Supreme x Louis Vuitton - Uma Análise Além da Estética

23 de jan. de 2017

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Mesmo sem grandes surpresas em termos de criação, a colaboração entre a francesa Louis Vuitton e a nova-iorquina Supreme gerou muita polêmica, merecendo olhares atenciosos e uma análise que vá além da parte estética, explorando os pontos de convergência entre as duas marcas ao longo dos últimos anos.

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Raekwon para Supreme (2005). O retrato junto ao seu segurança e um boneco do personagem Elmo deu início as famosas "photo tees".[/caption]

Considerada uma das pioneiras do streetwear e, recentemente, um fenômeno global, a Supreme teve seu início em 1994 através de James Jebbia, que já vivenciava o mercado como dono da loja Union NYC (1989-2009) e, posteriormente, através de seu trabalho junto a Shawn Stussy. A marca traz em suas coleções ícones da cultura de Nova Iorque e, muitas vezes, personalidades relevantes no mundo da música, partindo desde nomes como Raekwon, que deu início as "photo tees" em 2005, passando por personagens fictícios como Kermit the Frog, a presença da cantora pop Lady Gaga na campanha de 2011 da Purple Magazine  e, mais recentemente, a colaboração com a banda de thrash metal Slayer. A diversidade e amplitude da marca não são de se fazer pouco caso, já que em sua bagagem de parcerias temos grandes nomes como Comme dês Garçons, The North Face, Schott NYC, Levi's e outras mais, além das colaborações com artistas como Murakami, Robert Longo e Richard Prince (que posteriormente veio a desenvolver uma linha de bolsas com a LV).

O ponto de encontro entre ambas as marcas começou quando, em 2000, a Supreme recebeu uma ordem de cease & desist (pedido para cessar uma atividade, sob pena de ação judicial) da Louis Vuitton. O motivo da intimação foi o lançamento, sem autorização, de uma linha de vestuário e acessórios que incorporavam uma reinterpretação da famosa estampa da grife francesa. A ameaça fez com que a Supreme retirasse os produtos de suas prateleiras apenas duas semanas após o lançamento da coleção. A situação resultou, algum tempo após seu acontecimento, em itens considerados raros e com um valor de revenda alto para o mercado.

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Desfilada em Paris junto a coleção de Outono/Inverno 2017 da Louis Vuitton, a colaboração explorou as mais triviais, porém de suma importância, características de ambas as marcas. Box logos vermelhos e pretos junto aos monogramas estampam grande parte dos itens, com exceção, em partes, daqueles que exibem influência militar através da camuflagem. Hoje, dezessete anos após o primeiro contato entre as duas marcas, a linha desenvolvida apresenta quase que releituras oficiais das peças produzidas anteriormente e que haviam sido consideradas como plágio.

A presença inédita de uma legítima marca de streetwear nas passarelas da semana de moda de Paris gera discussões e divide opiniões de entusiastas desse lifestyle. A união com a alta-costura consolidou-se de forma repentina e estrondosa, tornando quase inexistente aquilo que já vinha sendo uma linha tênue entre ambos, além  de trazer à tona questionamentos a respeito do que está por vir.

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Cada vez mais as empresas de luxo vem buscando conquistar consumidores jovens, marcados pelo termo "Millennials", ou geração Y, cuja classe é composta por indivíduos nascidos entre os anos 80 e 2000. Sendo considerados atualmente como uma das mais importantes classes consumidoras do mercado, uma forte característica dessa geração é buscar experiências e exclusividade em meio aos produtos e marcas.

É nesse ponto em que a Supreme entra, trazendo consigo uma fama moldada por vendedores arrogantes, ótimos skate videos, muita bagagem cultural, autenticidade e, recentemente, sendo vista como símbolo de status entre apreciadores e compradores. Todos os itens citados anteriormente somados a Louis Vuitton, essa que é considerada uma das marcas mais importantes da alta-costura, trazem ao mercado uma experiência inédita e contrastante.

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- Kim Jones em entrevista para o site WWD.[/caption]

"Você não pode ter uma conversa sobre menswear em Nova Iorque sem falar de Supreme, porque é um fenômeno global massivo."

 
 

A demasiada popularização da marca já não é nenhuma novidade para quem a acompanha, o que faz com que o sentimento de protecionismo não se manifeste. O impacto do streetwear já podia ser observado de forma sutil há alguns anos nas passarelas de estilistas como Maxwell Osbourne e Dao-Yi Chow (Public School). Interferências vindas de diversas subculturas e também do esporte moldam um jeito de se vestir autêntico e característico de um movimento recém-formado entre jovens ao redor do globo.

A participação efetiva da cultura de rua em uma fashion week só reafirma a quebra de fronteiras na moda e nos faz criar expectativas, com certa cautela e ansiosidade, quanto aos próximos passos que serão dados dentro dessa relação.