As mulheres que mudaram a história da ciência
Hoje, 11 de fevereiro, comemoramos o Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência. Iniciando com o filme “Estrelas Além do Tempo”, que trouxe à tona a história dessas mulheres, que por muito tempo ficaram à margem dos livros, damos luz também às mulheres brasileiras - que tem uma forte presença na ciência. Numa junção de talento e determinação, elas deixaram um legado imensurável na história da ciência e da exploração espacial.
O filme “Estrelas Além do Tempo”, de 2016, é baseado no livro da escritora Margot Lee Sheterly. Conta a história de três cientistas negras que desempenharam um papel na corrida espacial dos Estados Unidos durante os anos 60. Trabalhando na NASA, elas enfrentaram o racismo e o sexismo da época enquanto ajudavam a colocar os primeiros astronautas americanos em órbita.
As personagens do filme são: Katharine Johnson, responsável por fazer os cálculos de reentrada na cápsula espacial; Dorothy Vaughan, uma das únicas supervisoras (não formalmente) negras da NASA e Mary Jackson, primeira engenheira negra da NASA. Elas eram consideradas ‘computadores humanos’ e foram contratadas para fazerem os cálculos e análises de trajetórias, que mais tarde, com a ajuda dos mainframes da IBM, criariam os cálculos que permitiram que John Glenn se tornasse o primeiro astronauta americano a orbitar a Terra.
Katherine Johnson:
Desde criança, mostrava um talento surpreendente para a matemática. Concluiu o ensino médio aos 14 anos, e aos 18 anos se formou em matemática e francês, depois de ter feito todos os cursos de matemática possíveis. Em 1953, ela entrou para a NASA, e passou a ser um dos “computadores humanos”. Seu principal trabalho era ler os dados das caixas-pretas de aviões e realizar outras tarefas matemáticas precisas. Certo dia, ela foi designada temporariamente para ajudar uma equipe de pesquisa de voo, composta apenas por homens. Seu conhecimento em geometria analítica a fez conquistar a confiança dos colegas e superiores homens, a ponto de esquecerem de mandá-la de volta para seu antigo trabalho. Mas não foi tão simples assim, ela teve que enfrentar barreiras de raça e gênero, como por exemplo usar um banheiro que ficava a aproximadamente 40 minutos a pé da sua estação de trabalho, pois não podia usar o banheiro de brancos, ou ter a xícara de café separa dos demais. Mas nada fez com que ela desistisse do seu trabalho. Em 2015, foi condecorada com a Medalha Presidencial da Liberdade, a maior honra civil dos Estados Unidos.
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“Eu contava tudo. Contava os passos na rua, os passos até a igreja, o número de pratos que eu tinha lavado. Tudo o que pudesse ser contado.
Mary Jackson:
Foi uma afro-americana formada em matemática e física. Seus princípios de vida eram o amor pela ciência e o compromisso de melhorar a vida das pessoas à sua volta. Ela iniciou sua carreira na NASA como Computador Humano - se especializou em analisar dados de experimentos com túnel de vento e com aeronaves nos experimentos conduzidos pela NASA. Também foi a primeira mulher negra a se tornar engenheira, depois de tanto lutar contra as regras existentes na época, em que mulheres negras não podiam estudar com homens. Anos depois, passou a trabalhar na diversidade e inclusão na NASA, incentivando a contratação e promoção de mulheres e pessoas negras na agência.
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Dorothy Vaughan:
Primeira mulher negra a ser promovida supervisora do departamento na NASA. Foi uma líder em seu espaço de trabalho, incentivando as carreiras de Katherine e Mary, as indicando a assumir novas posições. Era muito inteligente e teve uma sacada quando os computadores não humanos da IBM foram introduzidos na NASA - foi responsável por programar os mainframes e por ensinar todas as mulheres do departamento que liderava. Foi umas das primeiras programadoras de computador, tornando-se proficiente em linguagens de computação, como FORTRAN, por exemplo.
