Entre texturas e Brutalismo: Abzorb 2000 e novo editorial da Quadro Creations
Inspirada na ideia daquilo que se aperfeiçoa no silêncio, a nova coleção da Quadro propõe um mergulho nos processos, texturas e escolhas orientadas pela intenção. Trata-se de um resgate aos códigos que definiram a linguagem da marca — agora refinados e revisitados por meio de formas precisas e estruturas que comunicam com simplicidade.

O editorial foi realizado na Casa Abzorb São Paulo, um espaço que representa a estética proposta pela coleção: equilibrando o brutalismo com o sensível, o rígido com o funcional. É nesse ambiente, marcado pelo concreto e pela luz natural, que o Abzorb 2000 assume um protagonismo sutil — um tênis que incorpora inovação e uma nova perspectiva sobre o cotidiano nas metrópoles.

Conversamos com Lucas Borges, diretor criativo da Quadro, sobre os caminhos por trás da coleção, os desafios de construção das novas modelagens e a importância de manter coerência sem abrir mão da experimentação.
Confira abaixo:
Modus Operandi parte de uma ideia de daquilo que se aperfeiçoa no silêncio. Como vocês traduziram esse conceito nas formas, texturas e materiais dentro da coleção?
O tema e a coleção nascem de um exercício de pausa e reflexão — do resgate do que já foi feito somado à vontade de seguir inovando. A ideia de aperfeiçoar no silêncio se traduz em escolhas que priorizam a simplicidade bem executada. Resgatamos materiais já testados, que carregam a memória da QC, e, por meio dessa coleção, buscamos elevar os detalhes que muitas vezes passam despercebidos — como pences, costuras assimétricas e texturas específicas. Existe um movimento claro de depuração: menos excesso, mais intenção. Cada modelagem, cada costura e cada acabamento carrega esse cuidado — um tempo dedicado ao aprimoramento.
O texto menciona que “nada se perde, tudo é reinterpretado”. Quais elementos resgatados de coleções anteriores ou de referências históricas aparecem nessa nova leitura?
Esse conceito de reinterpretar parte tanto de peças que já desenvolvemos quanto da revisitação de códigos visuais mais amplos. Trouxemos de volta modelagens que fizeram parte dos primeiros anos da marca — como os moletons Delta e Default, a camisa Dozer, as calças Anton e Dafna, entre outras —, agora sob uma novo olhar. Revisitamos também o uso de certos cortes, proporções e processos, como lavanderias específicas e tratamentos de tecido. Além disso, há uma releitura constante de elementos clássicos do vestuário de trabalho, do utilitário e do sportswear — sempre filtrados pelo nosso olhar atual, que busca traduzir esses códigos de maneira coerente com a linguagem atual da Quadro.

Como a Quadro vê a roupa como um “equipamento” hoje — num cenário onde função, estilo e identidade andam juntos?
A ideia de roupa como “equipamento” parte diretamente da filosofia que adotamos no desenvolvimento dos nossos produtos. O conceito de Daily Utility é um dos pilares da Quadro, e entendemos que as roupas são, antes de tudo, ferramentas — facilitadores do cotidiano, que ampliam tanto a funcionalidade quanto a expressão de quem veste. Para nós, a roupa precisa responder às demandas do dia a dia de quem chamamos de jovem metropolitano — alguém que transita por diferentes espaços e contextos constantemente. Isso significa desenvolver peças que entreguem conforto, durabilidade e mobilidade, mas que, ao mesmo tempo, sejam um reflexo claro da sua identidade. O equipamento do jovem metropolitano vai além da estética — é uma extensão de quem veste, acompanhando seu ritmo, suas escolhas e sua narrativa. Acreditamos que esse equilíbrio entre o funcional e o simbólico é o que sustenta a essência da Quadro.
Quanto a construção das novas modelagens — quais foram os maiores desafios ao construir essas novas estruturas?
É uma pergunta um pouco complexa de responder, haha. Um dos maiores desafios está sempre em encontrar esse ponto de tensão entre inovação e coerência. Como desenvolvemos nossas próprias bases de modelagem, cada nova proposta exige um processo complexo — que começa na pesquisa, passa pela construção de pilotos e segue por uma série de testes até que a peça esteja, de fato, pronta para o público. Testamos volumes, encaixes, caimentos e, principalmente, garantimos que a peça funcione sob nossa filosofia. E, muitas vezes, simplificar um detalhe pode ser mais desafiador do que criar algo extremamente elaborado. É aquele tipo de processo que, muitas vezes, passa despercebido por quem vê a peça pronta, mas que, pra gente, é onde mora grande parte do nosso tempo, da nossa energia — e, honestamente, é também uma das partes que mais gostamos quando conseguimos resolver… haha.

Como vocês lidam com o equilíbrio entre linguagem de marca e inovação dentro de uma coleção conceitual?
A gente entende que inovar não significa, necessariamente, reinventar quem somos a cada coleção. Pelo contrário — a inovação vem do aprofundamento da nossa própria linguagem. É aquela ideia de entender para atender. Por isso, todo desenvolvimento parte de um exercício de compreender o que faz a Quadro ser a Quadro — quais são nossos signos, nossos códigos — e como podemos ressignificar tudo isso em novas propostas. Existe um filtro constante: se a ideia não conversa com esse universo, ela não segue. Mas, dentro desse espaço, há muita liberdade para experimentar — seja em materiais, técnicas ou construção.
Mesmo ainda não lançados, os tênis usados no novo editorial ganham destaque sutil. Como vocês enxergam esse mix entre a coleção e eles — ambos resgatando signos e sendo reinterpretado?
A escolha da silhueta para o editorial foi um encontro ideal. Existe uma conversa direta — tanto estética quanto simbólica — entre ela e a coleção. Assim como nossas peças, entendemos o peso e a responsabilidade que é trabalhar com o Abzorb 2000, considerando tudo o que ele carrega e simboliza.
O exercício de revisitar códigos clássicos, reinterpretar materiais e repensar função de maneira contemporânea está presente tanto no tênis quanto nas roupas. A proposta era justamente essa: que, ao olhar as imagens, você percebesse uma coerência no todo — onde produtos, espaços e objetos dialogam dentro do mesmo universo de signos e símbolos.

A Casa Abzorb traz uma estética brutalista, mas ao mesmo tempo acolhedora. Como esse contraste influencia no visual da coleção e no storytelling?
O brutalismo, como movimento artístico e de design, é provavelmente o que mais se aproxima daquilo que a Quadro simboliza — tanto em conceito quanto em matéria. Existe essa ideia de estrutura aparente, de não esconder os processos e de valorizar a matéria-prima pelo que ela é, na sua forma mais honesta e essencial. Ao mesmo tempo, há uma preocupação real em gerar conforto, acolhimento e funcionalidade — tanto na arquitetura quanto nas roupas. Isso se reflete na coleção, seja em detalhes construtivos, seja em modelagens que respeitam quem veste. A nossa narrativa visual nasce exatamente desse equilíbrio: entre o bruto e o sensível, o rígido e o funcional.

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