Pharrell Williams e Chanel: a colaboração representa muito mais do que você imagina

É certo que Coco Chanel revolucionou a moda e emponderou mulheres no século XX com calças de alfaiataria e pelo uso de padronagens tradicionalmente vistas no vestuário masculino. Ainda assim, a designer permanece até hoje como uma figura controversa, antissemita e conhecidamente associada ao nazismo. Marco Haedrich, amigo de Gabrielle Chanel e autor de uma de suas biografias, chegou a afirmar que suas declarações eram antiquadas e embaraçosas.

Sob a direção de Karl Lagerfeld, mais uma figura polêmica a frente da marca, a Chanel se aproximou aos poucos do público masculino. Pharrell Williams, um dos ícones de estilo mais relevantes de nosso tempo, foi o primeiro homem a estrelar uma campanha de bolsas da maison francesa. E em 2018, depois de 109 anos desde a fundação da marca, Alton Mason fez história ao ser o primeiro modelo masculino negro a desfilar para a Chanel.

Williams e Mason quebraram uma tradição majoritariamente eurocentrada, ao mesmo tempo em que ajudaram a maison a se posicionar discretamente no mercado masculino. Sem grandes campanhas de marketing, sem coleções exclusivas a serem desfiladas no Pitti Uomo, a Chanel fez um movimento sutil e certeiro. Grande parte dos designs de Coco vieram das vestimentas masculinas, então o caminho contrário, hoje, faz total sentido.

A recente coleção cápsula com Pharrell Williams – a primeira da Chanel desde sua fundação – é mais um marco para o artista e mais uma jogada certeira. Há 10 anos, Williams apostou com um amigo que jamais conseguiria trabalhar com a Chanel. Hoje, a estampa localizada na parte de trás de uma camiseta traz a mensagem que o rapper enviou para o mesmo amigo, mostrando que estava errado e que seu sonho se concretizou.

Intitulada Chanel Pharrell, a coleção foi apresentada sem rótulos, como gender fluid, além de carregar em suas peças diversas cores que, segundo a marca, representam o otimismo. Os moletons, odiados por Karl Lagerfeld, aparecem com patches e bordados vindos diretamente da herança de alta-costura da Chanel. Camisetas gráficas, bolsas, roupões de banho, bucket hats, óculos de sol e tênis são alguns dos itens que compõe a colaboração. No entanto, o destaque ficou por conta dos colares de pérola, reinterpretados de acordo com a personalidade de Pharrell.

A campanha deixa de lado toda a elegância da marca e traz inspiração diretamente do anime Akira, de Katsuhiro Otomo, através da estética cyberpunk.

Mas, entre tantas opções de marcas com linhas masculinas, por quê alguns homens querem vestir Chanel? Talvez por tudo o que a marca represente na moda, ou talvez pela própria influência de Williams. O meu palpite é que o senso de exclusividade e raridade é o principal motivo. Independente disso, Pharrell Williams representa atualmente não só um grande talento musical, mas sim um entusiasta da moda que tem influência e poder o suficiente para quebrar os paradigmas de uma das casas de moda mais tradicionais da Europa. Vida longa, Mr.Williams.

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