AJULIACOSTA: os caminhos de “Novo Testamento”

Dec 9, 2025

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Sua inspiração vai além da música: ela busca diálogo com filosofia, cinema e audiovisual, refletindo sobre o cotidiano e o fluxo da vida. Em parceria com a diretora criativa e fotógrafa Correrua, Júlia se conectou com diversas referências, da fotografia e dos enquadramentos inspirados em Issa Rae de Insecure, às cores e técnicas de Jordan Peele, e até à estética de ‘Tailor Swif’ de A$AP Rocky, que consegue unir um clima urbano a uma narrativa distinta. O resultado transforma experiências pessoais em imagens que dialogam com a realidade de forma crítica e sensível.

O processo criativo de Júlia é uma extensão de quem ela é: observar a vida, absorver experiências e construir narrativas que misturam seriedade e humor. Contribuindo com o roteiro do clipe, a rapper ainda apresenta um outro lado da sua visão artística, mostrando que cada escolha estética é pensada para somar à cena do rap nacional e ao audiovisual brasileiro.

Conversamos com a Júlia sobre sua trajetória, referências e nova fase da carreira, e também com Fernanda sobre a construção do clipe, o processo criativo e os momentos mais marcantes dessa nova fase. Confira abaixo:

  • NOTTHESAMO: Quem é a Julia fora dos palcos?

Julia Costa: É uma mulher comum, que busca conforto, estabilidade e desenvolvimento pessoal. É algo muito importante pra mim conseguir acompanhar o ritmo da vida.

  • NTS: Quais foram os desafios mais marcantes nesse caminho até aqui?

JC: Acho que foram os desafios pessoais também, esses pontos chave da vida onde você escolhe para qual caminho você quer seguir; se você quer continuar nos mesmos hábitos ou se você quer fazer algo novo… E fazer algo novo é sempre desafiador.

  • NTS: Como você enxerga seu papel dentro do rap feminino hoje?

JC: Acho que o rap feminino é uma aliança, uma corrente. Muitas coisas aconteceram antes, muitas coisas vão acontecer depois, então eu me sinto uma participante para mudar algo no mundo. Acho que todas nós mulheres dentro dessa indústria somos participantes com vontade de mudar algo, com vontade de ter a nossa presença, ter a nossa voz e falando que a gente precisa ser escutada. Não sou a primeira, não vou ser a última, eu acho que eu sou uma dessas que fazem parte dessa corrente.

  • NTS: De onde surgiu o interesse para começar empreender? E qual foi impacto na sua vida?

JC: O empreendedorismo veio para mim pela escassez financeira. Eu não tinha dinheiro e eu queria ter. Eu sentia que o fluxo das pessoas ali na minha cidade não fazia sentido. Estudar, trabalhar e, enfim, se formar. Aquilo pra mim não fazia sentido. Foi de escutar o meu coração e de entender que eu não queria aquela realidade pra mim.

  • NTS: Em relação a sua nova fase, o que te inspirou a criar “O Que A Júlia Vai Ser?” e como surgiu a ideia do clipe?

JC: Durante todo o processo do Novo Testamento, eu estava estudando muito sobre filosofia, querendo entender as coisas, dialogar sobre elas, conversar sobre elas e o que a Júlia vai ser. É uma reflexão de tudo aquilo que eu vejo. E eu sei que as pessoas veem também, mas não se abrem para a discussão. Acho que as coisas andam muito fúteis ultimamente.

Eu acho que o que a Júlia vai ser foi um pouco disso, de entender como as coisas estavam funcionando, qual era o fluxo normal que as pessoas estavam seguindo, processos, como se fosse um passo atrás do outro, e eu ter a minha escolha e trazer isso para o diálogo.

  • NTS: Como foi a experiência de escrever o roteiro do próprio clipe?

JC: Pra mim foi ótimo, assim. Eu acho que o roteiro é uma extensão do que se diz na música. Então foi como se eu pudesse trazer uma outra forma de ver o mesmo projeto.

  • NTS: Como e quando você percebeu que queria seguir carreira na música?

JC: Sempre quis isso desde a infância. Mas eu acho que eu esperava muito o tempo certo das coisas. Mas eu sempre confiei muito no processo. Então foi uma coisa que veio de dentro de mim, eu não caí de paraquedas. É um sonho da minha alma mesmo, eu fui só ouvindo ela e seguindo passo a passo.

