Como uma das figuras mais cativantes do universo da música e da moda, Erykah Badu é uma artista criativa consolidada por sua visão singular e ativismo. Tendo sua ascensão na década de 90, a cantora rapidamente se destacou pela profundidade de suas letras e seu estilo que mescla referências da cultura do Hip-Hop e R&B.
Nascida na cidade de Dallas, sendo a irmã mais velha de seus irmãos, a cantora iniciou sua carreira aos 4 anos quando fez sua primeira aparição nas telas ao lado de sua mãe, Kollen Wright. Após 22 anos de sua primeira aparição, estreou o seu álbum “Baduizm”, marcando o início do movimento neo-soul, que faz uma fusão do espiritual com elementos de jazz, R&B e hip-hop.
Esse álbum deu a Badu o status de “rainha do neo-soul,” influenciando diversos artistas que surgiram através desse caminho que a cantora traçou. A cantora, inspirada por grandes lendas da música como Billie Holiday, Chaka Khan e Marvin Gaye, definiu uma estética própria dentro do estilo neo, indo desde de temáticas que exploravam sua vulnerabilidade, como melodias melancólicas através de letras mais afrocentradas - falando da experiência negra e feminina.
BADUIZM
Após lançar seu primeiro disco "Baduizm", a cantora ganha destaque em 97, marcando o início de sua trajetória musical e definindo que viria a ser o estilo neosoul. Ao lado de vozes influentes como D’Angelo e Jill Scott, a artista explora os gêneros do soul e do funk da década de 70, que juntamente com um olhar musical apurado, combinou-os com suas próprias influências - se estabelecendo como uma das promessas musicais de sua época.
Sob a influência de Baduizm, Erykah estava em alta em toda parte – desde os rádios dos carros até estampando capas de revistas - se destacando como um dos maiores sucessos daquela época. Sendo pioneira do movimento neo-soul, sua obra “Baduizm”, foi um dos pilares desse gênero, contando com a contribuição de Bob Power na produção do álbum. O lançamento se tornou uma referência para muitos álbuns e artistas que beberam da mesma fonte após a chegada de Badu.
A cantora encontrou uma paixão na simplicidade dos sons distintos - o "rim shot", uma técnica fundamental de bateria, que funciona com o bater na borda de metal e na cabeça da caixa simultaneamente para produzir um som cheio e explosivo. Para ela, isso foi um despertar criativo. Badu ligou para o produtor e compositor Madukwu Chinwah, perguntou o que era aquele "som de tique-taque" e pediu para ele compor uma base rítmica inteira com rim shot. E através disso, uma música nasceu.
Segundo a mensagem do álbum, o nosso mundo deveria funcionar como uma troca infinita de ideias em nossas jornadas, em processos de autodescobertas que não se encerram, mas vivem em uma constância de aprendizagem. A vida é um círculo, e, apropriadamente, o ponto final de Baduizm é o seu começo: “Rim Shot.” A essa altura, Badu já o levou em uma odisseia. O álbum a posicionou como uma artista em transformação, imune a categorias, cuja carreira é prova da capacidade da música negra de se transformar rápido demais para ser contida.
Baduizm se tornou um clássico instantâneo, vendendo mais de 3 milhões de cópias e ganhando dois prêmios Grammy. O álbum mesclou influências de jazz, funk e R&B dos anos 70 com uma estética que fazia referência a tudo, de The Color Purple aos ensinamentos do grupo Five Percent Nation. Badu se tornou um símbolo do que Kelefa Sanneh, no New Yorker, chamou de “cultura boêmia negra: politicamente consciente, espiritualmente orientada, classe média”. Ela e sua turma do neo-soul eram a personificação da "awareness" antes mesmo de existir uma palavra para descrevê-la. (Badu é creditada por muitos como a inspiração para o termo, usando a letra “I stay woke” em Master Teacher, de 2008.)
MODA
“Eu mesma escolho minhas coisas. Faço minhas peças ou alguém as faz para mim. Escolho no último minuto. É também parte do ritual me vestir para a ocasião. Sempre uso meus talismãs, meus amuletos, coisas que me fazem sentir confortável e empoderada. É para isso que me visto, para me sentir confiante.”
Erykah Badu em entrevista para Revista ELLE.
Badu, com um visual marcante e único, destaca seu estilo dentro da moda, através de seus turbantes, tecidos africanos e joias maximalistas; que definem seu estilo próprio assim como a identidade visual dentre seus álbuns, mostrando que há uma versatilidade para conseguir transitar em diversos estilos e se expressar maneira criativa e sincera.
Ainda em relação ao seu estilo, a artista expõe que agrega seu conhecimento da cultura africana sem tirar a profundidade de seus significados. Ela também comenta que havia um propósito em elementos como o turbante, a numerologia, os incensos e as velas no palco, muitos influenciados pela filosofia da Five Percent Nation. Essa filosofia, com raízes na nação do Islã, acredita que apenas 5% da população possui uma verdadeira consciência espiritual e social. Os turbantes, incensos e práticas como a numerologia refletem sua busca espiritual e compromisso com o autoconhecimento, ecoando uma filosofia que vê o ser humano como um agente de transformação e elevação espiritual.
