Grinch, o filme definitivo do Natal

24 de dez. de 2025

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O Grinch surgiu em 1957 pelas mãos de Theodor Seuss Geisel, o Dr. Seuss, em um momento específico da história americana, quando o pós guerra consolida o Natal como um evento de consumo em massa, organizado em torno de vitrines, presentes, publicidade e rituais coletivos rígidamente repetidos. O livro How the Grinch Stole Christmas nasce como uma sátira abstrata, e resposta direta a esse ambiente, apresentando um personagem que vive à margem da cidade, fora do circuito econômico e fora do ritual social que define o período natalino.

A primeira adaptação audiovisual, lançada em 1966 em formato de animação televisiva, fixa os elementos que estruturam o imaginário do personagem até hoje. Whoville aparece como uma cidade organizada, limpa, excessivamente festiva, enquanto o Grinch habita o Monte Crumpit, isolado física e simbolicamente. A narração de Boris Karloff, o design simples e a trilha sonora criam uma identidade visual e sonora que se tornaria permanente. Essa versão é fundamental porque estabelece o Grinch como parte do calendário natalino americano, exibido ano após ano, sempre no mesmo período, transformando o personagem em ritual.

A virada definitiva acontece em 2000 com o filme dirigido por Ron Howard e protagonizado por Jim Carrey. Essa adaptação não apenas amplia o alcance global do Grinch, como aprofunda sua construção narrativa. Pela primeira vez, o personagem ganha passado, infância, memória e seus traumas. O filme mostra o Grinch criança vivendo em Whoville, sendo alvo de humilhações públicas, exclusão social e violência simbólica, elementos que ajudam a explicar sua rejeição à cidade e ao Natal. Jim Carrey transforma o personagem em um corpo físico extremo, marcado por maquiagem pesada, exagero gestual e humor corporal, inserindo o Grinch no registro da comédia dos anos 90, mas sem dissolver sua estranheza.

Esse filme se torna o ponto central da consolidação cultural do Grinch fora do circuito infantil. A partir dele, o personagem passa a circular de forma ampla na cultura pop global, sendo retransmitido, redublado, fragmentado em roupas como a camiseta da Supreme em alusão ao personagem, o Nike Kobe 6 Proto apelidado de Grinch, modelo mais vendido da linha, fantasias e produtos sazonais. O Grinch deixou de ser apenas um personagem de livro ou animação e passou a funcionar como uma imagem reconhecível em qualquer contexto, independente da narrativa original. Sua silhueta, sua expressão facial e sua postura comunicam imediatamente o Natal.

Diferente de outros ícones natalinos que representam alegria, abundância ou tradição, o Grinch representa uma experiência paralela do mesmo período. Ele encarna o indivíduo que participa do Natal de forma oblíqua, que observa o ritual sem se integrar completamente a ele.

Culturalmente, o Grinch também se beneficia de sua capacidade de adaptação. Em 2018, a Illumination lança uma nova versão animada, atualizando o design e suavizando o tom, adequando o personagem a uma nova geração, mas mantendo intacta sua função simbólica. Mesmo com alterações estéticas, o núcleo do personagem permanece o mesmo, alguém fora do centro, observando uma sociedade altamente organizada em torno de um ritual coletivo.

Hoje, o Grinch ocupa um lugar singular no imaginário natalino, o personagem é parte do mecanismo cultural do Natal, que retorna anualmente como filme, estampa, fantasia e por sua característica visual.