Emoção, visão e intensidade: a nova mixtape da MC Ktrine
Crescida na periferia, entre beats de YouTube, Ktrine sempre esteve rodeada pela música. Mas foi através do rap e no funk que ela estabeleceu suas bases. Ela encontrou sua voz aos 12, quando trocou os “type beats” por palmas e decidiu ser MC. Apesar da música sempre se fazer presente na sua vida, foi a partir daquele momento que ela se fez pronta.

Entre o funk consciente e o hip-hop, sua identidade foi moldada por suas vivências — próprias e alheias — e pela urgência de se expressar de forma mais autêntica. Sua nova mixtape, ‘Bandida Só Gosta’ traduz isso: uma obra que revela versões múltiplas de si, com faixas que funcionam como suspeitos de uma grande operação sonora e visual.
Conversamos com a MC Ktrine para além da mixtape, mergulhando na trajetória e processos que a acompanham até hoje. Confira abaixo.
NOTTHESAMO: Em qual momento a música entrou na sua vida? Teve algum momento-chave em que você sentiu: “é isso que eu quero fazer”?
Katrine: Aos 12. Quando tento me recordar de um momento-chave em que eu decidi, foi aos 12 quando migrei dos type beats do YouTube, onde eu nem me intitulava como cantora, e falei: vou ser MC e cantar na palminha. A música sempre esteve ali, mas pronta pra ela eu me tornei aos 12.

NTS: O funk consciente e o hip-hop sempre caminharam com você. Como foi esse processo de encontrar sua voz dentro desses gêneros?
K: Sempre estiveram ali. Acho que a gente se identifica e traz semelhanças do que mais ouvimos na infância. Meus tios consumiam muito rap, e o funk, tá ligado? Não tem como ser da quebrada e não ouvir.

NTS: Como foi crescer dentro da cena do funk paulista? Quais foram os maiores aprendizados que você retirou aqui?
K: Muito chave. Nunca temos proporções reais de como está nosso corre nas ruas, mas creio que estou fazendo algum barulho. De aprendizado, que tudo que você sonha é mais extraordinário do que a realidade. Aprender a observar o que você pediu e obteve, pra não perder o gosto da conquista, porque no sonho talvez poderia parecer maior.
NTS: Quais foram as principais inspirações — musicais, visuais ou emocionais — que te levaram até “Bandida Só Gosta”?
K: A minha maior inspiração é a vivência — minha, de outras pessoas — então acho que construo muito minhas paradas de acordo com o que estou vivendo ou observando os outros viverem. Musicalmente, gosto muito do trap dos meninos da Ehxis. Acho que, quando é pra surfar nessa vertente, são uma boa referência. E o visual se dá por cada faixa ter o seu personagem, então pensamos em montar uma “operação” contendo as faixas e cada “suspeito”.

NTS: Você diria que essa mixtape representa uma nova versão de você? Ou uma versão mais revelada do que sempre existiu?
K: Ninguém é uma coisa só. Nessa mixtape eu quis enfatizar esse outro lado pouco provável, que também carrega muito do que eu já mostro. Creio que, assim, estou percorrendo um caminho sólido para não me colocarem em algum nicho — porque ninguém é uma coisa só.
NTS: Como você se enxerga hoje dentro do mercado da música, especialmente sendo uma mulher na linha de frente do funk consciente?
K: Me vejo como alguém que está iniciando ainda, aprendendo, e graças a Deus se destacando. O foco é não ludibriar a mente com a fama, que vem antes da grana e costuma cegar do objetivo.
NTS: O que tem sido o maior desafio de se manter autêntica nesse corre da indústria?
K: Não vejo desafio. Não teria como eu ser outra parada, então marcha. Para quem não é original, o desafio é fazer igual.

NTS: Como é trabalhar com o pessoal do Ehxis Studio? Essa parceria mudou algo na forma como você constrói seus projetos?
K: A Ehxis é faculdade de artista. Nos traz outra perspectiva de projetos, de como lançar e fazer dar certo — projetos sólidos, inclusive. Meu coração mora lá.
NTS: Essa mixtape serve como ponte pro seu primeiro álbum. O que você já pode antecipar sobre o que vem por aí?
K: A mixtape foi uma última surfada por aí, pra poder trazer com o álbum a era “mãe do consciente”. Então esperem muita bigodagem, rap e funk do bom.
NTS: Se você pudesse dar uma dica para alguém, o que diria?
K: A dica é o corre.
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