O estilo de Badu se torna um reflexo autêntico de sua essência. Cada peça e acessório carrega um significado, conectando-a com suas raízes e sua espiritualidade. Para ela, vestir-se é um ritual de autoconfiança e expressão, revelando quem realmente é: uma artista que encontra força e verdade na própria imagem, sempre fiel a suas crenças e ao que a faz se sentir plena e conectada.
ERYKAH BADOULA E O REIKI
A artista está em constante contato com métodos espirituais, dedicando-se à busca por sabedoria e cura. Com todo seu conhecimento nesse ramo, Erykah realmente praticava o que pregava e levava seus estudos para a estrada, expondo os ouvintes a maneiras de pensar mais profundas e incomuns.
Sempre conectada com o universo espiritual, como líder espiritual, parteira, mestre de Reiki de terceiro grau e doula certificada, Badu conduz e trabalha com mulheres, amigas e até pessoas desconhecidas; contribuindo com gestantes do início até muito depois do parto, oferecendo aconselhamento nutricional, terapia de massagem, aconselhamento e cura energética. Além disso, doula ou “Badoula”, como ela declara, Badu está presente no nascimento de cada criança de suas pacientes, seja em uma cidade distante ou em casa, no hospital ou na floresta.
Focada também nos estudos de cristais, ela diz que, cada cor, cada frequência dos cristais está conectada aos chakras, que se conectam através de pequenos doses de minerais - com a nossa energia. “Estamos todos conectados, não apenas uns aos outros, mas com a matéria ao nosso redor,” diz Erykah, explicando que sua fascinação a levou a criar músicas em tons específicos que ressoam com certas frequências, como o chakra raiz, ligado à nota dó e à cor vermelha, simbolizando comunidade e base.
MÚSICA
Apesar de ser uma artista que trabalha muito com a espontaneidade, a cantora também possui seus processos. O seu processo criativo é profundo, de maneira que ela compõe e grava de forma fluida, levando muita das vezes a criar em meio às gravações. Uma das habilidades de Badu é de utilizar seu “feeling” como ferramenta para criar algo novo, como quando ela alterou a sequência das faixas de “Mama’s Gun” no último minuto; que exemplifica sua capacidade artística e vontade de traçar seu próprio caminho - independentemente de expectativas externas.
Além disso, a cantora sempre buscou criar uma abordagem que vai muito além da música, utilizando sua plataforma para promover diálogos significativos e espaços de reflexão sobre questões políticas e sociais. Erykah Badu levanta pautas de maneira crítica, abordando temas como a injustiça racial, o empoderamento da comunidade negra, a consciência de identidade e a resistência cultural. Em suas entrevistas, apresentações e letras, ela explora aspectos complexos das lutas e experiências de comunidades vulneráveis, incentivando seu público a refletir sobre questões de opressão, espiritualidade e liberdade pessoal.
Durante sua trajetória, o impacto da artista no meio inspirou e, inspira, gerações com diferentes artistas - contribuindo para novas visões e estéticas para o neo-soul. Suas obras influenciaram nomes como Jill Scott, Lauryn Hill e até artistas contemporâneos como SZA. Como uma artista multifacetada, Badu não só se aventurou no universo da artes voltado para a música, como também mergulhou na atuação em alguns filmes como “O que os homens gostam” e “The Piano Lesson” e na direção de videoclipes como "Window Seat” e "Phone Down” - comprovando ser uma artista que explora sua criatividade para além de uma única forma de expressão artística.
Álbuns como Mama's Gun (2000) e New Amerykah Part One (4th World War) (2008) solidificaram a carreira da cantora. Mama's Gun, em particular, é considerado um dos melhores discos da década de 2000, com canções como "Penitentiary Philosophy" e "Bag Lady", que buscam explorar os nuances de temáticas como amor, libertação e introspecção.
Dentre suas colaborações com grandes artistas, em específico a com Questlove e D'Angelo, foi um momento marcante e crucial para o desenvolvimento do neo-soul. Essa troca entre eles não só a beneficiou de maneira criativa, como também beneficiou os álbuns de outros artistas de renome, como o próprio D'Angelo, cujos discos Voodoo e Black Messiah são marcos dessa era.
Ao navegar por variados gêneros e épocas, é comum que alguns artistas podem acabar se perdendo durante a trajetória; no entanto, Erykah, é um exemplo que se preservou, mantendo sua autenticidade intacta, mostrando que, apesar de brincar com diversas personas em meio aos palcos e utilizar diferentes heranças musicais - tudo isso serviu exclusivamente como um tipo repertório que reafirma sua carreira e trajetória.
LEGADO
Hoje, a cantora continua sendo uma voz ativa e relevante no ramo musical, realizando suas turnês e realizando projetos criativos que inspiram seus fãs ao redor do mundo. Sobre Erykah Badu, não há dúvidas que ela é uma das figuras contemporâneas mais influentes; seu legado vai além da discografia, representando autenticidade, resistência e sendo uma mão guia para seu público - entregando obras significativas com a melhor das intenções.