uma estética própria dentro de um território que, até então, era visto de forma limitada pelas grandes marcas. Yohji mostrou que o sportswear podia ser reinterpretado com rigor técnico e profundidade estética sem deixar de ser utilitário. E esse equilíbrio é o que mantém seu nome e sua obra em circulação até hoje.

Assistente de redação

Assistente de redação