VERNISSAGE: Rog anuncia primeira aparição da Muzikstown em Paris
O pintor carioca, que representa as narrativas do cotidiano periférico e do movimento Rastafari, apresentará uma mostra de suas novas obras pela primeira vez em Paris. A exposição acontece no Jocelyne (Paris 18), em parceria com o coletivo artístico Muzikstown, do Rio de Janeiro, que transforma o espaço em um verdadeiro ponto de encontro entre arte visual e sonoridades tropicais.

A programação musical contou com uma edição especial do programa “Lilly Liaz Invites”, com curadoria da anfitriã Lily e sets exclusivos de DJs convidados.
Conversamos um pouco com ROG sobre seu contato com o universo artístico e o impacto da cultura brasileira em Paris. Confira abaixo:
Como nasceu seu interesse pelo universo artístico? Foi uma paixão que te acompanhou desde a infância ou algo que foi se desenvolvendo ao longo da sua trajetória pessoal e profissional?
Meu interesse pelo universo artístico começou com 10 anos de idade. Nesse período eu comecei a ter muitas perdas de familiares e conhecidos envolvidos do crime organizado na comunidade do Morro do Estado em Niterói, onde muitos deles estavam perdendo suas vidas nessa ilusão que o sistema babilônico de tráfico que acorrenta jovens em todo o Brasil – principalmente no Rio de Janeiro. Meus pais, Tuta e Kátia, ao verem meu interesse em pintar no meio de tanto caos, fizeram todo o esforço do mundo em me salvar através da arte.

Em que momento da sua vida você tomou a decisão de se dedicar integralmente à arte e iniciar uma carreira nesse campo? Houve algum evento ou experiência marcante que te motivou?
O fato marcante que decidiu que seria a arte em que mudaria todo o rumo da história, foi quando tive um amigo muito próximo preso injustamente, acusado pela polícia de Niterói de crimes que não tinha cometido, onde junto com outros amigos e familiares, organizamos manifestações na cidade. Tudo foi televisionado ao vivo para todo o Brasil e foi através das pinturas de protesto, tambores e cantigos de liberdade, que conseguimos provar a inocência do Danillo Felix. E dizer que o sistema é tão corrupto e sujo capaz de destruir vidas pelo fato de ser negro.

Suas obras retratam o cotidiano das periferias cariocas e celebram, especialmente, a cultura Rastafari. De que forma esses elementos culturais e sociais influenciam e enriquecem o seu processo criativo?
Meu processo criativo nasce no beco da favela, na laje de cria, onde toda uma comunidade defende de diversas maneiras todos os dias para se manter vivo e levar o pão de cada dia pra sua mesa. Pinto rostos e momentos de cada morador e eternizo a realidade que ali existe, para que não se perca a identidade dessas pessoas e sua voz seja ouvida por todos. E foi com os movimentos Rastafari que pude encontrar a força, paz e união e aprender a me defender do sistema babilônico. Rastafari não luta, ele se defende diariamente do mal da babilônia.

Sabemos que a música também é uma extensão do seu trabalho, especialmente com o coletivo MUZIKSTOWN e a parceria no duo com a Lily. De que maneira vocês integram os propósitos e as mensagens dos seus projetos musicais?
Muzikstown nasce na base da resistência cultural, onde apresentamos a música como uma ferramenta de união, alegria e sabedoria. Meus cantigos são orações, protesto e choque social através do Reggae, Dub e Dancehall. A parceria com a Lilly Liaz foi fundamental para ampliar e conectar o universo internacional com o Brasil e apresentarmos o nosso melhor para o mundo.

Pensando na herança cultural brasileira, qual você acredita ser o papel e a importância da arte brasileira na França, tanto para a comunidade brasileira quanto para o público local?
É de extrema importância esse movimento cultural na França onde posso inspirar outras pessoas, principalmente jovens da periferia brasileira a acreditar nos seus sonhos e dizer que vocês são capazes de ser tudo aquilo que não querem que vocês sejam, livres. Para o público local, poder contar a minha história e daqueles que foram apagados mas são eternos em cada cantigo e tinta. E dizer que a nossa história é similar especialmente para os imigrantes e seus filhos.

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