O precursor do graffiti no Brasil: Alex Vallauri

5 de mar. de 2024

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Nascido na Etiópia, em 1949, e de nacionalidade italiana, o artista Alex Vallauri veio para São Paulo em meados da década de 60. Apesar da morte precoce aos 37 anos, Vallauri é um dos expoentes da chamada Geração 80. Ele utilizou diversos suportes para estampar sua arte, além dos muros e paredes da cidade. Seus desenhos eram simples e objetivos em meio ao caos urbano, facilitando a compreensão da mensagem.

O artista percebeu que a arte só poderia ser realmente entendida se o autor se preocupasse também com as vontades das pessoas que a viam. Por isso substituiu as técnicas tradicionais, que executava somente dentro de seu ateliê e transformou os muros da cidade em sua nova casa - com grandes matrizes, ele estampava à surdina suas obras. Seus anseios eram transmitir através de sua arte humor, ironia, crítica e o prazer de viver.

Alex teve sua fase inicial expressionista, mas é na pop art que ele encontra sua principal inspiração. Na década de 70, ele começa a elaborar xilogravuras gigantescas, que estampavam paredes e muros. Objetos e o corpo humano - ou partes dele - são os temas principais.

Em 1973, ele dá início ao graffiti. Sua ‘Bota preta’ começa a aparecer nos muros de São Paulo.

“Alex Vallauri começou com seus grafites em 78, quando surgiu nos muros de São Paulo uma enigmática bota de cano longo. A bota logo recebeu uma perna, umas luvas negras e acabou se tornando o personagem principal de sua obra, A Rainha do Frango Assado, uma das vedetes da Bienal de 1985, que virou coreografia em 1987”

– Jotabê Medeiros

Assim como os artistas da pop art almejavam a democratização da arte, Vallauri também conseguiu, em parte, popularizar suas criações no Brasil. Instaladas primeiramente em muros e paredes de São Paulo, suas obras foram impressas em Nova York - Soho, Greenwich Village e Broadway.

No Brasil, participou de quatro Bienais de São Paulo: 11ª (1971), 14ª (1977), 16ª (1981) e 18ª (1985). Na última, apresentou a instalação ‘A Festa da Rainha do Frango Assado’, uma reunião dos graffitis que vinha trabalhando aliada a objetos, simulando os ambientes de uma casa repleta de ícones da sociedade de consumo. A personagem principal chegou a ser interpretada por uma amiga de Vallauri, a atriz Claudia Raia, na época com 18 anos de idade e estrelando a novela Roque Santeiro.

“A Rainha é uma pessoa consumista, sem critérios. A proposta estética do Vallauri reflete a atualidade de um Brasil que se está assumindo”.

- Claudia Raia

Desenhista, gravador, pintor e designer, Vallauri foi respeitado em todas as suas atividades artísticas. Apenas o sucesso comercial lhe foi negado, o que jamais o impediu de continuar a criar arte.

Vallauri influenciou outros artistas a ocuparem as ruas da capital paulista e a data de sua morte - 27 de março de 1987 - é lembrada como o Dia do Grafite no Brasil.