Entre diários e batidas: a intimidade de NandaTsunami em ‘É disso que eu me alimento’
Nanda começou a se aproximar da música como quem busca aprender um novo idioma para falar com o próprio coração. Inspirada por diários, paixões, desilusões e transformações, ela construiu um álbum que é, antes de tudo, um espelho de si mesma — mas que também reflete quem se permite sentir. Entre suas referências que vão de SZA a Cazuza, passando por sonoridades como house e afrobeat, o trabalho dela mergulha nas vulnerabilidades com coragem e entrega.
Conversamos com Nanda sobre o processo de se colocar em cada faixa, os amores que a alimentam e a libertação que vem ao expor as feridas. Leia a entrevista completa.

Qual foi o seu primeiro contato com a música? É algo que te acompanha desde sua infância ou foi com o passar do tempo que começou a se desenvolver?
Meu contato com a música na infância sempre foi meio raso, minha família gostava mais de forró e era algo mais em dias comemorativos. Minha mãe gostava muito da Joelma e na nossa casa ela era tipo uma diva pop, a gente fazia as coreografias de show dela em cima da mesa de casa. Mas fazer música sempre me pareceu algo muito muito distante até a minha adolescência e início da vida adulta. Na pandemia que eu comecei a testar e talvez pensar nisso como um lugar pra me expressar.

O que te motivou a criar ‘É disso que eu me alimento’?
Eu gosto muito de fazer músicas que são o que eu “preciso” escutar no momento e passei por um período onde eu estava sentindo falta de escutar algo que falasse um pouco mais sobre meu coração, que estava completamente partido na época em que comecei a escrever.

Como se deu processo criativo para o novo álbum? Desde o nascimento da ideia até o momento em que você ouviu ele finalizado pela primeira vez.
O projeto em si nasceu num momento onde eu tinha acabado de começar um diário, onde eu estava colocando pra fora tudo que estava sentindo e pensando. Isso me guiou a entender melhor o caminho que minha mente estava fazendo, entre o caminho de apaixonar, sofrer, se desiludir e depois de aceitação, que a gente passa quando as coisas não funcionam da forma que a gente quer… A primeira faixa, Segredo e Feitiço, que foi lançada como single também foi um start pra eu procurar me aprofundar um pouco mais nas minhas sombras, entender como eu estava lidando comigo mesma nesses relacionamentos. Ela também marcou o período de início dessa paixão que me guiou durante o processo criativo do álbum.

Quais foram as principais referências sonoras ou visuais que te guiaram nesse álbum?
Acho que as referências sonoras vieram muito do Drake, SZA, A$AP Rocky e Marina Sena. Eu estava escutando muito Cazuza e outros grandes nomes do MPB na época também, eu queria muito entender como eles conseguiam pegar sentimentos e escrever de uma forma que você consegue entender, visualizar e que também atravessou várias gerações. Visualmente, me inspirei muito em casamentos e em representações de mulheres feiticeiras.


Você se arriscou em sonoridades ou experimentação que nunca tinha feito antes?
Sim, o house e o afrobeat são os principais deles.
O que você quer que as pessoas sintam ou reflitam depois de ouvir ‘É disso que eu me alimento’?
Acho que eu espero que as pessoas entendam o quanto sentir e prestar atenção no que é sentido é importante pro nosso processo de autoconhecimento e crescimento.

Qual foi o momento mais desafiador de todo o processo? E o mais libertador?
O desafio foi pensar em como as pessoas da minha vida pessoal encarariam ao me ver expondo essas vulnerabilidades. O mais libertador foi estar nem aí porque era isso que eu precisava fazer por mim no momento.
Você fala muito sobre amor no álbum — mas não só o amor romântico, né? Que outras formas de amor você sente que te alimentam hoje?
A faixa 6. ‘Te Amei Infinito (interlúdio)’ é uma faixa que começa a rabiscar pra mim uma ideia de amor universal, como o amor pelo outro sendo um canal para o amor divino, apesar de todos os outros sentimentos que vem junto. E ‘Por Todo Amor Que Já Senti’, pra mim, fala muito sobre amor próprio. Sobre como o processo de amar o outro é um espelho pra você se encarar de outras formas.

Como foi o processo de transformar sentimentos tão delicados em música?
Delicado kkkkk foi um desafio me expressar de forma tão verdadeira e tentar experimentar minha escrita de outras formas também. Como eu falei, ter começado um diário me deu um norte pra entender o que eu estava sentindo e o que queria expressar. A partir daí tentei comecei a moldar como isso se transformaria em rima e consequentemente em música.
Há alguma faixa que você acha que resume perfeitamente a alma do álbum? Qual seria?
Acho que Por Todo Amor Que Já Senti.

O álbum fala mais sobre você ou é um espelho pra quem tá ouvindo?
É muito sobre mim, primeiramente. Sobre o que eu precisava ouvir. Mas eu também acredito no inconsciente coletivo e que se eu estava precisando ouvir essas coisas, também será um espelho pra outras pessoas que precisarem ouvir.

Se pudesse resumir o álbum em uma frase, qual seria?
Por todo amor que já senti e tudo que me faz pensar em coisas que eu já vivi o que eu tenho pra partilhar.

E se pudesse dar uma dica para alguém, o que diria?
O autoconhecimento é a forma mais bonita de amor próprio. Permitir se perceber e estar presente dentro de si mesmo é o maior ato de agradecimento que você pode dar a você. E sentir faz parte desse processo, o bom e o ruim.
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