Pedro Magiti: Entre a intuição e o impulso criativo

7 de nov. de 2025

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Nascido em São Gonçalo, Pedro Magiti construiu sua linguagem entre o hip-hop, o graffiti e o design. Largou o futebol aos 14 anos para desenhar e nunca mais parou. De lá pra cá, preencheu 22 sketchbooks e criou uma estética própria, misturando referências que vão de Basquiat a Byung-Chul Han.

Entre papéis, tintas e telas, seu processo parte da intuição e da obsessão por onde seu olhar passa. Pedro cria rápido, transforma o impulso em imagem e evita seguir a lógica algorítmica das redes. Inspirado por Virgil Abloh, ele busca traduzir o que observa no cotidiano em formas e cores.

A conversa passa sobre e o início da sua trajetória, as influências que moldaram seu olhar e o processo que transformou sua prática em uma extensão da própria vida. Confira a entrevista completa abaixo.

NOTTHESAMO: Para iniciar, quem é Pedro Magiti fora das redes e além da arte?

Pedro Magiti: Fora das redes, me chamo João Pedro. Sou nascido e criado em São Gonçalo. Amo o Flamengo. Sou tímido, tranquilo, ainda assim bobo e sorrio a toa. Amo história, gosto de ler, larguei o futebol aos 14 anos para seguir a carreira de desenhista de quadrinhos e hoje estou aqui. O quadrinho ainda não saiu, mas quem sabe um dia…



NTS: Quais foram suas inspirações para ter desenvolvido sua estética?

PM: Acredito que o hiphop, o rock, e os videogames foram universos que logo na infância moldaram fortemente a maneira como eu desenhava e os temas. Com o tempo, conheci os renascentistas, os impressionistas, Keith Haring e Basquiat, fui me familiarizando ainda mais com o Graffiti. Já pela adolescência, Virgil e Kanye foram peças centrais para “formalizar o meu eu criativo”, a forma como eu iria traduzir, através da arte, tudo o que eu consumi e pensava. De 2024 pra cá, tenho me inspirado bastante nos livros que leio, seja ficção ou filosofia, mas especialmente no filósofo Byung-Chul-Han.

NTS: Onde surgiu esse apreço pela arte e como você chegou ao patamar atual?

PM: Surgiu através do meu pai. Ele desde muito novo desenhava e nutriu essa paixão ao longo dos anos. Através dele tive acesso a arte, a músicas, e a cultura. Acredito que isso despertou em mim, ainda bem novo, um anseio por essa sensação de descobrimento. O hip-hop, nesse sentido, foi um ponto de virada na minha formação artística. A partir do momento em que comecei a escutar rap, lá pelos meus 10 anos, meus desenhos tomaram outro rumo. De monstros para rappers, skate, e muito graffiti. Passei a conhecer marcas, skatistas, letras. Foi uma explosão. De lá pra cá, nunca mais parei. Levo papel e caneta para todo canto, pra praia, pro show, pro bar. Nos últimos 9 anos, preenchi 22 sketchbooks, e fiz mais umas dezenas de pinturas. Sempre buscando aprender algo novo. E não é questão de desempenho, a criação se tornou parte da minha natureza, preciso criar, e consumir arte, como um equilíbrio.

NTS: Em seus posts, fica claro o desenvolvimento criativo através de cada obra. Poderia contar um pouco sobre como é desenvolvido todo esse processo?

PM: Meu processo “técnico” varia bastante, mas o “conceitual” quase sempre começa na obsessão por algo, seja um objeto, um movimento, um artista, uma música. E posteriormente busco maneiras de transmitir essa extração através da minha arte. Tenho facilidade de ler (visualmente) códigos e elementos. Daí eu crio, e crio e crio, até ficar com a minha cara. Meu processo artístico carrega muita intuição, já o no design nem tanto, é um processo um pouco mais refinado. Minhas obras são feitas em poucas horas ou até mesmo minutos, dificilmente deixo para outro dia, não consigo. Meu olhar se satisfaz com o pouco, gosto de trabalhar espaços, cor, a ausência, as vezes tenho vontade de parar a obra ainda no rascunho por já me satisfazer com ela. Ultimamente tento não pensar em motivos. Crio antes de tudo para eu mesmo. Acho essa era algorítmica e performática da internet muito perigosa para criativos. Tendemos a buscar finalidades para tudo o que criamos, ou consumimos, tentamos traçar linhas e definições para coisas que não precisam. Estamos tão sedentos por direcionamento que não refletimos sobre o que nos é apresentado, refletir parece árduo, parecemos incapazes de construir qualquer movimento artístico futuro. É como se toda arte pudesse ser analisada e categorizada por um banco de dados de IA, que nos entregará os pontos mais importantes, sabe?

NTS: Além de olhar para o futebol, onde você direciona seu olhar para buscar inspiração?

PM: Hoje busco desenvolver mais o meu ato criativo em si, do que o material. Na forma como penso e interpreto o mundo, a arte e o design. O Virgil é minha maior inspiração para esse comportamento. Ele fez eu me apaixonar por design, e por conta dele busco sempre questionar meus próprios limites e as fronteiras que me cercam. Me desafio a olhar para o que passa batido e aplicar o que extraí no meu design. Assim o mundo se revela diariamente em uma nova forma para mim. Também busco correlacionar diferentes expressões artísticas como audiovisual, música, literatura. Tento pensar a obra como esse comportamento fluido que pode se manifestar em diversos meios.

NTS: Entre os artistas que você acompanha, qual você indicaria para alguém que não conhece?

PM: Meu mano Leandro Pinter, gênio. Conheci ele ano passado e logo virei fã. Tenho me amarrado nas obras dele. Logo menos vamos soltar uma série juntos.

NTS: Os concepts fazem parte do desenvolvimento da sua arte, como uma forma de expandir além das pinturas?

PM: Na real, os concepts são frutos de um sonho de adolescente que é trabalhar para a Nike. Idealizo camisas de time desde muito novo. Com o tempo essa ideia foi amadurecendo, até que lancei meu primeiro projeto de concepts — UTOPIA. Como não tenho verba para materializar meus projetos, nem conhecimento técnico o suficiente, dou vida a essas ideias de forma gráfica. Felizmente deu muito certo, tanto na questão do alcance, quanto no meu desenvolvimento pessoal. Tive a oportunidade de realizar meus primeiros trabalhos de criação de sportswear, e conheci bastante gente que trabalham com esse meio.

NTS: Se você tivesse que dar uma dica para qualquer pessoa, o que falaria?

PM: Observe e escute mais o outro, leia, evite distrações, pense, se politize, vá pra rua, e encontre o que você ama.

Assistente de redação

Assistente de redação