Luccas Carlos em "Busco Romance Love Show"

Nov 6, 2025

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Luccas Carlos sempre tratou o romantismo como seu território de experimentação. Desde o lançamento de Busco Romance Love Show, em 2023, o artista construiu uma linguagem que se equilibra entre o sentimental e os dilemas cotidianos. Agora, com Busco Romance Love Show Deluxe, ele retoma esse universo com um olhar mais introspectivo, criando uma narrativa sustentada entre quatro atos, traduzidos através do amor e uma relação confusa.

Diferente da versão original, que reunia participações de nomes importantes da nova geração da música brasileira, BRLS Deluxe tem apenas uma colaboração: Trinidad Cardona, cantor norte-americano de hip-hop e R&B, conhecido pelos hits “Diñero” e “Jennifer”.

Busco Romance Love Show expande a abordagem do artista sob música, agora não apenas como intérprete do amor e expoente do R&B, mas como um artista da música contemporânea brasileira. Confira a matéria completa abaixo.

NOTTHESAMO: Em seu álbum “Busco Romance Love Show”, havia uma camada emocional forte entre as histórias que você percorreu, mas o Deluxe parece expandir isso em novas direções. O que mudou dentro de você e na sua forma de compor entre as duas fases do projeto?

Luccas Carlos: Eu acho que a forma de compor música realmente mudou um pouco, de um disco pro outro, mas sou bem eu. Eu tô bem confortável, e tentei voltar um pouco ao meu estilo de escrita antigo, lá do começo da carreira e tal. Mas a linha de raciocínio sempre foi fazer algo como um prólogo do disco normal. Porque geralmente o Deluxe são músicas que vêm antes do álbum normal. Eu sei que tem gente que muda a tracklist inteira. Eu ia fazer um Deluxe assim antes, mas não rolou; era um Deluxe com as músicas misturadas, como se fosse a mesma história, só que contada de forma diferente. Mas, em mim, mudou o lance de não querer fazer as coisas tão rápido assim, sabe?

Desde 2018, 2019, eu vinha num ritmo de fazer música muito rápido e eu senti que não tava ficando feliz com os resultados. Foi necessária essa volta e essa busca um pouco pela essência.

NTS: Você leva mais experimentações em suas músicas nesse álbum, sem se prender ao que foi construído anteriormente. O quanto isso tem influência no processo de criação, o quanto significou esse processo pra você, artisticamente e pessoalmente?

LC: Pra mim foi muito maneiro. Eu sempre quero inovar. Eu sempre quero fazer algo diferente. Quero fazer algo que seja diferente do que veio antes, diferente do que eu já fiz, ou então alguma linguagem nova, algum tipo de beat novo. Eu sou esse cara que sempre está buscando isso. Eu não fico muito parado no mesmo lugar. Para mim foi muito engrandecedor mesmo. Eu sinto que já venho evoluindo bastante, musicalmente falando. Sinto também que o grande público talvez não perceba isso porque não presta tanta atenção nos discos que eu lanço, e mais nos feats, talvez, mas a evolução é visível demais para mim. Jovem Carlos 2, Busco Romance, Busco Romance Show Deluxe… Isso só falando dos últimos quatro.

Se pegar desde o primeiro, eu acho que é bem notável. Mas a minha ideia era fazer algo diferente, como eu sempre faço. Eu sabia que o primeiro disco ia causar um choque. A minha ideia sempre foi vir com algo mais “convencional” do Lucas Carlos, no Deluxe.

NTS: O disco se divide em quatro atos, quase como uma narrativa em capítulos. Como essa estrutura surgiu e o que ela representa dentro do conceito do álbum?

LC: Os discos que eu gosto têm essa divisão em atos. Musicalmente é muito interessante você organizar assim, porque ajuda a pessoa a entender o que você está querendo transmitir e em que ponto da história ela está. São quatro discos: o primeiro é o Deluxe, com nove faixas em que conta a história do cara mais apaixonado. O disco 1 começa com muito estilo, o personagem mais pé no chão, começando a acreditar no amor, mas entendendo as pistas também. O terceiro disco mostra ele já com muito amor próprio. Então, falamos em quatro atos: o Deluxe, o disco 1 do normal, o disco 2 do normal e o disco 4, com as duas faixas bônus, que se conectam com a história.

Mas essas faixas bônus se destacam por si próprias. São músicas muito boas, como o funk com Trinidad e o pagode. Eu gosto muito dessas duas músicas também. E assim ficam os quatro atos: o cara acreditando no amor, percebendo que talvez não seja aquilo com ela, depois se fortalecendo com amor próprio e as faixas bônus completando a narrativa.

NTS: No Deluxe, você reduz as colaborações e traz uma construção mais íntima, diferente dos seus trabalhos anteriores. O que te levou a essa escolha de olhar mais pra dentro e menos pro entorno da cena?

LC: No 2, eu tive muitos feats também, e teve gente comentando sobre o álbum, o que foi legal. No Busco Romance, eu quis trazer o máximo de amigos que desse. Eu gosto muito de fazer feat. Acho que eu me destaquei bastante, principalmente pela minha voz, mas também por fazer muitas colaborações com artistas. É algo que gosto de trazer para o meu trabalho, até como forma de agradecimento. Eu sinto que sou chamado para muitas coisas legais, então nada melhor do que retribuir, chamando meus amigos e os artistas que eu gosto para colaborar comigo.

