007 e OMEGA: A história dessa relação que atravessa décadas e filmes
A história de James Bond sempre foi contada em múltiplas camadas. Primeiro pelas páginas de Ian Fleming, depois pelo cinema e, ao longo do tempo, pelas roupas, pelos objetos, pelos carros e pelos códigos estéticos que definiram a figura do espião mais conhecido do mundo.
Em paralelo às narrativas de espionagem, falar da construção desse imaginário passa por entender também um de seus elementos mais constantes, o relógio. Entre tantos símbolos que atravessam a franquia, nenhum é tão persistente quanto o vínculo entre James Bond e Omega. A relação entre os dois não nasce do acaso, mas de um alinhamento entre ficção, tecnologia, realismo e estratégia cultural.

Quando o primeiro filme da franquia estreou em 1962, James Bond utilizava um Rolex Submariner. Sean Connery aparece com ele em Dr. No, carregando o relógio como um objeto funcional, simples e coerente com a figura de um agente britânico. Durante décadas, Bond usou diferentes modelos que reforçavam a imagem clássica do personagem. A virada acontece em 1995, quando Pierce Brosnan assume o papel e inaugura uma nova era para 007 em GoldenEye. O mundo tinha mudado desde a Guerra Fria e a franquia também precisava se reposicionar. O espião deixava de ser uma figura puramente glamourosa e passava a incorporar a estética do final do século, em que tecnologia e precisão se tornavam parte central da narrativa.

Nesse momento entra a Omega. Lindy Hemming, figurinista responsável pela reformulação visual de Bond, decidiu que o espião precisava de um relógio alinhado à sua formação militar, à vida marítima e à lógica funcional de um comandante da Royal Navy. A opção pelo Omega Seamaster foi um encaixe natural entre história de personagem e identidade de produto. O Seamaster, um Diver que já carregava um legado militar e marítimo, e tinha uma linguagem técnica que dialogava com o universo de espionagem. Era um relógio construído para resistência, precisão e uso prático. Bond precisava de algo assim.

O primeiro modelo a aparecer na tela nessa nova fase foi o Seamaster Professional 300M Quartz azul, utilizado por Brosnan em GoldenEye. Era um relógio de mergulho robusto, com válvula de hélio e um design que se tornaria imediatamente sinônimo da estética Bond dos anos 90. O resultado foi uma integração completa entre objeto real e narrativa cinematográfica, algo que se repetiria nos filmes seguintes. Bond não usava o relógio apenas como acessório, ele fazia parte da história.
A presença da Omega continuou firme com Brosnan. Em Tomorrow Never Dies, o agente passa a usar a versão automática do Seamaster, reforçando uma imagem mais técnica. Em The World is Not Enough, o relógio aparece com outro conjunto de ferramentas fictícias que ampliavam o repertório do personagem. No último filme de Brosnan, Die Another Day, o Seamaster continuava a acompanhar o espião com a mesma lógica entre objetividade e fantasia.

A mudança mais profunda aconteceu em 2006 com Daniel Craig. Casino Royale marca uma ruptura dentro do próprio mito 007. A franquia abandona quase todo o exagero dos anos 90 e reconstrói Bond como um personagem mais humano, físico, impulsivo e menos dependente de ultra relógios e coisas do gênero. Nesse novo contexto, o relógio precisava traduzir essa atualização. Craig aparece com dois modelos: um Seamaster Planet Ocean 600M preto, mais robusto e esportivo, e um Seamaster Diver 300M. O Planet Ocean, especialmente, reforçava essa nova fase com um relógio de mergulho mais pesado, coerente com o corpo e o gesto de um Bond que se envolve em lutas, perseguições e quedas sem glamour. A Omega acompanha o personagem no que ele se torna.
Nos filmes seguintes, essa presença se torna ainda mais evidente. Em Quantum of Solace, Skyfall e Spectre, diversos modelos do Seamaster fazem parte da narrativa. Em Spectre, por exemplo, Bond usa o Seamaster 300 Master Co-Axial, uma releitura moderna de um relógio criado nos anos 1950. Era uma escolha simbólica, porque dentro de um filme que discute passado e tradição, o relógio também carregava memória. Em 2021, no último filme de Craig, No Time to Die, Bond aparece com um Seamaster Diver 300M em titânio, mais leve, resistente e com mostrador envelhecido, fazendo referência ao desgaste natural de um agente que carrega a experiência no corpo.

Outro ponto fundamental é como a Omega expande essa relação fora do cinema. A cada filme, a marca cria edições especiais que celebram a parceria, sempre com referências sutis ao universo Bond. O Seamaster 300M “60 Years of James Bond”, lançado em 2022, traz no fundo do relógio uma animação mecânica da clássica abertura do cano da arma. Em outros modelos, aparecem detalhes como o número 7 estilizado no marcador de datas, o brasão da marinha britânica ou referências cromáticas à paleta dos filmes. São gestos que mantêm o vínculo entre personagem e relógio mesmo longe das telas.
Ao longo de quase trinta anos de parceria, a Omega se tornou parte da identidade de James Bond. A escolha que começou como uma busca por realismo militar se transformou em uma das conexões mais longas e reconhecidas entre cinema e relojoaria. Bond representa precisão, competência e postura. A Omega reforça esses valores com relógios que sempre aparecem nas telas como parte do corpo do personagem, e não como produto inserido artificialmente. A marca encontrou em 007 um personagem que incorpora suas qualidades técnicas e sua narrativa histórica.
Esse equilíbrio entre ficção e materialidade contribuiu para que o público enxergasse os relógios não como instrumentos de fantasia, mas como objetos com vida real no cinema e fora dele.

Hoje, a associação entre James Bond e Omega já está profundamente estabelecida. A geração que cresceu vendo os filmes de Pierce Brosnan e Daniel Craig enxerga o espião como usuário natural do Seamaster, assim como vê o Aston Martin como seu carro e o smoking como sua identidade visual. Bond se tornou meio de construção cultural para a Omega, e a Omega se tornou extensão da linguagem narrativa de Bond.
Mais de sessenta anos depois da estreia do personagem no cinema, e quase trinta anos após a primeira aparição do Seamaster em GoldenEye, essa parceria segue funcionando porque ambos representam valores parecidos. Bond necessita da classe de um Ômega, da precisão e adaptação. A coerência narrativa entre personagem e marca sustenta uma das uniões mais consistentes da cultura dos relógios.
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