Carrossel: o primeiro álbum de Gab Ferreira

Sep 25, 2025

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Depois de anos de experimentações com mixtapes e EPs, a artista transforma agora novas vivências em som, desenvolvendo um disco que fala sobre autoconhecimento, persistência e a liberdade de explorar novas linguagens musicais. Cada faixa reflete seu processo de criação, onde melodias, letras e experimentações surgem de uma observação constante do mundo ao seu redor.

Com influências que vão do eletrônico ao universo das mixtapes, Gab não se prende a gêneros ou expectativas externas. Neste projeto, a música e a estética visual caminham lado a lado, simbolizando uma nova etapa na trajetória dela como artista. E, nesse projeto, ela destaca que espera que as pessoas se vejam nele de alguma forma, através de momentos especiais que a acompanharam e espera que os acompanhem também. Confira abaixo:

NOTTHESAMO: Seu contato com a música foi algo incentivado desde a infância ou foi se desenvolvendo durante sua trajetória?

Gab Ferreira: Acho que, como para a maioria das pessoas, a música sempre esteve presente na minha infância e adolescência. Com o tempo, essa paixão acabou evoluindo de forma natural para o ato de criar e compor. É uma arte que exige prática, dedicação e, acima de tudo, persistência. E cada novo projeto me aproxima um pouco mais do lugar criativo que eu busco, de realizar a minha visão artística.

NTS: Quais artistas ou movimentos mais te inspiram na hora de criar?

G: Eu vejo minhas referências como extensões do universo que quero criar. Alguns artistas foram muito importantes para o desenvolvimento desse disco, mas, de forma geral, quando estou no processo criativo, gosto de ouvir o máximo de coisas possíveis. Misturar esses elementos me permite chegar a um resultado que não apenas reflete minhas paixões, mas que também ajuda a consolidar uma visão verdadeiramente própria.

NTS: Como funciona o seu processo criativo? E como surge a parte das melodias, letras ou experimentações sonoras?

G: O ponto central da minha criação é anotar ideias constantemente — qualquer pensamento, melodia ou frase que surge, eu registro. Assim, quando chego no estúdio, já tenho um repertório de referências minhas para me guiar. Isso faz com que eu não precise perder tempo decidindo tudo na hora: a visão geral já está construída, e no momento da execução posso deixar o intuitivo falar mais alto.

NTS: Esse é seu primeiro álbum de estúdio, o que te inspirou a criá-lo?

G: Eu não sabia exatamente como queria que meu primeiro disco soasse, mas sabia em que momento do meu processo queria estar para realizá-lo. Minhas mixtapes e EP anteriores foram experimentações que me prepararam para esse ponto. Carrossel nasceu de uma vontade clara de falar sobre jornadas de autoconhecimento e sobre o próprio ato de fazer música. Para mim, ele é uma metáfora de um ciclo criativo que nunca termina. Também foi um desafio me colocar em uma nova linguagem, principalmente cantando em português, mas foi justamente esse desconforto que me levou ao resultado final.

NTS: Qual foi a maior diferença que você sentiu ao compor em inglês e agora em português?

G: Em momentos anteriores, quando ainda estava construindo minha linguagem, o inglês me permitia, de certa forma, suavizar as palavras e impactar através da sonoridade. Em português, eu confrontei minhas emoções de maneira mais direta e nua. Foi um processo muito enriquecedor, que me ensinou a acolher esse desconforto e a me sentir pronta para que cada pessoa interprete minhas músicas à sua maneira.

NTS: Em que medida a sua formação musical moldou esse disco novo? Você percebe que mudou o que te inspira ao longo dos anos?

G: Minha formação musical tem, sem dúvida, um papel central nesse processo. Já convivo no espaço da música há mais de 10 anos, e hoje consigo me conectar com ela além de gêneros ou formatos, vendo beleza em quase tudo que ouço.

Acredito que minhas inspirações não mudam, apenas evoluem. Parte da sonoridade deste disco reflete não só o que eu queria fazer naquele momento, mas também as possibilidades do que consigo criar hoje. Meus projetos anteriores sempre foram DIY, em estúdios caseiros, apenas fazendo música, coisa que amo e acho que nunca vou mudar. Neste disco, apesar de manter esse espírito, tive a oportunidade de colaborar com outros músicos, reunir pessoas que admiro e expandir o projeto coletivamente. Por isso, vejo que a sonoridade final tem mais a ver com os meios e os acessos que tenho ao meu redor agora do que apenas com referências diretas.

NTS: Nos últimos anos, seu som tem se expandido para a música eletrônica. Nesse novo álbum há a influência dessa sonoridade?

G: Sempre fui fascinada por música eletrônica e adoro criar nesse universo. Mas neste disco quis explorar outras linguagens, até voltar a algumas referências que eu amava de anos atrás . Acho que tudo o que criamos, mesmo em outros gêneros, acaba influenciando o que vem depois.

Hoje, não sinto mais necessidade de me prender a uma bolha ou a um único estilo. Vejo que os artistas podem passar por várias fases e explorar caminhos diferentes. Antes, eu achava que precisava me limitar a uma única narrativa estética, mas hoje sei que meu processo é guiado pelo que acredito e pelo que quero fazer — e não pelo que esperam de mim.

NTS: A moda e a música caminham juntas no seu trabalho. Como essas áreas se conectam para você?

G: Para mim, a moda é uma extensão da estética que eu construo na música. A imagem sempre foi uma parte essencial do meu processo criativo. Neste disco, o conceito visual surgiu antes mesmo da primeira canção: antes de pensar em como tudo ia soar, eu já tinha clareza de como queria que o projeto se apresentasse.

Trabalhar essa dimensão visual me ajuda a desenvolver a sonoridade, porque tenho uma imagem clara na cabeça e penso em como transformá-la em som, como uma extensão natural do que vejo.

NTS: O que mais te surpreendeu em relação ao alcance internacional da sua música?

G: Está sendo muito especial ver a recepção das minhas músicas internacionalmente e perceber como a música brasileira progressivamente está ganhando atenção fora do país. O Brasil sempre foi um polo cultural, e é incrível ver essa percepção se expandindo para o global. Ao mesmo tempo que o cenário musical aqui ainda tem muitas limitações, eu tento ver isso como uma oportunidade: restrições nos forçam a pensar fora da caixa e alteram a perspectiva da criação.

NTS: Você sente que sua trajetória influencia outros artistas independentes no Brasil?

G: Espero que sim. Sempre fui muito comprometida com a minha visão, mesmo que isso não siga uma lógica que seria natural para outros. Para mim, a maior satisfação é quando meu trabalho ressoa com as pessoas não pelos números ou resultados, mas pelo compromisso genuíno com a música.

Fazer música é um processo profundamente pessoal. Crio a partir do que sinto vontade e, quando compartilho, a música deixa de ser só minha — passa a pertencer a quem a escuta, e eu não tenho controle sobre isso. Pensar assim me ajuda a manter a curiosidade e a vontade de explorar sempre coisas novas, tentando criar cada vez como se fosse a primeira vez.

NTS: O que o público pode esperar do seu próximo álbum?

G: Este disco representa um novo capítulo na minha trajetória como artista, e espero que as pessoas se vejam nele de alguma forma, e que ele acompanhe momentos especiais em suas vidas, assim como acompanhou os meus.

Writing assistant and social media manager

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