Os 10 princípios do bom design por Dieter Rams

Jul 29, 2025

-

Dieter Rams nasceu em 20 de maio de 1932, em Wiesbaden, na Alemanha. Cresceu num ambiente pós-guerra profundamente marcado pela reconstrução e pelo desejo de redefinir os rumos da sociedade alemã. Seu avô, carpinteiro, foi uma influência direta e significativa: o trabalho com as mãos, a precisão artesanal e o respeito pelos materiais foram sementes plantadas desde cedo.

Inicialmente interessado pela marcenaria, Rams começou a se destacar ainda jovem por seu talento em trabalhos manuais, recebendo prêmios locais por sua habilidade. Isso o levou a estudar arquitetura e design de interiores na Werkkunstschule Wiesbaden (Escola de Artes Aplicadas), em um momento em que a Alemanha buscava uma nova identidade visual — moderna, limpa e funcional — em oposição ao caos e excesso do pré-guerra.

Começo na Braun e ascensão

Em 1955, aos 23 anos, Rams foi incentivado por um amigo a se candidatar a uma vaga na Braun, empresa alemã de eletrodomésticos que passava por uma revolução interna após a morte de seu fundador. Erwin e Artur Braun, herdeiros da marca, buscavam modernizar radicalmente a linguagem visual de seus produtos — e Rams foi peça-chave nesse processo.

Seu trabalho começou pelo design de interiores, mas rapidamente migrou para o design de produto. Em 1956, participou do redesenho do icônico SK4, um radiograma que rompia com o tradicionalismo da época ao substituir a pesada tampa de madeira por uma inovadora cobertura de acrílico transparente. O aparelho ficou conhecido como “Snow White’s Coffin” ("O caixão da Branca de Neve") e é até hoje um símbolo do modernismo funcional.

Em 1961, Dieter Rams foi nomeado chefe de design da Braun, cargo que manteve até 1995. Durante esse período, estabeleceu um dos portfólios mais consistentes e influentes da história do design industrial. Paralelamente, atuou na Vitsœ, marca de móveis com a qual desenvolveu o lendário sistema de prateleiras 606 — ainda em produção e comercialização até hoje.

A filosofia dos "Dez Princípios"

Nos anos 1970, incomodado pelo crescimento do consumismo e da poluição visual, Rams começou a se perguntar: “Meu design é um bom design?” Isso o levou a escrever os “Dez princípios do bom design”, também chamados de “dez mandamentos”, que se tornaram referência mundial:

  1. Bom design é inovador

    A inovação em design é sempre possível, mesmo em produtos tradicionais.

  2. Bom design torna o produto útil

    Um bom design realça a utilidade de um produto, sem desviar a atenção dela.

  3. Bom design é estético

    A qualidade estética é essencial, pois os produtos que usamos todos os dias afetam nosso bem-estar.

  4. Bom design torna um produto compreensível

    Ele esclarece a estrutura do produto. Melhor ainda: pode até “falar por si”.

  5. Bom design é discreto

    Produtos não são objetos decorativos. Seu design deve ser neutro e contido, para abrir espaço para a autoexpressão do usuário.

  6. Bom design é honesto

    Ele não faz um produto parecer mais inovador, poderoso ou valioso do que realmente é. Não tenta manipular o consumidor com promessas falsas.

  7. Bom design é durável

    Evita ser modismo. Parece atual mesmo depois de muito tempo.

  8. Bom design é minucioso até o último detalhe

    Nada deve ser arbitrário ou deixado ao acaso. Cuidado e precisão demonstram respeito pelo consumidor.

  9. Bom design é ambientalmente amigável

    Contribui para a preservação do meio ambiente, minimizando o impacto físico e visual ao longo do ciclo de vida do produto.

  10. Bom design é o mínimo design possível

    Menos, mas melhor — concentra-se nos aspectos essenciais, sem sobrecarregar o produto com elementos desnecessários.

Essa abordagem minimalista e funcional influenciou gerações de designers — incluindo Jonathan Ive, responsável pelo design do iPod, iPhone e outros produtos da Apple. A relação estética entre Braun e Apple é frequentemente citada como exemplo de continuidade filosófica.

Legado e impacto

Rams moldou não apenas produtos, mas uma visão ética e duradoura sobre o papel do design na sociedade. Ele acreditava que o design deveria “fazer o mundo melhor”, e não apenas bonito. Suas criações ainda são estudadas em escolas de design e reverenciadas em museus como o MoMA, em Nova York.

Sua trajetória é celebrada no documentário “Rams” (2018), dirigido por Gary Hustwit (mesmo diretor de ”Helvetica”), que oferece um olhar íntimo sobre sua vida e legado.

Hoje, mesmo aposentado e vivendo em sua casa modernista projetada por ele mesmo em Kronberg, Dieter Rams continua sendo uma voz crítica contra o desperdício, a obsolescência programada e a estética vazia. Seu mantra permanece atual: “Menos, mas melhor” (Weniger, aber besser).

Editora e social mídia

Editora e social mídia