O fato de não ter ninguém no Deluxe é porque no álbum original já tinha muita gente. A faixa com Trinidad é muito boa e trouxe um resultado bonito; ele é o único cantor que participa realmente. Mas também tem feats com DOOM, Nave e Malibu no pagode. Foi uma escolha estética: eu queria mostrar que consigo sustentar um álbum sozinho, nove faixas sem colaborações. Não ligo muito para quem não gosta de mim, mas percebo que muitas pessoas acham que eu só existo por causa das colaborações. Então veio um pouco desse propósito, de mostrar meu nome em várias músicas cantadas apenas por mim.

NTS: Você sempre transitou entre universos, do rap ao R&B, do funk ao pagode, e nesse álbum isso parece ainda mais natural. Como você enxerga essa liberdade criativa dentro da música brasileira hoje?

LC: Eu acho que a liberdade existe, muito. Talvez a gente estranhe mais, porque venho do hip hop e do R&B, mas o fato de fazer muito uso de melodia para cantar me abre várias portas. Eu observo bastante o que acontece lá fora, nos Estados Unidos, na França, e vejo que quem trabalha com melodia consegue se encaixar em qualquer tipo de música. Então eu tenho um pouco disso em mim. Eu ainda não fiz um álbum totalmente pautado em um tipo de beat, um tipo de assunto ou uma matemática específica. Não digo que não haja assunto, mas ainda não fiz algo restrito a um estilo de beat.

Eu gosto de trazer essas coisas diferentes. Acredito que isso permite abraçar públicos distintos, e isso nunca é ruim. Quero que, em um churrasco de domingo, uma família coloque o disco para tocar e tenha o pagode que o pai gosta, a música romântica que a filha prefere, a linha de rolê que o filho curte e uma outra faixa que a mãe vai ouvir. Sempre tive esse mindset de fazer música para todo mundo que quiser me ouvir, e vem um pouco disso daí também.

NTS: “Todo Lugar”, com o Trinidad Cardona, é um ponto interessante do álbum, porque mistura referências globais com a sua estética. Como surgiu essa conexão e o que te atraiu nessa troca?

LC: Essa parceria surgiu em um camp. Nós somos da mesma editora. Uns anos atrás, rolou de a gente ir para uma viagem no México, fazer um song camp com vários artistas latinos e uma galera muito talentosa. Dos Estados Unidos, estavam ele e o Bugs, que também produziu. O Bugs Bunny é um produtor que vem se destacando no trap e no hip hop americano, e também estava o Nave. Juntou nós quatro no estúdio, e eu e o Nave estávamos com um drum kit de funk, com muitos elementos de tambor de funk e vários outros detalhes.

Apresentamos para os caras, eles adoraram e quiseram fazer um funk misturado com trap e rap. Achei a ideia muito legal. Já quis lançar a música de imediato, mas acabaram se passando dois anos até que ela não entrou no álbum normal. Então decidi que esse funk tinha que vir no Deluxe. Todos ficaram animados: o Bugs, o Nave e o Trinidad. Sou muito feliz com essa música, acho que ela marca um ponto importante para mim. Estou realizando meus sonhos, fazendo as músicas que ouvia quando era menor. Isso é muito significativo para mim, especialmente funk e pagode.

Falando de Em Paz, funk e pagode são elementos muito cariocas, e eu sentia que ainda não tinha conseguido reproduzir de forma fiel do jeito que eu queria. São duas músicas que eu estou muito orgulhoso.

NTS: O “Busco Romance Love Show” fala de amor, mas também de amadurecimento. Que tipo de amor você quis retratar agora?

LC: Eu acho que não quis retratar nada específico. Agora eu quis contar uma história, e acho que essa história mostra mais esse lado do cara que é apaixonado, que está impressionado, às vezes conhecendo alguém, descobrindo sentimentos, e que, mesmo sabendo que terminou, pede para voltar, passando por todas essas emoções.

Acho que esse Deluxe, em relação ao álbum normal, tem mais essa pegada de relacionamento, quando ainda não deu nada errado, até a música 9. Depois, o pensamento dele muda um pouco. Mas eu quis mais contar o começo da história. Não estava pensando em retratar algum tipo específico de amor. Acho que o projeto inteiro fala sobre várias fases do amor, mas vejo mais como uma narrativa contínua do que como algo separado.

NTS: Qual foi o maior aprendizado em produzir um disco dessa escala com autonomia? O que você descobriu sobre si nesse processo?

LC: Eu consigo fazer isso porque, como artistas, precisamos criar sempre, e é muito fácil se sentir esgotado e enfrentar bloqueios criativos. Isso aconteceu durante esse processo. Mas quando percebi que já tinha algo bem estruturado e que faltava muito pouco, foi o momento em que eu, junto com o time, assumimos a situação e resolvemos tudo. Nesse sentido, foi muito satisfatório ver que basta querer, colocar a mente no lugar, fazer direitinho e contar com sua equipe, porque ninguém está sozinho. Para mim, foi um processo muito significativo e positivo.

Nesse trabalho, eu estive envolvido em todas as etapas. Era algo que eu não fazia há muito tempo, então foi legal nesse sentido. Trabalhar na capa, por exemplo, dessa vez segui mais meu instinto. Estou muito feliz com o resultado.

NTS: Se o “Busco Romance Love Show” fosse uma imagem, uma cena, o que você diria que ele representa?

LC: Eu acho que a capa do primeiro disco, da versão normal, é bem simbólica. Já com o buquê para baixo, mostra um cara que não está mais acreditando, que foi buscar o romance e acabou voltando meio desiludido. O clipe de Famosa, com o lance do Love Show e o auditório, também foi uma sacada muito legal. Eu acho que esses dois elementos representam bem o que é o disco.

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