Eu vejo na TV o que eles falam sobre o Brasil não é sério
O Brasil no mundo todo não é levado a sério.
“Eu sei como é difícil acreditar
Mas essa porra um dia vai mudar
Se não mudar, pra onde vou?”
Não sabíamos como começar esse texto e achamos adequado citar CBJr. Vai dizer que não era melhor quando a nossa única ocupação era chegar da escola e passar a tarde assistindo o DVD do Acústico MTV? Avança aí mais de 15 anos e cá estamos submersos em muita treta.
Por isso, o post de hoje é um desabafo. Desabafo não, carta aberta; Melhor: nota de repúdio que tá na moda.
Poderia começar falando do Bolsonaro e sua péssima gestão e postura frente à todas as áreas possíveis; Podia citar a pandemia e como o Coronavírus tem mexido com as nossas estruturas (que, aqui entre nós, são insustentáveis faz tempo); Dava pra dizer também que o consumo desenfreado de moda e internet anda elevando a nossa ansiedade; Talvez trazer a tona mil temas que vem sendo escondidos atrás da rotina “normal” que estávamos levando.
Mas a fita é que não temos mais cabeça pra escrever sobre isso e você, provavelmente, não tem pra ler. A gente tá esgotado. E não faz lá muito sentido continuar postando só sobre o lançamento da Palace. Pra nós existe um limite entre informar (inspirar) vocês e deprimi-los com um conteúdo que não casa 100% com a realidade atual.
E no meio disso tudo, o que e como comunicar qualquer coisa que seja quando nós mesmos não estamos nos sentimos bem? Ao mesmo tempo, sabemos que se posicionar de alguma forma hoje no Brasil é uma obrigação, beira o dever cívico.
Além disso, acreditamos que, ao demonstrar o nosso cansaço e raiva perante a tudo o que vem acontecendo, nos aproximamos de você que gosta e acompanha esse site com frequência. Por trás de podcast, de texto, de post no Instagram, de vídeo no Youtube existe uma equipe de jovens (negros e mulheres, inclusive) que está exausta de se deparar com tanta notícia ruim todos os dias. Nosso conteúdo, bem como as nossas vitórias enquanto NOTTHESAMO, entretêm você e, por isso, nada mais justo do que registrar também aqui o nosso desânimo perante a situação deste país.
E sabemos que não estamos a sós nessa tristeza.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) diz que o Brasil é o país mais deprimido da América Latina. A razão a gente não sabe exatamente, mas apostamos na falta de esperança causada por um governo que reforça que não nos quer vivos (mulheres, pretos, pobres, LGBTs), na ausência de perspectivas em relação ao futuro já que não tem apoio a educação, não tem emprego, não tem arte e no medo de sair na rua e confundirem seu guarda chuva com uma arma (aliás, ultimamente não é preciso nem sair de casa pra morrer na mão de polícia).
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Nós queríamos muito (muito mesmo) passar uma mensagem de esperança, qualquer receita pronta que, em 15 minutos, faça você se sentir bem de novo. Queríamos muito continuar a publicar as novidades do #Streetwear sem tocar em assuntos políticos. Mas não dá. Primeiro que, o vestir é político (pra nós, definitivamente a moda é uma forma de comunicação e posicionamento); Segundo que, inseridos nesse governo ignorante e ameaçador, fica difícil enxergar a famosa luz no fim do túnel.
“Quatro minutos se passaram
E ninguém viu
O monstro que nasceu em algum lugar do Brasil…”
As estatísticas mostradas no começo de “Capítulo 4, versículo 3” dos Racionais são de 1997, mas em 2020 ainda segue difícil ser um jovem nesse país. Não ser movido a ódio e não ter a intolerância como guia a ponto de se tornar também um monstro é uma missão por aqui.
Mas o que fazer pra conseguir ter o mínimo de otimismo e garra necessários pra continuar lutando?
Não temos uma resposta pronta. Mas as nossas apostas vão para a educação – a mais poderosa ferramenta para a criação de futuros transformadores, capaz de “consertar” uma sociedade doente, garantir a democracia e promover o mínimo possível de igualdade.
A gente sabe que o processo de aprendizagem é um corre. É longo, às vezes caro e pesado, sempre contínuo e avassalador. Mas se podemos te dar uma dica, lá vai: mano estuda, lê, seja curioso, ouça, escreva, frita as ideias, acompanha as pessoas corretas, veja documentários, faça perguntas. Tenha em mente se tornar um ser humano mais ético. Com consciência e habilidades suficientes pra lidar com todas essas tretas que vem acontecendo e que vão continuar rolando.
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E não falamos pra você estudar só na intenção de arranjar um trampo (mas torcemos pra que você consiga um dos bons, claro), mas principalmente com o objetivo de promover uma mentalidade que seja boa pra você e pra quem te cerca. Mas real, tá ligado? Foca em desenvolver uma postura mais questionadora, mais independente, mais conectada com as pessoas e com as demandas que o mundo de verdade tem exigido da gente.
Afinal, você já sabe quem ganha com a nossa falta de pensamento crítico.
E o que tudo isso tem a ver com Moda, Streetwear e Rap? Tudo.
Tudo porque essas coisas são arte e no Brasil de hoje não tem espaço pra isso. Se você compra meia dúzia de camisetas apenas por comprar meia dúzia de camisetas, ok essa conversa não é pra você. Mas se você é como a gente que se liga em todo o trabalho feito por trás de cada drop que sai, de cada nova marca que surge, de cada álbum lançado vai ser mais fácil entender a urgência desse nosso chamado à consciência crítica e a valorização da educação e da arte – é isso que vai nos salvar da ignorância e sujeira que estamos vivendo hoje.
" Se liga, Juca, favela pede paz, lazer, cultura, inteligência, não muvuca..."
Sabotage - No Brooklyn
Quando você se ligar da importância da cultura e da necessidade de defendê-la esse textão terá feito o seu trabalho. Estamos juntos de verdade na missão de defender essas temáticas como fundamentais pra gente continuar curtindo e consumindo os nossos interesses.
Fica aqui a nossa tentativa de ressignificar tudo aquilo que sustenta o NOTTHESAMO: arte, moda, música e cultura. Reforçando que a nossa intenção é e sempre foi ir além do entretenimento.
Sem a poderosa mão da arte e o seu apelo à liberdade somos apenas uma nação de robôs que só sabem apertar em “confirmar compra”. E aí não tem ordem, muito menos progresso.
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