Diga quem você segue que direi quem você é
O que será da influência digital no mundo pós pandemia?
Para algumas pessoas isso pode soar óbvio, para outras um exagero, mas o lance é que quem você assiste os stories todos os dias e aparece no seu feed do Instagram com frequência exerce uma grande influência nas suas decisões e na maneira como você se sente.
Ultimamente temos visto vários casos de influencers que estão cometendo erros vergonhosos aka metendo o loco nessa crise toda do Coronavirus, seja minimizando a gravidade da situação ou romantizando a quarentena e espalhando o discurso de que temos que encarar esse momento como uma oportunidade de renovação & autoconhecimento. Mano, a gente só quer chegar vivo ao fim disso tudo.
Talvez você esteja deitado no sofá de casa e pense: “sim, é exatamente isso que eu quero ver, a bonita pedindo delivery de restaurante caro todos os dias”, mas provavelmente não é isso que vem acontecendo (inclusive, a gente torce pra que não). Estamos (ou deveríamos estar) intolerantes à superficialidade, indignados com qualquer pessoa que apareça agindo como se nada estivesse acontecendo.
Os influencers têm uma audiência cativa de pessoas que, atualmente, estão em pânico, coladas à internet o tempo todo, buscando ajuda pra processar esses horrores que não param de aparecer. Mas, em vez disso, encontram aquele cara postando mais um tênis que ganhou da marca X ou morrendo de tédio em sua mansão.
https://www.instagram.com/p/B-S1rJBneeM/?utm_source=ig_embed
Kylie Jenner entediada em sua mansão com um par de Dunk Low Pro SB 'Cherry' de 2.400 dólares nos pés
E é nesse momento que a gente se pergunta: qual é o real papel dessas pessoas? O que elas podem e devem fazer? Se posicionar é uma obrigação?
Bom, muitos influenciadores ganham dinheiro exibindo suas vidas, geralmente com o argumento de que estão compartilhando dicas preciosas (quase sempre com um produto ou serviço por trás), coisas que vão nos deixar tão leve e feliz quanto eles (com a diferença de que nós pagamos por aquilo que eles ganham). Normalmente, eles são enaltecidos por "usarem suas plataformas" para "conscientizar" e “entreter” a sua “comunidade” e é exatamente por isso, que esperamos dessas pessoas algum conteúdo útil nesse momento tão difícil. Afinal, não seria hora de fortalecer os laços de confiança que foram feitos com os seguidores quando tudo tava bem?
Inclusive, do lado de cá – de quem segue – já que vamos continuar acompanhando essas celebridades é melhor que a contribuição delas, de fato, colabore para a amenização dos sentimentos ruins que estamos carregando e/ou seja divertida o suficiente para nos distrair desse sofrimento.
Nós, consumidores de conteúdo, temos que cobrar que os influencers exerçam esse papel fundamental durante a pandemia, de atuar como agentes na contenção do nosso desespero pra, pelo menos, diminuir um pouco do impacto negativo disso tudo em nossas mentes por meio de conteúdos leves, dicas úteis e, principalmente, empatia com quem não pode pedir delivery todos os dias, nem tem um apartamento enorme pra passar a pandemia ou anda sem ânimo algum pra fazer 37 cursos online durante a quarentena.
É isso que chamamos de ressignificar a presença dessas pessoas em nosso dia a dia.
Começar a acompanhar quem tem uma vida mais parecida com a sua, que vá te entregar um conteúdo contextualizado, não totalmente fora da realidade.E é claro que nem todo mundo tem que falar sobre a pandemia 24/ 7, mas é preciso sim compartilhar (o que quer que seja) de forma mais realista, que converse com a situação atual. Reorientando o seu posicionamento pra se mostrar mais autêntico, sem alienar seus seguidores com posts que não façam sentido algum com o momento. Afinal, é insensível demais postar “comprem essa camiseta com o meu código de desconto!” quando tá geral assistindo a economia piorar a cada dia.
| Continuaremos a comprar como se não houvesse Coronavirus?
Seguidor, você sustenta esse mercado, o seu botão de follow vale ouro. Então aproveite esse momento pra dar uma limpa nos perfis que você acompanha, dê unfollow em quem nunca se colocaria no seu lugar, quem mantém um estilo de vida tão surreal que, mesmo em plena pandemia mundial, não consegue entender a gravidade e, muito menos, consegue se manter relevante.
https://www.instagram.com/brucehatoo/
E pra você, querido influenciador, o nosso conselho é que você entenda que a “influência” que lhe foi atribuída inclui também um enorme senso de responsabilidade; seu post incrível-sem-defeitos com legenda do tipo “covid-se” não ajuda; nunca foi tão importante estimular conversas relevantes, abandonar a estética impecável e abraçar a vulnerabilidade em que todos estamos.
Não adianta tentar ser neutro demais ou, pior, não se manifestar sobre a pandemia e seus problemas – seus seguidores foram influenciados quando você tentava vender um produto, então não ignore a força da sua influência logo agora.