  • NTS: Qual é o processo de construção das suas músicas? Parte de suas vivências ou é um mix de tudo aquilo que você vem absorvendo?

JC: É um mix de tudo. Acho que é o mix das situações que a vida me coloca, é o mix de tudo que eu tenho observado, é o mix da minha vida também. Tem um pouco de cada coisa. Não acho que seja tudo sobre mim, nem tudo sobre o outro. Acho que é isso: eu sou uma espectadora da vida, e eu escrevo sobre isso.

  • NTS: Há alguns artistas, movimentos ou até mesmo obras que inspiraram a estética do novo clipe?

JC: Eu acho que os movimentos são os reais, que eu quis debater. Eu coloquei um pouco de Insecure, uma série que tem na HBO, sobre uma mina preta que queria ser rapper. Então ela parava na frente do espelho e falava. Tem também Não, Não Olhe!. Eu queria trazer um tom sério e cômico, como se a gente estivesse rindo da própria merda, sabe? Então, essas duas séries impactaram sim.

  • NTS: Em que lugar você acredita que o clipe acrescenta uma nova camada à sua trajetória artística?

JC: Traz seriedade para o que eu estou fazendo, é importante. Traz a seriedade que eu coloco no meu trabalho, o quanto eu aprecio a criação, o quanto eu aprecio audiovisual, e o quanto eu quero somar com isso. Não é só fazer, fazer para ser beneficiada, mas também somar para a cena do audiovisual brasileiro.

  • NTS: Se você pudesse dar uma dica para alguém, o que diria?

JC: Acredite no novo, no seu processo, na sua fase, e que o caos precede a ordem.

Perguntas Fernanda Corre Rua

  • NOTTHESAMO: Como foi trabalhar com a Julia na construção do clipe?

Correrua: Esse é o nosso quinto trabalho juntas e trabalhar com a Júlia é uma das melhores coisas que me acontecem no ano porque ela respeita a arte, respeita os departamentos e equipes e confia muito no meu trabalho. Acredito que amadurei muito ao longo dos anos estando com a Ju, e nesse clipe isso ficou nítido: pude executar uma pós complexa, planos e técnicas de filmes maduras cinematrograficamente que as pessoas só veem gringos ou a elite da publicidade no Brasil fazendo, trabalhar com a Dago que trouxe um trabalho muito rico e grande e afins. Com todo respeito? Subimos na mesa e mostramos que podemos e fazemos. Nos paguem.

  • NTS: Na sua visão, qual impacto o clipe tem para a carreira da Julia e para o Rap Nacional como um todo?

C: A Júlia impacta toda uma cultura e uma indústria. Não só feminina, mas a cena do rap mesmo no todo! As pessoas tem cada vez medo de expor suas ideias e exercer o pensamento crítico: o hip hop é político e sempre esteve do lado das minorias, foi assim que eu aprendi é assim que aliás me tornei uma pessoa politizada, por meio do hiphop. Pensar, de fazer arte, se ligou? Temos Queen Latifah, Spike Lee, KL Jay, Sharylayne, admiramos Miss Elliot… Hiphop potente, criativo e político. Então, sim, a Julia está sendo importante pra mim como essa pessoa que se mantem firme nas ideias, que constrói visuais maduros, que pensa na imagem como alguém que vive como ser humano que não tá com a cabeça no vento.

  • NTS: Se você pudesse dar uma dica para alguém, o que diria?

C: Vou aproveitar a deixa da dica pra puxar um poucos de referências: estudar sempre, consumir coisas saudáveis e que exercitem o seu cérebro, acordar cedo, fazer uma meditação ou exercícios e ir pro corre.

No clipe, por exemplo, usei muita técnica de cinema no misancene, colometria mas muito de linguagem, conceitos que aprendi na linguística como surrealismo mágico, metáfora crítica, realismo. Além das referências, como no banheiro, executamos a fotografia e planos que celebram Issa Rae de Insecure, as cores e técnicas de Jordan Peele ou até mesmo Taylor Swift do A$AP Rocky, que fez um clip urbano e mágico ao mesmo tempo.

Tudo isso alimentado a estudo diário e consumo positivo do meu dia pra quando chegar o trampo, amassar.

Writing assistant and social media manager

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