Era Gaga: reinvenção, poder e liberdade

6 de mai. de 2025

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Stefani Joanne Angelina Germanotta, reconhecida mundialmente como Lady Gaga, nasceu em 28 de março de 1986, em Nova York. Filha de pais ítalo-americanos, ela cresceu em uma família musical e desde cedo demonstrou uma inclinação para as artes. Aos quatro anos, começou o início do seu primeiro contato prático com a música estudando piano, o que a levou aos 13 anos compor sua primeira música autoral. Sua paixão pela música a levou a se formar na prestigiada Tisch School of the Arts, na Universidade de Nova York, onde começou a ganhar os primeiros holofotes como cantora e compositora.

ASCENSÃO DE SUA CARREIRA

A grande virada de Lady Gaga ocorreu em 2008 com o lançamento de seu álbum de estreia, The Fame. O disco trouxe à tona o single “Just Dance”, que rapidamente se tornou um hit global, seguido por “Poker Face”. O som eletropop e as performances marcantes começaram a definir a carreira de Gaga. The Fame não só alavancou Gaga para a fama internacional, como também inaugurou a estética de pop de vanguarda, cheia de excessos, surrealismo e uma ironia contida.

Gaga não era apenas uma cantora pop, e sim, uma artista expressionista que usava o palco de maneira visceral, quebrando as normas da indústria da música e da cultura pop em geral. As performances de Gaga eram espetáculos visuais, repletos de simbolismos e, muitas vezes, elementos teatrais.

E no aspecto musical, quando falamos sobre sucesso — Gaga desde o início é referência. Seu portfólio inclui hits revolucionários que não só a definiram como uma das rainhas do pop, como também deixaram um marco na música pop e nas gerações que a acompanham. Um dos percursores para ascensão foi o álbum “The Fame Monster”, que é considerado uma extensão de The Fame, mas com uma abordagem mais sombria e introspectiva. Lançado como um EP, The Fame Monster contém alguns dos maiores hits da carreira de Gaga, como “Bad Romance”, “Alejandro”, “Monster” e “Speechless”. Através disso, a artista se solidificou como uma das cantoras pop mais disruptivas e inovadoras do século, reconhecida pela fusão de glam, gótico e a busca pela exploração das sombras da fama.

Born This Way, por outro lado é uma obra-prima de empoderamento e identidade. A faixa se tornou um hino para a comunidade LGBTQIAPN+ e para todos que sentem que não se encaixam nos moldes tradicionais da sociedade. Gaga não se limitou a criar apenas músicas dançantes, como muito tem se visto hoje, pelo contrário trouxe um novo discurso social pautado na arte. O álbum foi aclamado por sua ousadia por ter abordado temas como igualdade, autoaceitação e os direitos humanos.

Desde o início de sua carreira, Lady Gaga sempre usou sua plataforma para defender causas sociais. E, não há dúvidas que ela se tornou uma das maiores defensoras dos direitos LGBTQ+ e da saúde mental, criando a fundação ‘Born This Way’, que apoia jovens em situação de risco e trabalha pela igualdade e inclusão. Ela também se posicionou firmemente contra o bullying e o assédio sexual, criando uma narrativa de resistência. Um exemplo até meio teatral de como ela se posiciona através da musica e da moda, é seu icônico look com um vestido de carne no MTV Video Music Awards de 2010 que foi, em parte, uma forma de protesto contra a objetificação das mulheres.

Em Artpop, ela mergulha mais fundo no experimentalismo, combinando pop, eletrônica e arte visual de maneira nunca antes vista. A era Artpop trouxe à tona a parceria com o artista Jeff Koons para a capa do álbum e uma série de performances multissensoriais que fizeram a crítica dividir opiniões. Mesmo assim, músicas como “Applause” e “Do What U Want” provaram que a artista ainda estava na vanguarda da música pop.

Com ‘Joanne’, Lady Gaga deu uma guinada em sua sonoridade, optando por um som mais country e folk, quebrando os estereótipos que a acompanhavam. Este álbum foi profundamente pessoal, abordando temas de perda, identidade e as raízes de sua família. “Million Reasons” é um álbum marcante que alcançou todos ouvidos do mundo, tornando-se um dos maiores sucessos da era e mostrou uma Gaga mais vulnerável e introspectiva.

