Cosmopolitan Boys Sunday Snippets #009
Foto de capa por Renell Medrano. Shanese Diana para ICE STUDIOS (2021).
07/07/2024, Domingo, 12:10 @ Centro, São Paulo.
Nem sei por onde começar… 3 semanas se passaram desde a última Newsletter, com certeza algumas das semanas mais transformadoras da minha vida. Minha primeira vez em Paris, minha primeira vez em Londres, minha primeira vez fazendo muita coisa. Um mundo inteiro de novas possibilidades foi aberto na minha cabeça e talvez isso seja o mais valioso da viagem. Conheci lugares históricos, lugares ricos, lugares pobres, lugares que sempre sonhei. Tive contato com dezenas de culturas e nacionalidades diferentes. Aprendi muito e também tive a oportunidade de ‘ensinar’ muito sobre a nossa cultura e realidade, o Brasil sempre era um tópico de conversa e conexão.
Uma das minha maiores preocupações era ter trocas genuínas e aprender o máximo que eu pudesse. E assim foi. Acho que quando você se doa de forma honesta, tudo parece se alinhar e as pessoas conseguem sentir seu entusiasmo. Imagino que grande parte das pessoas que leem o que escrevo não me conhecem tão bem, mas eu sou bastante tímido e na maioria das vezes não sou tão eloquente quanto gostaria, ainda mais em outra língua. Então foi um grande desafio abordar pessoas desconhecidas e desenvolver conversas densas, mas fico feliz de ter vencido meus medos e limitações.
Ao mesmo tempo que eu quero esbravejar tudo o que aconteceu, também não quero, ou talvez ainda esteja descobrindo o meu jeito de fazer isso. As pessoas constantemente me dizem pra falar mais, mostrar mais e etc, mas acho que eu não sou essa pessoa. Sempre tive vontade de fazer um Zine, um livro, ou algo do tipo e acho que essa é a hora certa. Algo físico que represente mais do que eu possa falar, é essa a pessoa que eu sou/quero ser. Então é isso que vocês podem esperar, ainda não sei quando, nem onde, mas vou atualizando semana a semana.
Voltando a programação normal, aqui está minha curadoria dos últimos dias, espero que gostem.
*Cada tópico está dissecado um pouco mais. Clique nas setas e/ou nos links.
COISAS QUE ESTOU LENDO
Cam Hicks on the World Building of Hicks
Samutaro é uma das páginas mais legais do Instagram e esse post com algumas aspas do Cam Hicks foi um dos mais legais que vi essa semana.
“Por mais que o termo diretor criativo tenha se tornado um clichê, eu realmente amo contar histórias. Especialmente para mim, crescendo na Virgínia, era difícil encontrar pessoas com a mesma mentalidade que realmente estivessem interessadas em criatividade.” “Eu tinha todas essas ideias que queria expandir, mas todo mundo na Virgínia dizia que só sabia apontar e disparar.” E assim, o YouTube se tornou sua universidade. “Senti que se eu aprendesse a fazer fotos, isso poderia ser um trampolim para eventualmente me tornar um diretor criativo.”
Mudando-se para Nova York em 2018, ele se conectou com Virgil Abloh em Soho, um encontro casual que se transformou em um trabalho fotografando para a Off-White. Mas foi seu tempo em Paris, fazendo fotos nos bastidores do show de estreia da LV, onde V o expôs ao papel de diretor criativo. “Ele disse que se eu fizesse fotos, ele me deixaria ser uma mosca na parede e aprender tudo o que ele fazia.”
“Quero criar meu próprio mundo, por isso comecei a @hicks” A marca funciona como uma plataforma criativa para realizar sua visão mais ampla.
…seus bonés assinados que levaram seis meses para serem aperfeiçoados. Cada um vem bordado com o slogan “Act Like You Been Here Before” - um conselho que seu pai lhe deu sobre entrar na indústria. “Tem funcionado e sempre ficou comigo.”
Mikey Krzyzanowski Talks Cars, hugo and Friendship
Aqui vai uma boa história da viagem:
Acompanho o trabalho do Mikey há bastante tempo na internet, e quando vi que ele estava no Rio ano passado, conversamos a conversar. Ele me contou que vem ao Brasil praticamente todo ano há uns 6 anos e que mantém um projeto social de Surf na Rocinha junto com o seu amigo Nick (dono da Always). Desde então, falávamos esporadicamente, cheguei a comentar sobre talvez estar indo pra Europa no meio do ano, mas não combinamos nada. Eis que nos encontramos na rua em Paris, por acaso. Ele parou pra tomar açaí em frente de onde seria a pop-up da Survival.
