O universo de Rafaella Braga entre fantasia e realidade

17 de dez. de 2024

-

Por

A goianiense tem contato com o pixo desde os 12 anos de idade e, desde então, encontrou sua paixão. Nas ruas, ela aprendeu a sonhar e se comunicar de uma maneira única. Hoje, ela mora em Berlim e afirma que a cidade a permitiu se conectar com pessoas de inúmeras partes do mundo e transformou sua carreira.

Conversamos um pouco com a Rafaella sobre sua visão, seus trabalhos e também suas expectativas. Confira abaixo:

  • Desde sua infância, você já tinha uma conexão com a arte ou descobriu essa paixão mais tarde?

    Aos 12 anos peguei em uma lata de spray e descobri um mundo de possibilidades infinitas. O pixo foi minha primeira paixão, a rua minha primeira escola de arte, onde aprendi a sonhar grande e a transformar minha realidade.



  • Berlim foi um ponto de partida para sua jornada artística. Como foi o processo transição para a cidade e para sua carreira?

    Berlim me ofereceu o espaço necessário para experimentar e expandir minha visão, ao mesmo tempo em que me desafiou a enfrentar meus medos, entender minha missão e, acima de tudo, perceber o poder da confiança, persistência e principalmente o poder da paciência. Quando me mudei para cá aos 19 anos, vim sem conhecer ninguém, sem dinheiro, sem conexões, sem apoio, sem família, sem amigos, e sem nunca ter saído de Goiânia antes, era minha primeira vez pegando um avião.

    Apenas eu, Deus e um sonho gigantesco, uma vontade imensa dentro do meu coração de materializar tudo o que sempre imaginei. Entendi cedo o valor que o mercado atribui às experiências internacionais, especialmente na Europa e nos Estados Unidos. Foi então que decidi jogar o jogo e apostar em mim mesma, no meu talento, que era marginalizado no Brasil, mas que aqui se tornou apreciado. Berlim, sendo uma cidade tão internacional, me permitiu conectar com pessoas de diferentes partes do mundo, o que transformou minha carreira. No começo, nada foi fácil, mas eu sabia que cada desafio estava ali para me lapidar, para me preparar para algo maior, para a história que estava sendo escrita para mim.


  • Existem artistas ou movimentos específicos que te influenciam ao criar suas obras?

    Minha arte é influenciada principalmente pela cultura das ruas, seja através do grafite, do pixo ou do hip hop, com sua poesia nas rimas. Essa estética crua e clandestina me ensinou a importância de comunicar de maneira visceral e autêntica, sem filtros, e a criar a minha própria linguagem, sem me importar com o hype.



  • Como você descreve o seu processo criativo? Há algo por trás dele que te impulsiona a criar?

    Meu processo criativo é um momento profundo de conexão com meu coração, com o divino, seja lá o nome que cada um queira dar a essa energia: Deus, universo, espírito ou simplesmente a força que nos transcende e governa nossa existência. Costumo dizer que pinto meus anjos da guarda, pois, ao criar, sinto que canalizo essa energia protetora que nos guia constantemente. Cada pincelada é um gesto de fé, uma entrega sincera, onde me conecto com algo maior que me orienta, me fortalece e me transforma. Observar a natureza e seus ritmos é um exercício diário dentro desse processo. O céu ao amanhecer e ao entardecer, os ciclos da lua, o brilho do sol, a liberdade dos pássaros, tudo isso se reflete na minha obra.

    E acredito que ter começado a pintar através da arte de rua em ambientes desafiadores desde tão jovem fez com que a minha arte se tornasse essa prática espiritual, como uma ferramenta de elevação, um processo de cura e reflexão sobre nossos caminhos e propósitos, pra além de toda estética. Nesse espaço sagrado de conexão, me entrego à minha intuição, permitindo que ela guie o fluxo da minha criação. Não há planos, julgamentos ou regras, apenas um espaço livre de comunicação entre minha mente, minha alma e minhas mãos.


  • Sabemos que a escrita tem um peso importante nas suas obras. Como você acredita que ela se conecta com suas pinturas?

    A pintura, para mim, é como um grande diário, um espaço onde guardo meus segredos, deposito meus sonhos e ideias. Sempre vi a escrita e as palavras como ferramentas poderosas de manifestação e projeção. Quando escrevo em minhas obras, estou criando um vínculo direto entre o que sinto, o que sonho e o que desejo que se materialize.

  • Há algum motivo em específico para pintar em telas tão grandes?

    Minhas pinturas são grandes pra combinar com o tamanho dos meus sonhos. Refletindo a grandiosidade que existe dentro de cada um de nós.


  • Como sua visão da realidade influencia os elementos de fantasia nas suas obras?

    Acredito que a fantasia atua como uma ponte que nos conecta a um entendimento mais amplo e profundo da nossa realidade. Ambas são experiências distintas, porém profundamente conectadas, sendo partes essenciais de uma mesma experiencia humana. Na arte, a fantasia me permite explorar dimensões mais profundas da vida e do ser, funcionando mais como uma forma de revelação do que de escape. Ela abre caminhos para enxergar além do óbvio, refletindo sobre o que está além da superfície da existência cotidiana e das nossas limitações.


  • O que significou para você criar um mural para o Cannes Lions e ver essa obra no acervo da Embaixada do Brasil na França?

    Realizar essa obra em Cannes, celebrando e representando o Brasil, foi uma experiência que reafirmou para mim o poder transformador da arte. Ver essa peça ser incluída no acervo da Embaixada do Brasil na França é uma honra imensa. É como se minha arte, que nasceu nos becos e muros do Brasil, estivesse cruzando fronteiras e alcançando espaços que antes pareciam impossíveis. Esse reconhecimento me fortalece e me inspira a continuar criando.



  • Existem novos projetos ou direções que você gostaria de explorar em sua carreira artística?

    Estou sempre aberta a novas direções, pois acredito que a arte, assim como nós, é infinita. Vivo um momento de expansão no meu trabalho, buscando novas formas de me conectar com o mundo e globalizar minha arte, criando conexões que sejam genuínas e significativas.

    Tenho desenvolvido projetos com marcas que admiro, alinhados com minha visão artística e minha jornada, e estou me preparando para novas exposições e iniciativas globais que têm me desafiado a explorar meu processo criativo sob uma nova perspectiva. Além disso, estou investindo no crescimento da minha nova marca, Street Dream, lançada no mês passado, um reflexo da minha história e das minhas paixões. Não me limito. Continuarei seguindo o fluxo da minha intuição e energia, sempre alinhada com meu propósito e missão de vida.