Uma conversa com Pegge, artista de SP

Artista plástico, Pegge é nascido e criado em Ermelino Matarazzo, na capital de São Paulo. Suas obras representam artistas, atletas, personagens e acima de tudo, a si mesmo. Conversamos um pouco com ele sobre suas referências, conceitos e principalmente, como suas “obras não são a resposta, mas abrem discussões” – confira abaixo.

Suas referências vêm da música, de desenhos, amigos, enfim, do seu redor. Qual é a importância de reunir tantas e como você projeta elas em suas obras?

  • Sinto que quando coloco essas referências eu mostro a minha humanidade e um pouco da minha história e de que como é importante a ação do registro. Registrar por meio de pinturas as músicas que eu ouço, quem são meus amigos, o que eu assisto, tudo isso me compõe. Eu mostro que eu existo como indivíduo.

Ultimamente, sua arte mescla músicos, atletas – sobretudo pessoas que você admira – com mangas e dizeres em japonês. Qual é seu processo por trás desses conceitos e como acha que isso traz profundidade para sua arte?

  • Muitas dessas obras com referências de mídia vem de uma urgência de protagonismo. Quando eu pinto Kobe Bryant – que é um herói do basquete – e coloco ele com alguma iluminação dramática, eu remeto às ilustrações dos protagonistas de mangá que eu lia. Nenhum deles se parecia comigo, mas alguns vilões sim. Então fazendo isso eu trago a imagem de uma figura conhecida e destrincho ela até ela virar um arquétipo de herói e pinto em algumas poses clássicas de anime.

Eu tô pintando o mangá que eu queria ter lido lá atrás quando eu era mais novo e que me fez querer ser artista.

Um de seus princípios é de suas obras abrirem discussões e não serem a resposta. Quais discussões você tem a vontade de levar para frente com sua arte?

  • Eu peguei essa frase de uma entrevista do Spike Lee. Eu acho que como artistas negros nos temos sempre mais de uma camada no nosso trabalho, porque querendo ou não, somos vozes que são ouvidas por pessoas que parecem com a gente. Assim, talvez trazer uma nova visão sobre a realidade. Eu questiono tudo o que eu posso no meu trabalho.

Eu não estou em galeria por causa disso, nenhuma vai ver minha luta como eu. Eu sendo artista independente abro um novo caminho e, a questão se as galerias são realmente o único caminho pra seguir nesse meio.

Como um artista que flutua dentre várias expressões, em que momento você se encontra agora?

  • Tentando muita coisas novas, me naturalizei com tinta óleo e acabei percebendo rápido o que ela poderia fazer e o que não. Então, ano passado estudei aquarela, guache, giz pastel, Nankin e tatuagem também.

Como você vê a grandiosidade e a importância de representar negros em seus quadros?

  • Eu acho que mais do que representar negros nas obras o mais importante é ver artistas negros pintando.

Sempre houve negros sendo pintados mas sempre por artistas brancos que tiravam a humanidade e só estereotipavam pessoas negras. Acho que hoje pra mim é muito mais gratificante conhecer artistas negros que realmente representam.

Você pinta desde 2018. Desde sua primeira tela, o que sente que mudou no seu processo criativo e inclusive em suas obras finais?

  • Eu acho que a certeza das coisas e saber o que eu preciso fazer pra chegar em qualquer resultado. Eu aprendi tudo sozinho pegando uma tela da casa da minha mãe, pincel de maquiagem da minha irmã e tinta escolar. Por fim, eu comecei só com a vontade de fazer alguma coisa e somente depois, estudei muitas misturas de cores e o que significava pintar figurativo. Eu sempre desenhei então anatomia e perspectiva eram tranquilo. Pintar me ajudou muito a libertar meu senso de composição de obras e desenhos, entender as possibilidades que as cores te dão.

O que mudou é que agora eu sei o que eu gosto de pintar.

Seus auto-retratos são variados. Como você gosta de se representar em uma tela e em que momento decide se pintar?

  • A ideia por trás dos auto-retratos é quebrar a imagem que o sistema tem de mim e o estereótipo que ele me coloca. Então, quando eu me retrato ouvindo jazz, me retrato sentindo algo, me retrato vivo ou lendo um mangá eu enfrento uma sociedade inteira que diz que não era pra eu ser assim – eu decidi me pintar toda vez que via que o que eu estava fazendo não era pra eu estar fazendo, de acordo com eles. Mostrando que sou eu que faço minha história.

Quais são suas projeções para esse ano, seja em quesito profissional, artístico e pessoal?

  • Quero muito expor mais vezes esse ano, viajar mais com meu trabalho e algum projeto fora do Brasil, sinto que é o que preciso nesse momento da minha carreira. Talvez lançar algum curso de pintura, afinal, comecei a pintar por causa de uma oficina de grafite lá na minha quebrada em Ermelino Matarazzo. Sinto que tenho que devolver pro mundo esses ensinamentos também.

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