Após um hiato musical, Lady Gaga retornou com ‘Chromatica’, um álbum que resgatou o glamour e a excessividade das primeiras fases de sua carreira. Faixas como “Stupid Love” e “Rain On Me” (com Ariana Grande) mostraram que Gaga estava mais uma vez à frente do seu tempo, combinando batidas viciantes com uma mensagem de superação e cura emocional. O álbum também é uma homenagem ao dance pop, com referências às suas raízes musicais e o desejo de devolver a música aos clubes, após uma era de introspecção.

PRÊMIOS

Lady Gaga não é apenas uma artista de sucesso comercial, mas também uma figura icônica reconhecida pela crítica. Sua carreira é marcada por inúmeros prêmios e honrarias. Em 2019, Gaga ganhou o Oscar de Melhor Canção Original por “Shallow”, da trilha sonora de ‘A Star Is Born’. Este prêmio consolidou seu status como uma artista multifacetada, capaz de transitar entre a música pop e o cinema com igual maestria.

Ao longo de sua carreira, Gaga conquistou 13 prêmios Grammy, em diversas categorias, desde Melhor Álbum de Dance até Melhor Performance Pop Solo. A cantora também é uma constante nos MTV VMA's, ganhando prêmios por vídeos inovadores e performances inesquecíveis.

Além dos prêmios, Gaga tem sido reconhecida por sua influência na música e na cultura pop. Ela transformou a indústria musical e ajudou a redefinir o papel da mulher na música, tornando-se uma figura central do feminismo contemporâneo, especialmente no que diz respeito à liberdade de expressão e à inclusão. Lady Gaga sempre foi conhecida por suas colaborações com outros artistas, o que só expandiu sua influência na música. Colaborou com ícones como Beyoncé em “Video Phone” e “Telephone”, e com Tony Bennett no álbum Cheek to Cheek (2014), um trabalho de jazz que demonstrou seu alcance vocal e sua capacidade de se adaptar a qualquer estilo musical.

Sua parceria com Bradley Cooper em “A Star Is Born” também foi crucial para seu crescimento como artista, mostrando que ela não era apenas uma estrela pop, mas uma intérprete versátil, capaz de atuar e cantar em alto nível.

RELAÇÃO COM A MODA E PERFORMANCE

A relação entre Gaga e a moda sempre foi forte, mas atingiu um novo patamar em 2009, quando ela começou a trabalhar com o estilista francês Jean Paul Gaultier, entre outros designers renomados. Cada look que ela usa é um reflexo de sua identidade multifacetada e de sua capacidade de se reinventar constantemente.

Um dos looks mais polêmicos e icônicos da carreira de Gaga foi o vestido de carne que ela usou para a cerimônia do MTV Video Music Awards de 2010. Criado pelo designer Franc Fernandez, o vestido foi uma poderosa declaração contra a objetificação das mulheres e a superficialidade da indústria da moda. Gaga disse que o vestido representava um protesto contra a falta de direitos das mulheres e a maneira como a mídia as trata como objetos. O visual gerou enorme controvérsia, mas também consolidou sua imagem como uma artista disposta a fazer declarações provocativas através da moda.

Durante sua apresentação no Brit Awards de 2010, Lady Gaga usou um chapéu estilo "Kremlin", uma peça de cabeça feita por Philip Treacy, o renomado designer de chapéus britânico. O visual peculiar se tornou uma extensão da sua estética vanguardista e chamou a atenção do público internacional, reforçando a sua imagem como uma artista que não tem medo de romper com os padrões estabelecidos da moda.

Gaga também fez história no MTV Video Music Awards de 2009, quando apareceu com um vestido inflável e transparente, projetado por Gareth Pugh. O visual "bolha" foi uma afirmação de sua identidade como uma artista que não tem medo de ser diferente. Ele também se alinhou ao tema de seu primeiro álbum The Fame, onde a obsessão pela fama e pela estética "inflada" e exagerada foi explorada.

O videoclipe de "Bad Romance", um dos maiores hits de Gaga, apresentou uma série de looks que definiram a estética da era The Fame Monster. Entre os looks mais marcantes, está o visual de gótica futurista que Gaga usa durante a parte do videoclipe em que ela é "vendida" como uma escrava. Com uma maquiagem pesada, cabelos platinados e roupas de couro, ela estabeleceu uma narrativa visual que mistura sensualidade com poder, um conceito que se refletiu em muitas de suas escolhas de moda subsequentes.

