A Bahia pelos olhos de Isabela Seifarth
Natural de Salvador, Isabela cria e transmite narrativas através de suas pinturas. Com elementos e tradições comuns ao Recôncavo Baiano, ela conta um pouco da história do local onde nasceu, passou sua infância e se desenvolveu. Também formada em arquitetura, ela se possibilita “cruzar seus saberes para expandir os horizontes”.
Conversamos um pouco com Isabela sobre suas intenções e trabalho. Confira abaixo:
Você é formada em Arquitetura desde 2016. Como esse caminho da arte foi trilhado? Ele aconteceu antes ou após a faculdade?
Acredito que as duas coisas estejam interligadas, que seja um caminho conjunto. Penso na arte como projeto e conceito, e a arquitetura me deu caminhos para o processo de criação artística, e a arte me deu a liberdade. O processo da arte e da arquitetura foram trilhados juntos, é como enxergo hoje em dia. Tem algumas obras de arte que faço que me sinto um pouco arquiteta, um pouco artista, um pouco cenógrafa, um pouco vj, decoradora, historiadora etc. Cruzar o saber artístico com outros conhecimentos expande muito os horizontes.
Natural de Salvador, suas obras retratam o que está perto e o que você vive e vê. Como você procura traduzir tudo isso em suas obras?
Nós somos um pouco o que está a nossa volta, e para mim é muito natural que eu leve isso para o meu processo criativo. Eu trabalho criando narrativas ficcionais a partir dos recortes cotidianos por onde circulo. Salvador, Recôncavo Baiano, o Nordeste em si são lugares vivos e pulsantes, para poder criar, é preciso entender e sentir. Busco imagens em acervos públicos, privados e vou observando a vida cotidiana, e isso gera muitos camadas para o trabalho.
Suas obras são carregadas de elementos que se encontram facilmente pelas ruas da Bahia. Você acha que, acima de tudo, o produto final acaba sendo de um - quase que - imaginário coletivo?
Acredito que sim. Eu comecei a entender isso com mais firmeza neste ano, após realizar uma obra chamada “um altar para o São João”, comecei a receber um grande número de mensagens de pessoas falando o quanto haviam se emocionado ou ate mesmo chorado. Neste momento passei a entender a obra não como uma unidade, mas como um meio de afirmar memórias coletivas, eu não estava mais ali sozinha com minhas memórias, as obras a partir do momento que estão no museu passam a serem seres coletivos.
O Nordeste e, principalmente o Recôncavo Baiano, são lugares vibrantes de muito fervor. Como é seu processo criativo para representar essas manifestações culturais?
Minha família vem da cidade de São Félix no recôncavo baiano, lugar muito importante para a minha criação, lá o cotidiano se torna arte, é como sempre respirei esta região. Acredito em uma total influência do recôncavo, seja na vida cotidiana, ou pelos artistas que conheci lá, como Pirulito, Suzart, dois artistas e professores que me acolheram na escuta da profissão.
Suas telas nos transporta para um local vivo. Qual o papel que você sente que as cores desempenham nisso?
Pensar em cor, é tão importante quanto pensar no conceito da obra. E certamente, por viver na Bahia, em um clima tropical, acabo enxergando tudo de forma mais vibrante. Ao andar nas cidades de Salvador, Cachoeira, São Félix, temos muitas informações ao mesmo tempo, tanto no aspecto visual, quanto auditivo, muita coisa acontece no cotidiano e comecei a pensar o meu trabalho a partir disto, de uma estética herdada do barroco, o “horror ao vazio”. Acabo me apropriando deste conceito e pensando muita coisa da composição a partir daí, como as cores, usando uma gama enorme de cores que formam uma unidade no olhar.
Por fim, o que você pretende transmitir com suas obras? Quem você quer atingir?
É isso, acho que estou buscando essa memória coletiva, a partir da minha perspectiva de imaginários das possibilidades de Brasil. Quero viver, imaginar, pesquisar e me conectar com as pessoas.