It’s dark and hell is hot: a colaboração entre JPEGMAFIA e o brasileiro DJ Ramemes
Um dos álbuns de Rap mais esperados do ano saiu no primeiro dia de agosto. ‘i lay down my life for you’ de JPEGMAFIA era aguardado desde o lançamento do single ‘don’t rely on other men’, em junho. Conhecido pela produção inventiva e experimental, JPEGMAFIA surpreendeu especialmente os fãs brasileiros com a faixa ‘it’s dark and hell is hot’ que conta com a produção do DJ Ramemes.
Natural de Volta Redonda, cidade do interior do Rio de Janeiro, Ramon Henrique, o DJ Ramemes, compartilha algumas similaridades com o americano JPEGMAFIA. Considerado um dos produtores mais inventivos do funk nacional, DJ Ramemes já tinha sido reconhecido no exterior pelo crítico de música Anthony Fantano (The Needle Drop), que elogiou o álbum Sem Limites (2023).
Foi desse álbum que JPEGMAFIA pegou a música Upa Upa Pocotó e propôs uma nova versão ao usar o beat da música e acrescentar sua rima.
Conversamos com o DJ Ramemes para entender mais sobre a colaboração com JPEGMAFIA:
NTS: Como surgiu a colaboração em ‘it’s dark and hell is hot’? Foi meio inesperado, nada tinha sido anunciado. Alguém escutou o álbum, percebeu que você estava lá e os seus seguidores no X (antigo Twitter) começaram a te perguntar sobre.
Ramemes: Então, tudo começou pelo Instagram. Ele me seguiu no Instagram. Só que eu não conhecia o JPEGMAGIA (risos), então quando ele me seguiu eu pensei: ‘Ah, que maneiro! Um gringo me seguindo aqui, vamos seguir de volta, né? Humilde.’
Isso foi muito tempo atrás. E um dia desses, do nada, a minha assessora me fala que iria sair uma música minha com um rapper que ela gosta muito; o JPEGMAFIA. Eu recebi junto da galera, fui basicamentei um ouvinte também.
Ela me mandou a música e achei que ficou maneiro. Ficou bom. E então que eu entendi - algo que a galera [do X] não entendeu também - quando é sample ou produção. A música [it’s dark and hell it’s hot] não tem um sample da minha música. É literalmente ela inteira lá, por isso que estou como produtor. Sample é quando você pega um pedaço de uma música e faz alguma coisa nova a partir disso. Mas o que ele fez foi rimar em cima do beat que tem nessa música.
Quando falei para os meus amigos que iria sair uma música com o JPEGMAFIA, todo mundo ficou ‘Caraca! Que isso?!’. O pessoal me contou que o som dele é maneiro, que ele é tipo ‘eu da gringa’ e eu pensei ‘Hã?’. Então escutei o trabalho dele e percebi que ele gosta de fazer umas coisas doidas e experimentais também. Eu não esperava, mas fazia sentido a gente colaborar.
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NTS: Isso é muito legal! Realmente fazia sentido vocês colaborarem. A base da música é inteiramente Upa Upa Pocotó, que você lançou ano passado, né?
Ramemes: Isso! Tenho uma teoria que ele viu o Anthony Fantano falando sobre o meu álbum no YouTube - que eu também não conhecia na época.
NTS: Caramba, você também não conhecia o Fantano?
Ramemes: Olha, eu não conheço nada internacional. Minhas inspirações são só o Skrillex, que é de fora, e os crias do Rio de Janeiro. Sempre que um gringo fala de mim, eu só conheço ele porque ele falou de mim, e então a galera me dá uma aula sobre quem é.
NTS: Então você também teve uma aula de JPEGMAFIA?
Ramemes: É, eu perguntei de uns amigos e eles me deram uma aula e então entendi que o cara é gente boa. Peguei uma boa impressão dele porque ele não fez igual os outros gringos que só usaram a minha música e não me disseram nada. Ele perguntou da minha assessora se estava tudo bem usar a música, e ela que é grande fã dele ficou super feliz. E no final ficou bacana! Ouvi as músicas dele e pensei; ‘o cara é doido e eu também’, então ficou interessante.
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NTS: Realmente é muito interessante porque é possível ver muito da sua essência - afinal, a base da música é literalmente sua - mas ele também deixou a marca dele. E o bordão ‘Brasil-sil-sil’ no final? Foi ideia dele?
Ramemes: (Risos) É, eu imagino que ele fez a música pensando no Brasil. E a gente [o brasileiro] é isso, né? A gente gosta de ser lembrado. Quando a gente vê qualquer coisa que vem do Brasil e que achamos legal, a gente quer que todo mundo saiba. Você não vai ver muito gringo fazendo isso, a maioria rouba e não lembra da gente. Mas só de escutar a música dele [it’s dark and hell it’s hot] você já sabe da onde ele tirou o som por causa do bordão, o que é legal.
NTS: E ele ainda colocou uma diss pro Drake no meio da música!
Ramemes: Outra coisa que eu não sabia: sobre brigas de rappers. Sei que rolou a briga, mas só conheço as brigas do Funk. Se você me perguntar qualquer coisa eu vou saber porque tirei todo o meu tempo para estudar sobre o Funk, né? É o que eu faço. Então deixei todos os outros gêneros de lado. Mas acabei entrando em uma briga contra o Drake. O pessoal já me falou os lugares que não posso mais tocar.
NTS: No Baile do Ramemes a gente encontra todo tipo de gente. Você vê os crias, a comunidade LGBTQIA+, E-girls… E agora você chamou atenção de mais um grupo - o pessoal que curte Rap.
Ramemes: É, como faço Funk o pessoal do Rap acaba não interagindo. Mas agora que tenho algo com o Rap, o pessoal vem atrás.
NTS: Você curtiu essa junção do Funk com o Rap?
Ramemes: Eu nunca fui de ouvir Rap. Não sou dessa brisa da letra, sempre fui de sentir a batida. Comecei a ser DJ por causa do Skrillex, que fazia Dubstep - não tem letra naquilo, né? Escuto o Mano Brown, que é grande, mas de resto eu não conheço.
Mas gostei porque o legal do Funk - e da ideia que eu tenho dele - é isso. Posso brincar, misturar e fazer o que eu quiser com o Funk. Ele me dá essa liberdade gigantesca. Tem gente que até hoje acha que o Funk não é música eletrônica, mas ele é! Justamente porque posso misturar ele com várias coisas. E como a galera viu agora, é possível um rapper gringo rimar em cima de um beat de Funk.
NTS: Será que ainda tem algum outro gênero que você gostaria de misturar com o Funk? Se é que ainda falta algum na sua lista.
Ramemes: Acho que já fiz de tudo para falar a verdade. Tem vários perfis meus no SoundCloud escondidos, né? A galera vai descobrindo e lá tem Funk com Forró, com um monte de coisa. (risos)
NTS: Então, quem sabe, no próximo Baile do Ramemes o JPEGMAFIA vai estar por lá?
Ramemes: Já falei para a minha assessora - depois que resolvermos os contratos (risos) - acionar ele. Se um dia ele passar aqui pelo Brasil vou ter que criar uma edição do Baile do Ramemes do nada.
Créditos: Fernanda Yasmim