Logo ao me ver ele foi a pessoa mais legal do mundo comigo, ficou muito feliz em finalmente me encontrar (e eu também), me abraçou com muito entusiasmo, pediu pra tirar foto da jaqueta da Quadro que eu estava vestindo, pediu pra tirar foto minha em frente ao Oak Berry. Foi uma interação rápida, ele tinha muitos compromissos com a New Balance, tinha construído um showroom pra eles durante o Fashion Week e precisava ir, mas me deu seu número e pediu pra avisar quando eu chegasse em Londres.
Trocamos mensagens praticamente todos os dias, mas só deu certo de vê-lo de novo no meu último dia em Londres. Ele me chamou pra colar no escritório da open! (seu estúdio criativo) perto do meio dia (precisava ir embora as 16h, guarde essa informação) e eu fui. Mais uma vez, ele me recebeu com todo o carinho e entusiasmo do mundo, tive uma das conversas mais legais de toda a viagem lá. Me contou sobre tudo o que eles fazem lá, os projetos que está envolvido no momento, sua relação com o Loyle Carner e me perguntou sobre o Brasil como ninguém tinha antes feito. Apesar dele vir pra cá todo ano, o Rio é a única cidade que ele conhece e seu contato é muito mais com a comunidade local de onde tem o projeto de surf, sendo a barreira da língua uma grande questão. Então ele ficou muito feliz por conseguir conversar em inglês e com alguém que entendia das mesmas coisas que ele. No meio da conversa, como se tivesse tido uma epifania, ele pegou o telefone e fez uma ligação. “Oi, tá no QG? Tô com uma pessoa que você precisa conhecer. Ok, indo aí” e avisou que nós íamos no escritório da Always. Mas antes, me deu todo os merchs e materiais possíveis do hugo, álbum que ele fez a direção criativa. O livro do projeto com a dedicatória dele foi um dos presentes mais legais que já ganhei na vida.
Então descemos e fomos a pé pro outro escritório. Chegando lá, todas as pessoas da Always também tinham a mesma energia, nos conectamos logo de cara e conversa fluiu muito bem, sobre tudo, mas principalmente sobre o Brasil. Eles nos levaram no estoque e falaram que podia pegar o que quisesse, o Nick não parava de andar de um lado pro outro, abrindo caixas e entregando coisas na minha mão. Quando me dei conta, eram 15h e eu estava com uma sacola com muito mais coisas do que cabiam na minha mala, que já estava fechada e cheia. No final das contas eu dei um jeito e deu tudo certo.
Mas enfim, contei essa história toda pra falar sobre essa entrevista que o Mikey deu para a Wonderland, explicando sobre o processo de ter criado o último álbum do Loyle Carner junto com ele. Acho que é uma ótima representação de como ele é e da sua energia. Provavelmente sou o seu fã nº 1. Alguns trechos traduzidos:
O escopo moderno da arte vai muito além de uma única disciplina. Se houve uma época em que o talento musical moderno estava no auge da aclamação, esse tempo já passou. Agora, o desejo de encapsular os consumidores vai muito além do puro ofício; o conceito é fundamental para aqueles que se destacam no mercado abarrotado.
imaginando uma forma de arte que depende de uma visão que coexiste com a música.
Quando nos encontramos, ele me contou sobre crescer com TDAH e quanto alívio encontrou através da culinária. A partir desse ponto, começamos a planejar o primeiro Chilli Con Carner – uma escola de culinária para jovens com TDAH. Esse projeto tem sido realizado quase todos os verões desde então. É tão bonito ter um projeto comunitário como o núcleo de nossa relação de trabalho. Acima de tudo, a escola de culinária é sobre mostrar a outros jovens que eles também podem fazer isso. Isso é algo que importa muito para ambos em tudo o que fazemos.
Sempre trabalhamos de forma colaborativa; e o passo para diretor criativo me ensinou muito sobre apoiar a visão de um artista, em vez de impor a sua própria.
Às vezes, estar presente em uma caminhada de 20 minutos pode agregar mais valor a um projeto do que dias e dias de 'trabalho'. Então, acho que respondendo à pergunta; de que maneira trabalhamos juntos de perto? Nós conversamos! Com honestidade, vulnerabilidade e confiança. Amizade!
Dia a dia estou trabalhando em um mix de projetos com meu estúdio, open! (open-open-open.co). Desenvolvendo ideias ao redor da moda, música e design. Nós temos muito este ano. Realmente e verdadeiramente, eu só espero que construamos uma casa no Brasil. Paz!
