Ryan Monotoshi, tijolo por tijolo

Nov 12, 2025

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Nascido em Marituba, no Pará, Monotoshi carrega nas entrelinhas da própria trajetória o DNA da improvisação criativa. Filho de uma família em que música e moda sempre estiveram por perto, ele aprendeu desde cedo que criar não era luxo, mas necessidade.

O que começou com uma câmera emprestada para divulgar o som da banda virou uma carreira sólida no audiovisual — hoje marcada pela fundação da @brick_____by_____brick, uma comunidade que conecta e inspira criadores a construírem suas jornadas com propósito e disciplina.

Nesta conversa, Monotoshi fala sobre suas origens, o poder da coletividade, as referências que moldaram seu olhar e os próximos passos de quem transforma o cotidiano em arte. Confira a entrevista completa abaixo.

NOTTHESAMO: Primeiramente, quem é Ryan Monotoshi?

Monotoshi: Sou um nortista, nascido em Marituba, no Pará. Que desde moleque sempre vivi fora da caixa, dividido entre as vivências simples do bairro e as referências criativas que eu buscava fora dali, enquanto meus amigos brincavam com os carrinhos de controle remote deles, eu desmontava os meus pra saber como funcionavam. Nunca esperei nada de ninguém, me considero autodidata, aprendi a improvisar, e isso virou minha identidade. Vindo de um lugar onde criar era questão de necessidade, acabei me tornando uma referência onde a regra era justamente improvisar pra fazer acontecer.

NTS: Onde nasceu seu interesse pelo mundo do audiovisual?

M: Sou mais um daqueles que veio da música e acabou se encontrando no audiovisual. Desde pequeno, moda e música sempre fizeram parte da minha vida, minha família é uma mistura disso: avós costureiras, tios músicos… essas duas linguagens me formaram. Na adolescência montei uma banda com amigos e percebi que precisava de imagem pra vender o som. Como não tinha grana, fui eu mesmo quem pegou a CyberShot da época e começou a criar as fotos e vídeos, e, com o tempo, a necessidade virou hobby, paixão e hoje meu trabalho.

NTS: Você se recorda de algum lugar/viagem/filme que mudou totalmente sua concepção, influenciando no seu trabalho hoje?

M: Sem dúvida, minha primeira viagem pra Nova York em 2020. Além de ser uma conquista pessoal e financeira, foi um divisor de águas criativo. Eu cresci vendo aqueles lugares nos filmes, e estar lá me fez entender que o espaço entre sonho, cinema e realidade é muito menor do que a gente imagina. Aquilo me deu um gás absurdo pra acreditar que tudo é possível, só depende do quanto você quer transformar a visão em ação.

NTS: O que é e quando nasceu a Brick By Brick? Conte mais sobre seus projetos de hoje.

M: No meio da pandemia, num momento onde eu me sentia preso fisicamente e criativamente. Sempre tive uma veia de ensino, talvez por influência da minha mãe e tias professoras. Eu era o pior aluno da sala, mas virei um mentor. Comecei compartilhando o que sabia e isso virou um escape, uma forma de inspirar e manter criadores ativos. Hoje, a Brick By Brick é uma evolução de outras comunidades que já criei, mas com uma visão muito mais madura. Audiovisual não é só sobre equipamento, é sobre construir carreira com base, disciplina e comunidade. Tijolo por tijolo, sem atalhos. E se precisar, você derruba e reconstrói, mas segue. E essa comunidade acabou virando também uma terapia criativa, onde me sinto confortável de conversar sobre minha vida e carreira com outras pessoas.

NTS: O que serve para você como alimento criativo?

M: Meu maior alimento criativo é o olhar pro cotidiano, enxergar poesia onde a maioria passa batido. Minhas melhores ideias nascem de coisas simples do dia a dia, uma conversa, um gesto, uma cena na rua. Por isso, é essencial sair da frente da tela, respirar, ver um filme, ler um livro, viver. Já criei videoclipes inteiros inspirados em algo que presenciei no trânsito ou num bar. A arte tá por aí, a gente só precisa estar acordado o suficiente pra capturar.

NTS: Pelo seu portfólio, é notável sua proximidade com o mundo da música. Trabalhar nesse mundo é uma escolha pessoal para você?

M: Totalmente. Moda e música são o que moldaram minha identidade. Pra mim, são as maiores formas de expressão artística. O audiovisual só veio como ponte pra traduzir isso em imagem. Eu vivo isso, não é um nicho que escolhi, é literalmente o ar que respiro.

NTS: Tem algo/alguém que você não trabalhou, que gostaria?

M: Tive o privilégio de trabalhar com muita gente grande nesses dez anos, mas minha lista de desejos ainda é longa. Hoje, meu foco está mais voltado pro universo da moda, é onde quero expandir minha direção criativa. Minha meta pra 2026 é justamente essa: colaborar direta ou indiretamente com grandes marcas do cenário fashion, tanto nacional quanto internacional. É o próximo capítulo natural da minha trajetória.

NTS: Se você tivesse que dar uma dica para qualquer pessoa, qual seria?

M: Apenas comece. De verdade. Eu perdi tempo demais esperando o “momento certo”, o equipamento certo, a condição perfeita. Isso não existe. Crie agora, erre se for preciso, aprenda e repita. Tenha disciplina, constância e pare de depender da motivação. Faça porque precisa ser feito, e ponto. Todo dia um passo, mesmo pequeno. Sem pressa e sem pausa.

Editor in chief

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