Durante a era Artpop, Lady Gaga experimentou com looks ainda mais vanguardistas, muitas vezes criando visuais inspirados em arte contemporânea. Uma das mais ousadas foi o conjunto gráfico e futurista que ela usou para a capa de Artpop. Com uma mistura de roupas minimalistas e acessórios de design inovador, Gaga se vestiu como se fosse uma obra de arte ambulante, refletindo seu desejo de fundir música e arte visual.

Quando Gaga fez parceria com o lendário cantor de jazz Tony Bennett para o álbum Cheek to Cheek (2014), sua imagem mudou para um estilo mais sofisticado e clássico. Durante o lançamento do álbum, ela usou vestidos luxuosos e elegantes, sempre com um toque de glamour antigo, inspirado na era de ouro de Hollywood. A capa do álbum, na qual ela aparece com um vestido de gala e maquiagem suave, refletiu a transição de Gaga para uma nova fase artística mais refinada.

O Met Gala de 2019 foi uma das aparições mais memoráveis de Lady Gaga no cenário da moda. Com o tema “Camp: Notes on Fashion”, Gaga desfilou no evento com um look que desafiava as convenções de "camp" e "exagero". Ela usou uma série de roupas em camadas, começando com uma longa capa rosa de Brandon Maxwell e se despojando para revelar uma série de outros trajes mais reveladores, antes de chegar a um conjunto de lingerie, criando uma performance de moda que foi, sem dúvida, uma das mais ousadas e divertidas da noite.

Fiel a alguns dos designers mais consolidados como Alexander McQueen, Giambattista Valli, Donatella Versace e Jean Paul Gaultier, Lady Gaga se tornou uma musa e um campo de experimentação para esses criadores, que viam nela uma tela em branco para suas próprias visões artísticas. A moda, para Gaga, nunca foi somente sobre estética, mas sobre comunicar uma ideia e criar narrativas — para também, dar visibilidade às causas que lhe são importantes, como os direitos LGBTQ+, igualdade de gênero e liberdade de expressão. Seus looks se tornaram símbolos de um movimento cultural que desafiava padrões estéticos, culturais e sociais, tornando-o look como vindo algo imagético do que seria ser uma estrela pop.

A participação de Lady Gaga em American Horror Story marcou um momento decisivo na sua carreira como atriz. Ela entrou na série na quinta temporada, intitulada Hotel (2015), interpretando a enigmática e sedutora Condessa Elizabeth, uma vampira fashionista e imortal, dona do Hotel Cortez. A personagem é fria, manipuladora, e com estilo presença forte nos eu visual — do qual casou perfeitamente com a estética exagerada e macabra da série.

Sua atuação surpreendeu tanto o público quanto a crítica, rendendo a Gaga o Globo de Ouro de Melhor Atriz em Minissérie ou Filme para TV em 2016. Com isso, ela provou que não era apenas uma performer musical, mas uma artista multifacetada, capaz de dominar diferentes linguagens criativas. Gaga trouxe à personagem uma intensidade teatral e uma sofisticação visual que ecoam suas influências artísticas, como o glamour sombrio de McQueen e o drama performático de Freddie Mercury.

Além de Hotel, ela também participou da sexta temporada, Roanoke (2016), interpretando a Antiga, uma bruxa da floresta conectada a forças pagãs — um papel menor, mas ainda simbólico em sua trajetória de explorar figuras místicas e marginais.

Essa experiência em AHS reforçou o poder camaleônico de Gaga e abriu caminho para seu papel aclamado em Nasce Uma Estrela (A Star is Born), consolidando sua transição do pop para o cinema.

PAIXÃO PELO CINEMA

Lady Gaga não se contentou apenas em dominar os palcos e o mundo da moda — como também conquistou o cinema. Sua estreia veio com Nasce Uma Estrela (2018), onde interpretou Ally, uma jovem cantora cheia de talento e inseguranças, ao lado de Bradley Cooper. A performance rendeu elogios unânimes, uma indicação ao Oscar de Melhor Atriz e a vitória com “Shallow” na categoria de Melhor Canção Original. Foi ali que Gaga provou que não precisava de figurinos extravagantes para emocionar sua verdade.