Essa entrevista é incrível e recomendo muito a leitura completa. A The Fader mediou uma conversa entre a Little Simz e a Erykah Badu falando sobre família, religião, carreira, fama e etc. Sou muito fã das duas e a conversa é muito rica. Meu primeiro contato com a Little Simz foi há uns 10 anos atrás, através dessa música que só existe informalmente na internet e é uma das minhas músicas favoritas desde então. Acho que grande parte das pessoas conheceu ela por Top Boy, mas vale a pena a imersão no seu trabalho musical e nos seus clipes. É uma das melhores rappers atuais. Alguns trechos da entrevista traduzidos:
Conexão astrológica à parte, há um vínculo inegável entre a dupla. Erykah e Simz alternam entre uma energia de irmã mais velha e irmã mais nova, depois mentora e aprendiz. Às vezes, elas são apenas duas mulheres negras que entendem um nível de sucesso na música que poucos jamais conhecerão.
THE FACE: Como foi a conversa quando você decidiu abandonar a universidade para seguir a carreira musical, Simz?
S: Não foi a mais fácil. Eu só tive que mostrar para ela [que] se eu estou abandonando, não vou ser uma vagabunda ou não fazer nada na minha vida, sabe? Estou abandonando porque realmente quero tentar isso. [Para minha mãe foi] confiar em como você cria essa pessoa [e acreditar] que vai dar certo, vai ficar tudo bem. E agora estamos meio que aqui...
Também sinto um novo surto de algo, sinto-me mais energizada. Estou aceitando mais desafios. [Especialmente] agora que sei que a vida estará constantemente apresentando-os. Nos meus vinte anos era tipo, o quê? Um golpe [negativo] daqui e um golpe daqui, mas agora eu entendo: ah, é a vida – isso acontece constantemente.
Eu sou uma pessoa muito quieta. Nunca fui a mais barulhenta da sala. Nunca fui extrovertida. Encontro conforto na escrita, [e isso] surgiu desde cedo. Mesmo quando eu costumava perguntar à minha mãe [se eu poderia] ficar na casa de alguém, eu costumava escrever na forma de uma carta. Sempre foi mais fácil para mim escrever as coisas.
E: Há alguma prática específica que sua mãe lhe ensinou que você se vê recorrendo ou voltando a ela?
S: Oração, com certeza. E ouvir a Deus. Acho que o outro termo para isso seria meditação. Quando você reza, é sua oportunidade de falar com Deus e, quando você medita, você ouve. Falar e ouvir a Deus, isso foi instalado desde cedo.
E: Você se sente visivelmente mais calma e em paz quando está cercada por sua família [ou] amigos em eventos e coisas?
S: Sim. Especialmente porque sou uma pessoa quieta e às vezes temo que isso seja interpretado como antissocial ou distante, embora essa não seja minha vibe. Se não há nada para falar [então] não vou falar. Mas como minha família e amigos sabem muito sobre mim, eu apenas relaxo com isso.
S: Todo artista tem um ego porque são artistas. Quanto você se apoia nisso? E você sabe quando removê-lo?
E: Ego é uma coisa mais intrincada do que eu pensava. Ego não é apenas uma parte da sua personalidade que é carente. Ego precisa de uma identidade, precisa de um conflito, precisa de todas essas coisas para ajudar a continuar a identificar esse personagem que você se tornou. É mais profundo do que isso porque começa a tomar conta da minha mente. O ego quer se apegar a qualquer coisa que lhe dê identidade. Isso o alimenta. Quando dizem que você pode alimentar os dois lobos, aquele que você alimentar será o mais forte. Sinto que me apoiar nos meus valores familiares me ajudou a tomar decisões melhores.
THE FACE: Você pode explicar mais sobre “sair do caminho” da sua música e arte? S: Às vezes eu atrapalho e não é necessário. Ser um recipiente é realmente permitir que algo passe por você. Mesmo que você não entenda naquele momento, permita que passe por você e deixe ir o controle. Está tudo bem em assumir o comando. Como estávamos dizendo antes, você percebe que é responsável por todas as criações e ações da sua vida. Mas eu também acho que existe algo como permitir que as coisas sejam e ver as coisas até o fim.
Aprendendo a ser um pouco mais paciente. Posso ser impulsiva – se eu quero, quero que seja feito agora. Não gosto de esperar pelas pessoas. Eu mesma faço. Mas levar tempo, dormir sobre as coisas [também é bom]. Eu acordo de manhã e penso: na verdade, eu nem me sinto mais assim. Fico feliz por ter dormido sobre isso.
