All the Streets Are Silent: a Convergência do Hip Hop e Skate (1987-1997)
A indicação de hoje é um documentário de 2021, narrado por Eli Gesner, co-fundador da Zoo York. Com imagens de 1987 até 1997, elas mostram toda a juventude que ambientava a cidade de Nova York durante esses 10 anos.
Desde a abertura do clube Mars, o início do Stretch & Bobbito Show, o surgimento da Zoo York e o começo da Supreme, é possível ver como os jovens skatistas e o todo o movimento do hip-hop se aproximou. Além disso, com entrevistas mais atuais, conseguimos ter ideia de como a maioria das pessoas que esteve presente durante essa agitação da cultura é influente de alguma forma.
Eli Gesner, co-fundador da Zoo York, levava sua câmera para todo lugar e filmava o dia-a-dia de seus amigos. Convivia com os skatistas para consequentemente se aproximar dos graffiteiros. Na época, o skate ainda era visto pelo rap como algo de jovens brancos.
Quando você é da periferia, o skate não era tão importante quanto ganhar dinheiro.
Clark Kent, DJ no Mars.
Na década de 80, o punk, Warhol, Basquiat e Hering “morreram” e deixaram um vácuo na cultura de NY. Assim, a cidade começou a se movimentar e levantar a cultura novamente. “Os jovens skatistas, que amavam o punk, amavam o hip hop. Eu descrevo assim, é a mesma expressão mas dois tipos de apresentação. Por exemplo, os Beastie Boys, eles eram uma banda punk que se tornou hip hop” - Darryl, Run D.M.C.
Hip hop era o que os jovens escutavam pelas ruas, mas os clubes na cidade não abraçavam o gênero. Em dezembro de 1988, o clube Mars abriu suas portas e mudou o cenário. Yuki Watanabe era promoter e trouxe do Japão um modelo de negócio em que cada andar do clube era uma festa. Ele era amigo de Eli e queria envolver os jovens de alguma forma: a festa ‘Trip’ foi criada, por Eli Gesner e Damany Beasley.
A festa, que acontecia semanalmente, tocava de tudo: hip hop, reggae, jazz, R&B. Como Eli andava com os skatistas, eles começaram a frequentar o local, juntamente com os primeiros rappers, que apareciam para performar no clube e também gravar suas mixes. O hip hop na época produzia a trilha sonora da geração.
O hip hop foi definitivamente um catalisador para que nos tornássemos mais parecidos até certo ponto. Nós compartilhávamos a música.
Dres, Black Sheep
Q-Tip, Big Daddy Kane, KRS-One, Public Enemy, Guru, Ice Cube, Kool Keith, The Jungle Brothers, Kid Capri, DJ Scratch, Jaz-O, Jay-Z, Rakim eram alguns dos nomes que frequentavam Mars.
A festa no Mars começou a crescer e um novo DJ apareceu: Stretch Armstrong. Ele queria fazer um show numa rádio de hip hop. Se inscreveu na Universidade de Columbia e convidou Bobbito Garcia, A&R da Def Jam Records, para apresentar o programa com ele. Convidavam as pessoas para rimar, que não eram convidadas para a rádio normal, replicando a cena que acontecia no centro.
Eles deram oportunidades para outras pessoas brilharem.
Kid Capri, sobre o Stretch Armstrong and Bobbito Show
Infelizmente Mars tomou uma proporção muito grande e a audiência foi ficando cada vez menos familiar e muita violência ocorria. Resolveram fechar o local. Pelo sucesso da boate, Eli foi recrutado por Russel Simmons, da Def Jam, para começar uma linha de roupas do hip hop: Phat Farm e, junto com mais 2 skatistas, eles criaram a primeira linha de roupas do hip hop e streetwear.
Foi o lugar onde todas essas pessoas se reuniriam antes da explosão de oportunidades para todos nós. As grandes linhas de roupas, as grandes marcas, os grandes artistas, os grandes músicos, tudo. Começou com Mars.
Darryl, Run D.M.C.
Soul Artists of Zoo York ocupava as ruas de NY nesse meio tempo e foi uma das primeiras crews de skate e graffiti. Com o tempo, os skatistas resolveram criar sua própria marca, “Zoo York”, em homenagem à antiga crew. Eli, quem fez o graffiti da logo, se juntou com Rodney Smith, para representar a cultura de rua de NY.
Basicamente, adotamos essa abordagem e oferecemos a algumas crianças que talvez não tivessem a oportunidade de se tornarem conhecidas no skate, a chance de um impulso inicial.
Rodney, sobre tornar os skatistas profissionais.
"Lembro vividamente de encontrar James Jebbia na Prince Street e ele me apresentar a ideia da Supreme. 'Eu quero abrir uma loja de skate', ele disse. Eu respondi: 'Bom, porque não tem nenhuma loja de skate em Nova York. Precisamos de uma loja de skate.' 'Sim, vou fazer a minha como uma galeria de arte. Vai ser limpa e branca. E todas as pranchas vão ser as obras de arte.'” - Eli Gesner, sobre o começo da Supreme.
Com a Zoo York e a Supreme, que abriu em abril de 1994, os jovens tinham um lugar pra se reunir. Streetwear, skate e hip hop começaram a se juntar em algo único. A logo da Supreme, sendo um rip off da Barbara Kruger, visualmente conecta o skate ao mundo da arte, que a arte do skateboard deve ser levada a sério assim como qualquer galeria no SoHo.
Larry Clark frequentava os parques e casualmente tirava fotos dos skatistas. Depois de um tempo, ele veio com a ideia de fazer um filme, KIDS, sobre a vida dos jovens que fotografava. KIDS estreou em julho de 1995 e era como um documentário da vida dos jovens, parecia um comercial da Zoo York.
Eli tinha muito material guardado e começou a usar seus vídeos do pessoal rimando em cima dos vídeos de skate. Em março de 1997, a Zoo York lança sua “Mixtape”, o primeiro vídeo de skate a ter sua própria trilha sonora: do Stretch and Bobbito Show, de hip hop. O vídeo mostra como o hip hop e o skate eram tão relacionados.
Nunca poderíamos ter imaginado que toda a cultura que amávamos tanto, que era tão única para nós, que sentíamos ser realmente preciosa e apreciada por apenas algumas pessoas, se tornasse mainstream. O skate se tornou mainstream. Todas essas coisas que eram nossas, que eram nossas pequenas coisas, se tornaram mainstream. E saber que todos os filmes, todos os artigos, todos os documentários, toda a música, todo o talento que surgiu disso, tudo isso veio de um grupo muito pequeno de indivíduos dedicados, apaixonados e talentosos.
Rosario dawson