Em Casa Gucci (2021), Gaga foi mais fundo ainda, encarnando Patrizia Reggiani, a socialite que mandou matar o herdeiro da Gucci. Ela viveu a personagem de forma intensa dentro e fora das câmeras por quase um ano, numa atuação carregada de obsessão, ambição e decadência. Apesar das polêmicas, foi indicada a importantes prêmios como BAFTA, SAG Awards e Critics Choice, solidificando sua presença no cinema de alto nível.

Em 2024, Gaga voltou aos holofotes com sua versão de Harley Quinn em Coringa: Folie à Deux, contracenando com Joaquin Phoenix. Numa abordagem completamente diferente das versões anteriores da personagem, Gaga trouxe um lado mais sombrio, emocional e perturbador de Harley, numa narrativa musical densa e psicológica. A performance foi elogiada por sua ousadia, e sua entrega vocal e cênica brilhou nas sequências musicais do filme.

Para mergulhar ainda mais na personagem, Gaga lançou o álbum Harlequin uma semana antes do filme, expandindo a construção de Harley Quinn para além da tela, com uma trilha sonora original marcada por jazz, ópera e art pop — mais uma prova de que sua arte não tem limites.

De Ally a Harley, Gaga mostrou que não está no cinema como coadjuvante da própria fama — ela está ali como atriz, corpo e alma, pronta para se reinventar, provocar e emocionar. Uma estrela que brilha em qualquer formato.

INFLUÊNCIAS MUSICAIS

Lady Gaga construiu sua identidade artística inspirada em ícones que redefiniram a cultura pop com ousadia e liberdade criativa. De David Bowie, herdou a arte da reinvenção e o uso de personas como extensão da performance; de Madonna, a coragem de ser provocadora e inovadora, mesmo sob julgamento; com Freddie Mercury, aprendeu a transformar intensidade emocional em espetáculo; e em Elton John encontrou não só um mentor, mas um espelho de autenticidade e ativismo. Essas referências moldaram Gaga como uma artista que vê a música não apenas como som, mas como narrativa visual, impacto cultural e manifesto pessoal. Como ela mesma disse: “David Bowie foi o maior artista de todos os tempos. Ele mostrou que ser um ícone não é só sobre fazer música; é sobre se reinventar constantemente, desafiando convenções e aceitando a liberdade criativa.”

REFERÊNCIAS DA MODA

Lady Gaga não veste roupas — ela encena ideias. Inspirada por criadores que viram a moda como arte e subversão, ela fez das passarelas um palco pessoal. Alexander McQueen a ensinou que vestir é provocar, emocionar, chocar; suas criações teatrais moldaram a estética ousada de Gaga desde o início. Como disse sobre McQueen: “Ele me ensinou que a moda pode ser uma declaração de quem você é, uma provocação, uma arte.” Já Gianni Versace trouxe o glamour exagerado e a sensualidade brilhante que ela incorpora com maestria em performances e aparições icônicas. E com Jean Paul Gaultier, Gaga encontrou o equilíbrio entre o pop e o vanguardista, usando a moda como linguagem direta de expressão.

INFLUÊNCIAS CULTURAIS/SOCIAIS

“As drag queens me ensinaram que podemos ser quem queremos ser. Elas são artistas… e isso me inspirou profundamente.” Gaga é fruto de uma cultura que celebra o exagero, a liberdade e a arte como resistência. Desde cedo, encontrou na cena drag de Nova York um espelho de autenticidade e ousadia — artistas como RuPaul a inspiraram a romper com padrões de gênero e abraçar a performance como identidade. Ao mesmo tempo, mergulhou no universo de Andy Warhol e da Pop Art, absorvendo a ideia de que fama, repetição e imagem podem ser ferramentas críticas e criativas. Essa fusão de referências transformou Gaga em algo maior do que uma popstar: uma figura que usa a cultura para desafiar normas e provocar conversas.


LEGADO

Lady Gaga é mais do que uma superestrela pop – ela é uma verdadeira força da natureza, cuja carreira transcendental redefiniu a música e a cultura pop do século XXI. Sua trajetória de constante reinvenção, de musicalidade ousada e de compromisso com causas sociais faz dela uma das artistas mais influentes e importantes da história da música.

Com seus álbuns inovadores, colaborações de peso e contribuições para pautas sociais, Gaga não só conquistou prêmios, mas o respeito de uma legião de fãs ao redor do mundo. Sua jornada é um lembrete constante de que, ao quebrar barreiras, podemos criar um espaço onde todos podem ser verdadeiramente quem são.