S: Acho que algo de que realmente me beneficiaria é ser [mais] honesta, [ter] mais conversas como esta. Às vezes eu entro em espaços e gosto de fazer perguntas e genuinamente amo ser uma esponja, absorvendo informações – especialmente quando a pessoa é fascinante ou tem uma história interessante, eu só quero saber. Quero aprender. Eu adoraria que mais espaços fossem criados onde eu pudesse fazer perguntas sobre coisas como você disse – você passou por isso e [agora] eu estou passando por isso.
Não para dizer que você vai me dizer para fazer assim ou que eu vou seguir totalmente o seu caminho. Mas conhecimento que não é compartilhado é quase desperdiçado. O que eu faço com essa informação depende de mim. Mas poder saber, ou poder ser mostrado que não é o único caminho, seria útil para minha vida em geral.
THE FACE: Com esse conhecimento, experiência e visão, Erykah, você tem algum conselho para Simz?
E: Não acredite nessas coisas negativas que as pessoas dizem sobre você – e acredite apenas na metade das coisas boas, porque todo mundo tem uma agenda. Não perca o foco da sua voz interior. Vocês estão enfrentando muita adversidade com as redes sociais. Às vezes eu quero simplesmente pular pelo telefone nas pessoas. Eu tive que aprender [que] essas pessoas [online] não te conhecem e todo mundo tem uma opinião... Mas [com] todas essas coisas, as pessoas estão em uma missão para nos acorrentar, para provar que estamos errados, para provar que você é tão comum quanto eu sou. Para provar que o que você está fazendo não é dinâmico. Mas eu conseguia ver através disso: eles querem investigar suas falhas mais do que as coisas que são ótimas sobre você. Meu conselho: isso não importa nada. E eu sei que todo mundo diz isso. Mas é uma coisa real.
O QUE ESTOU OUVINDO
Essas são as playlists oficiais das lojas da Aimé. ‘214 Mulberry’ é o endereço da primeira loja, localizada em Nova York.
Não consigo nem explicar o que eu senti indo na loja deles em Londres, é uma das coisas mais fodas que eu já vi. O ambiente, o cheiro, a trilha sonora, a decoração, os vendedores, as obras do Slawn espalhadas pela loja… E ainda tem um segundo ambiente que é um café, cheio de coisas da Grécia pra vender - país de origem do Teddy Santis - e fotos antigas da sua família espalhadas por todos os lugares. Não bastante, um amigo que trabalha lá ainda me levou na parte privada da loja, onde foi gravado o clipe de Sprinter, ficamos lá quase duas horas conversando sobre a vida.
Desde então, vou ouvir essas playlists trabalhando todos os dias pra manifestar ‘o estilo de vida Aimé’. Não vejo a hora de conhecer a de NY.
James Blake, Lil Yachty - Bad Cameo
Colaboração inusitada entre Yachty e James Blake. Sempre gostei de todas as vezes que o James Blake se aproximou do rap e agora temos um disco colaborativo com um dos rappers mais legais e diferentes da cena. Eu particularmente tô bem cansado de músicas genéricas e gosto muito dessas experimentações, mas sei que não vai ser pra todo mundo.
Completamente atualizada, depois de bastante tempo. Tenho procurado consumir muito mais mulheres e artistas que não sejam americanos. Essa realmente é minha trilha sonora do dia-a-dia. Espero muito conseguir chegar em 200 salvamentos esse mês.
COISAS QUE ESTOU ASSISTINDO
Já falei do Canoopsy e da cena criativa de Toronto aqui outras vezes. Esse vídeo é um dos criadores que eu mais gosto apresentando uma das cidades que mais tenho vontade de conhecer. Não poderia ser melhor.
Loyle Carner - Hugo: Reimagined
Álbum do Loyle Carner reinterpretado para uma performance ao vivo no Royal Albert Hall. Como se fosse um DVD de show que se fazia com mais frequência antigamente. Muito muito foda.
TWEETS DA SEMANA
É isso, obrigado por ter lido até aqui e espero que tenha gostado. Estou completamente energizado e renovado criativamente e tenho muitas ideias pra executar através do Cosmopolitan Boys. Fico feliz de perceber que cada vez mais tenho criado um caminho próprio e diferente, quero construir uma comunidade cada vez maior. Uma das maiores lições que trouxe de fora foi a capacidade deles de colaborar com marcas/empresas e fazerem coisas fora da caixa, acho que temos um longo caminho pra trilhar no Brasil sobre isso, mas estarei nas trincheiras.
OUTRAS EDIÇÕES:
https://open.spotify.com/playlist/2Nl1EW19QTm3t5QMA6eLtM?si=4b55e5a881ff4376
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