10 anos de Mike Tyson por Lori Grinker

19 de nov. de 2024

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10 anos de Mike Tyson por Lori Grinker.

Nos anos 1980, em uma academia em Catskill, Nova York, a jovem fotógrafa Lori Grinker conheceu um Mike Tyson ainda adolescente. Esse encontro deu início a uma colaboração que resultaria em imagens icônicas e na carreira de ambos. Grinker, então estudante de fotojornalismo, visitava a academia de Cus D’Amato para um projeto acadêmico quando foi incentivada a fotografar Tyson. O treinador tinha certeza: o garoto seria uma estrela.


Agora, décadas depois, Grinker reúne suas fotografias em um livro intitulado MIKE TYSON: 1981–1991 e no portfólio MIKE TYSON PORTFOLIO (1981–88). As imagens, muitas inéditas, revelam um lado mais humano do boxeador. Entre as fotos, estão registros íntimos de Tyson ouvindo D’Amato, brincando com outros jovens ou celebrando sua primeira vitória mundial em 1986.

“Queria mostrar a transformação de um garoto tímido para um ícone mundial”, conta Grinker.

Embora o boxe não fosse seu foco inicial, a artista se fascinou pelo ambiente, descrevendo os treinos como uma “coreografia de dança”. Sua relação com Tyson evoluiu para uma amizade cheia de altos e baixos. Ele podia ser divertido, mas também temperamental – como na vez em que jogou um equipamento de Grinker na neve.

Grinker se concentra na ascensão de Tyson, do amador ao campeão mundial. Uma citação do treinador Cus D’Amato, incluída no livro, ajuda a explicar a combinação de habilidade e inteligência que fez de Tyson um fenômeno na adolescência:

"O soco de Mike é como uma bomba atômica, no sentido de que depende da natureza. Ambos não têm valor a menos que haja um meio de transmiti-lo ao alvo. Mike tem esse meio. Ele é esperto no boxe." - Cus D’Amato

Uma sequência de fotos de 1981 mostra D’Amato, o primeiro treinador de Tyson, sentado em um banco na academia em Catskill, Nova York, ensinando Tyson, que tinha 14 ou 15 anos. Em uma das imagens, D’Amato ergue os punhos em uma pose defensiva, com os nós dos dedos a poucos centímetros de suas sobrancelhas brancas.

Esse é o estilo peek-a-boo, uma técnica que transforma defesa em ataque, marca registrada dos lutadores treinados por D’Amato. Era uma peça fundamental do sucesso inicial de Tyson, integrando guarda alta, movimento de cabeça, jogo de pés e ângulos para permitir que boxeadores mais baixos se aproximassem de seus oponentes sem sofrer danos.

Sete anos depois, Tyson derrotou Michael Spinks em 91 segundos para se tornar o campeão indiscutível dos pesos pesados. Seu ataque foi implacável naquela noite: um golpe de direita no corpo derrubou Spinks pela primeira vez, e outro no queixo encerrou a luta segundos depois.

Em 1988, uma das fotos de Tyson feitas por Grinker estampou a capa da Sports Illustrated. “Eu estava no lugar certo na hora certa,” diz Grinker, “e continuei até ele ficar mais e mais famoso e se tornar instável. Ele começou a ser empurrado para todo tipo de coisa. Acho que se Cus não tivesse morrido quando morreu, as coisas teriam sido diferentes para Mike.” D’Amato, que adotou Tyson após a morte de sua mãe, faleceu em 1985, pouco mais de um ano antes de o boxeador se tornar o campeão mundial mais jovem da história dos pesos pesados, aos 20 anos e quatro meses.

As fotos no livro de Grinker abrangem uma década, terminando pouco antes da derrota chocante de Tyson para Buster Douglas em 1990 e sua prisão por estupro no ano seguinte. Tyson, então com 25 anos, foi condenado em 1992 pelo estupro de uma mulher de 18 anos em um quarto de hotel.

Mesmo assim, o crime grave (e a derrota no ringue) pouco afetaram o poder de atração de Tyson ou seu lugar no esporte após sua libertação. Ele alcançou números impressionantes em lutas pós-prisão contra Evander Holyfield e Lennox Lewis.

Tyson ainda é uma figura de curiosidade: seja pelos problemas legais, pela luta em que mordeu a orelha de Holyfield em 1997, ou pelas oportunidades perdidas que o perseguem como uma sombra. Ver novamente sua ascensão ao topo do mundo do boxe é ainda mais intrigante por causa do que veio depois.

Após anos acompanhando Tyson, Grinker deixou o fotojornalismo para explorar projetos narrativos mais pessoais, mas nunca perdeu a conexão com essas imagens. O livro e o portfólio não só capturam a ascensão meteórica e a queda de Tyson, mas também documentam o mundo do boxe e sua relação com a fama.