Gustavo Lessa e as inspirações e caminhos até “Sereno da Via Light”

Dec 3, 2025

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Gustavo Lessa vive um momento de expansão após o lançamento de Sereno da Via Light. O rapper, que passou pelo maior intervalo criativo da carreira antes de concluir o álbum, descreve o projeto como um ponto de amadurecimento, um retorno mais consciente, mais exigente consigo mesmo e mais atento às contradições que acompanham a vida de um artista independente. Em “Slat!”, faixa que ganha videoclipe filmado no Palácio Gustavo Capanema, Lessa transforma em música essa tensão entre sonho e desgaste, entre os ápices de satisfação e os instantes de frustração que atravessam a construção de uma trajetória longe dos grandes centros do mercado.

O clipe, dirigido por Bruno Osório e Theo Andrada, leva essa camada ainda mais longe ao unir música, arquitetura e memória num único gesto visual. Revisitar o Capanema, onde ele havia se apresentado quase dez anos antes, cria uma linha do tempo que conecta seu passado na Baixada Fluminense ao presente artístico, reafirmando território como potência estética. Na entrevista, Lessa fala sobre esse movimento, sobre como o Rio molda sua visão, sobre referências que vão do hip hop novaiorquino ao cinema marginal e sobre a importância de transformar a própria vivência em linguagem que ecoa além do dito. A entrevista completa você confere abaixo.

NOTTHESAMO: Quem é Lessa Gustavo hoje, como artista e como pessoa, depois de “Sereno da Via Light”?

Gustavo Lessa: Acredito que o mesmo de antes, só que um pouco mais maduro, to me desenvolvendo há um bom tempo, esse é meu 20º projeto e desde que botei a cara pela 1ª vez nunca tinha ficado num hiato tão longo entre um lançamento e outro. Então deu pra amadurecer bastante coisa quanto a qualidade da entrega e expectativa mesmo.

NTS: Em que momento você percebeu que precisava escrever sobre os prós e contras de fazer arte, assim como na faixa "Slat!”?

G: É um papo repetitivo até mas como artista independente, às vezes temos que abrir mão de coisas básicas pra testar e viver o sonho. Vivi ápices de satisfação com a carreira, mas é claro que também existiram momentos de frustração, “Slat!” é uma coleção desses momentos contraditórios em cima de um instrumental muito bonito produzido pelo meu conterrâneo muitobomloopar.

NTS: O que significou pra você filmar no Palácio Gustavo Capanema, um dos marcos do modernismo brasileiro, especialmente depois de ter feito uma apresentação lá quase 10 anos atrás?

G: Foi uma viagem no tempo mesmo, esse prédio é da década de 40, ja abrigou e vivenciou muitas situações, estava fechado há 10 anos e quando o Bruno Osório (diretor) falou em rodarmos o clipe lá eu topei de imediato, acho que esse som e meu momento atual pediam algo do tipo.

NTS: Como a cidade e as diferentes partes do Rio de Janeiro molda sua visão de arte e sua forma de criar?

G: Eu sou nascido e criado na Baixada Fluminense, a parte “esquecida” do RJ. Muitas pessoas fazem o movimento Baixada-Centro diariamente, seja pra trabalhar ou tirar um lazer mesmo, essa situação sempre me influenciou muito. No álbum “Sereno da Via Light” eu quis levantar essa bandeira já no título. A Via Light é uma via expressa que sai de Nova Iguaçu cortando Mesquita, Nilópolis e São João de Meriti até chegar na Pavuna, que em relação a nós é o primeiro bairro da cidade do Rio de Janeiro.

NTS: O que você espera que o público absorva do clipe, além da música? Existe alguma camada “não dita” que você queria que as pessoas percebessem?

G: Acho que o não dito é experiência visual mesmo, a locação por si só é um trabalho de arte cheio de história. Só tenho a agradecer ao Theo Andrada e ao Bruno Osório por terem materializado esse videoclipe, é o primeiro de uma série que estamos fazendo que com toda modéstia do mundo, só eleva o nível da entrega.

NTS: Quais tem sido as suas referências para criar hoje?

G: Eu sou vidrado na história do hip hop novaiorquino, no cinema marginal, na arte contemporânea e nas adaptações que tudo isso tem nas periferias brasileiras.

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