Alexander McQueen e seus lockets de cabelo

28 de out. de 2024

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Alexander McQueen sempre foi ambicioso por abraçar uma narrativa excêntrica, um testemunho dessa vontade desdobra-se nos primeiros anos de sua carreira, onde Lee confeccionava as etiquetas feitas com plástico e cabelo humano. O designer britânico se formou na Central Saint Martins em 1992, e logo ganhou destaque no mundo da moda — sua coleção final na escola foi comprada inteiramente por Isabella Blow, editora de revista e uma das figuras mais influentes da indústria. Assim que lançou sua maison sob seu nome do meio, Alexander começou a moldar sua identidade como um dos maiores ícones da moda contemporânea.

PRIMEIRA COLEÇÃO

Jack the Ripper Stalks His Victims é a primeira coleção do designer, produzida como coleção de tese para seu mestrado na Central Saint Martins. A narrativa da coleção foi inspirada pelas vítimas do serial killer londrino do século 19 - Jack, o Estripador, com inspiração estética na moda, erotismo e nas práticas de prostituição da era vitoriana. A coleção foi apresentada em 1992 e foi Isabella Blow quem comprou toda a coleção. Ela futuramente se tornou amiga e musa de McQueen.

As notas do desfile diziam: "coleção de vestuário do dia para a noite inspirada nas mulheres de rua do século 19". Várias peças foram forradas com tecido que continha cabelos humanos encapsulados. Para as etiquetas, ele inseriu mechas de cabelo em quadrados de plástico transparente. O uso de cabelo humano fazia referência às várias práticas históricas: guardar uma mecha de cabelo como lembrança ou troféu, a prática vitoriana de prostitutas venderem seus cabelos e o uso de joias de cabelo para luto na era vitoriana.

“Eu usei isso como minha etiqueta assinatura, com mechas de cabelo em Perspex. Nas primeiras coleções, era meu próprio cabelo: era sobre eu me entregar à coleção.”

O uso do cabelo humano não era só mais escolha estética, mas um símbolo que carregava conexão e intimidade, de modo que ele demonstrava o sacrifício de dar uma parte de si mesmo dentro de sua coleção com seu próprio cabelo, tornando cada peça não apenas uma obra de moda, mas uma extensão de sua própria essência. Ele costurava os lockets cuidadosamente no forro das roupas, no intuito de trazer um toque pessoal e emocional às suas criações. As peças da coleção “Jack the Ripper Stalks His Victims” foram exibidas na abertura da famosa exposição "Savage Beauty" do Costume Institute em 2011, onde celebraram as obras mais icônicas do designer pela ousadia e profundidade de suas peças.

Apesar de ser poético o gesto de McQueen, a inspiração por trás vem da época vitoriana, um momento da história marcado por vestes extravagantes e uma moralidade rígida; quando prostitutas vendiam kits de mechas de cabelo, adquiridas por amantes para presentear e trocar como símbolos de carência e afeto. O estilista, com sua habilidade única de misturar o macabro e o romântico, transformou esse conceito em uma forma de arte que provocava reflexão sobre amor, perda e identidade.

Durante toda sua trajetória, McQueen desafiava as normas e padrões do tempo, com criações e desfiles teatrais, que transportava os convidados a uma experiência imersiva, carregada de emoções e narrativas complexas.

Através de suas criações, McQueen nos fez lembrar da fragilidade da vida e da importância das conexões humanas. E com a criação dos lockets de cabelo, vemos que o gesto realmente não era apenas um detalhe de design, mas um exemplo de sua busca constante por autenticidade e expressão pessoal.