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O filme trouxe à tona a história dessas mulheres que, por muito tempo, ficaram à margem dos livros de história. Além de inspirar meninas e mulheres a seguirem carreiras na ciência e tecnologia, "Estrelas Além do Tempo" reforça a importância da diversidade na inovação e no progresso científico. Em 2021, a NASA renomeou um de seus prédios mais importantes como Edifício Mary W. Jackson, em homenagem à engenheira.
Aqui, são apenas três mulheres que mudaram a história da NASA. Já no Brasil, a presença feminina na ciência vem de anos. Como em muitas partes do mundo, essas cientistas enfrentaram e ainda enfrentam desafios, incluindo falta de reconhecimento e desigualdade de oportunidades.
Desempenhando um papel essencial na pesquisa e no desenvolvimento de soluções para grandes desafios da humanidades, elas provam que a ciência precisa de diversidade para avançar.
Pioneiras da ciência no Brasil
Bertha Lutz (1894-1976) – A bióloga que também foi uma líder feminista
Bertha Lutz foi uma das primeiras mulheres cientistas do Brasil. Zoóloga e pesquisadora do Museu Nacional, especializou-se em anfíbios e descobriu novas espécies. Mas sua atuação não ficou apenas na ciência: ela foi uma das principais responsáveis pela luta pelo direito ao voto feminino no Brasil.
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Johanna Döbereiner (1924-2000) – A cientista que revolucionou a agricultura
Engenheira agrônoma e microbiologista, Johanna Döbereiner teve um impacto direto na produção de alimentos no Brasil. Suas pesquisas sobre a fixação biológica de nitrogênio permitiram a redução do uso de fertilizantes químicos, tornando a produção de soja no país mais sustentável. Sua contribuição foi tão importante que ela chegou a ser indicada ao Prêmio Nobel.
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Pesquisas lideradas por brasileiras que mudaram o mundo
Mayana Zatz – Genética e pesquisas sobre doenças raras
Uma das cientistas mais renomadas do Brasil, Mayana Zatz é uma referência internacional na pesquisa genética. Professora da USP, seu trabalho se concentra no estudo de doenças neuromusculares e na aplicação da genética para tratar problemas de saúde. Sua pesquisa foi essencial para identificar genes relacionados à distrofia muscular e outras doenças raras.
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Sônia Guimarães – Primeira mulher negra doutora em Física no Brasil
Especialista em semicondutores e nanotecnologia, Sônia Guimarães foi a primeira mulher negra a se tornar doutora em Física no Brasil. Professora do ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica), ela trabalha para incentivar mais meninas negras a seguirem carreiras científicas.
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Celina Turchi – A cientista que ligou o Zika vírus à microcefalia
Durante o surto de Zika vírus no Brasil, a médica e epidemiologista Celina Turchi liderou pesquisas que comprovaram a relação entre o vírus e casos de microcefalia em bebês. Seu trabalho foi fundamental para alertar o mundo sobre os riscos da doença e ajudou a formular políticas públicas para combater sua disseminação.
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Jaqueline Goes de Jesus – A cientista que sequenciou o genoma do coronavírus
Em 2020, a biomédica Jaqueline Goes de Jesus fez história ao liderar a equipe que sequenciou o genoma do coronavírus em apenas 48 horas após o primeiro caso no Brasil. Esse avanço foi crucial para entender a disseminação do vírus e contribuir para o desenvolvimento de vacinas.
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Natália Pasternak – A voz da ciência na pandemia
Microbiologista, pesquisadora e divulgadora científica, Natália Pasternak teve um papel importante no combate à desinformação durante a pandemia de COVID-19. Seu trabalho ajudou a esclarecer a população sobre a importância da ciência e da vacinação.
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O futuro da ciência no Brasil: mais mulheres na pesquisa
No Brasil, as mulheres representam 54% dos pesquisadores, mas ainda são minoria em cargos de liderança. Além disso, a disparidade de financiamento para pesquisas lideradas por mulheres é um desafio.
Iniciativas como Meninas na Ciência, Programa Mulher e Ciência e Projeto Garotas STEM têm incentivado meninas a se interessarem por carreiras científicas, garantindo que mais nomes femininos brilhem na ciência brasileira no futuro.