Pintura e treinamento: a disciplina criativa de Knesse

28 de jan. de 2025

-

O artista carioca é apaixonado por arte desde adolescente e, foi juntamente com o surf e o skate que ele achou seu ponto de partida. Autodidata, Douglas considera seu trabalho um exercício, onde o treino o leva a alcançar o resultado que deseja. Numa mistura de pintura, streetwear e audiovisual, ele prende o olhar do seu público através de suas obras.

Conversamos com o artista sobre como ele começou, sua visão de mundo e também a mensagem que ele deseja passar com seu trabalho. Confira abaixo:

  1. Essa paixão pela arte está presente desde a sua infância? Ou foi algo que ao decorrer dos anos tomou forma?

Desde pequeno sempre gostei muito de desenhar, amava ver Art Attack e era bom em inventar coisas. Por não ter ninguém na minha família que esteja inserido no meio das artes plásticas, nunca tinha passado pela minha cabeça em me tornar artista quando mais velho. A arte apareceu na minha vida na adolescência e junto com o universo do surf/skate comecei a mergulhar nas estampas das roupas e desenhos que via nos shapes.

  1. Sendo natural do Rio de Janeiro, você acredita que o meio ao seu redor te influenciou de alguma forma, quanto às suas inclinações artísticas?

Com certeza! Na verdade acho que tudo que eu falo hoje no meu trabalho, nada mais é que uma expressão da pessoa que sou, uma representação das experiências que passei na vida sendo carioca.

  1. Você se descreve como alguém compulsivo na pintura. Como isso se reflete no seu processo criativo?

Sou autodidata, nunca estudei nada, não tive contato com escola de arte. Desde que comecei a pintar e decidir ir por esse caminho (sem estudo) percebi que teria muito a produzir e testar mais ainda. Muitas dessas produções que “não dão em nada” leva tempo, muito acúmulo de material e investimento… Mas pra mim vejo como exercício, um esporte mesmo. Aquela coisa de ir treinar todo dia até você chegar aonde você quer e ter os resultados que almeja.

  1. Como as influências do skate e do surf aparecem no seu trabalho hoje em dia?

Vejo que meu trabalho sempre teve uma textura urbana que vem do skate, mas durante muito tempo quis esconder essas influências dos esportes. Desde 2021 onde fiz uma exposição nas falésias da Bahia assim como a minha primeira exposição em 2014 (também em uma praia), voltei a ver muito sentido em representar esse sentimento que o surf, skate e tudo que gira em torno desses universos me trouxeram na infância. A conexão com o mar tem estado cada vez mais presente no meu trabalho, venho pintando ondas, símbolos que giram em torno do mar que por si só são extremamente belos e tem profunda representatividade pro carioca, hoje me sinto mais confortável em pintar minhas raízes.

  1. O Jiu-jitsu também é uma de suas influências. De que maneira o esporte se relaciona com seu trabalho e também te ajuda em seu processo criativo?

Tanto a prática de ateliê quanto o esporte são válvulas de escape pra mim, são momentos que me botaram em “risco” para escapar do estresse do dia a dia. O jiu jitsu principalmente treina muito minha resiliência, não é um esporte que se aprende rápido e tão pouco atrativo, você literalmente acorda cedo para sair na porrada rs. Gosto dessa sensação de teste, porque todo dia é como qualquer outro que você está lá, pode ser bom ou ruim, mas a disciplina de nunca desistir deixa sua mente mais forte. E para ser artista pra mim essa é a primeira regra, nunca desistir. Acreditar sempre!

  1. Como suas primeiras experiências em exposições individuais moldaram a sua visão sobre a indústria artística?

O meio é muito fechado, os temas são muito hypados e até a forma de criar é temática, ela muda conforme o tempo. Então, entendi que não poderia me abalar caso não fosse aceito nesse meio, e continuar criando coisas que são verdadeiras pra mim.

  1. Sabemos que você se considera uma pessoa tímida. Como essa introspecção contribui para expressar o estilo e os temas da sua arte?

Na verdade eu era haha. A arte me ensinou a falar, me trouxe confiança pra me expressar nos lugares e fez eu entender quem sou, ali sempre botei minhas alegrias, medos, anseios e orações. Isso me conectou com esses temas.

  1. Sua arte mistura várias linguagens, como pintura, streetwear e audiovisual. Como você integra esses diferentes mundos no seu processo?

Da onde eu vim, as pessoas não tem o costume de se conectarem com arte. Existe um olhar muito quadrado e sem essa cultura, tem uma barreira muito grande de enxergar e querer entender, e pra mim arte se sente. Porém, na Barra da Tijuca até isso às vezes fica difícil - pra mim mesmo até hoje não tenho tanta paciência. Com isso tive que conectar todas essas formas de expressão para tentar prender mais o olhar das pessoas e mostrar que a arte que eu faço é real, passar essa energia às vezes mais mastigada e de um fácil acesso, tem dado certo.

  1. Em seus trabalhos você brinca com símbolos de forma sarcástica. Qual mensagem você quer passar para seu público?

Que na maioria das vezes as coisas não estão “certas”, na verdade elas funcionam pra você nessa maneira e podem funcionar de outra forma para outras pessoas. Então essas mensagens batem em cada pessoa de forma diferente, a partir das experiências e bagagens de cada um.

  1. Se você pudesse dar uma dica para alguém, qual seria?

Acredite sempre. Tenha fé e cuide da sua saúde, às vezes parece que isso não tem haver com a arte, mas a arte de viver é a mais difícil nos dias de hoje. Isso vai te tornar duro para qualquer situação.