A rivalidade entre Banksy e Robbo

22 de out. de 2025

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A história começa em 1985 com um branco simples pintado à beira do Regent’s Canal, em Camden. Um jovem que assinava Robbo subiu em barcos e trens e deixou ali uma peça grande, colorida e visível apenas a quem se arriscasse a navegar o canal. Com o tempo aquela pintura virou um marco. Para muitos, era a peça intacta mais antiga de Londres.

Anos depois, nos anos 2000, apareceu outro nome que marcou a história do graffiti, Banksy, uma figura anônima diferente. Ele vinha do movimento da stencil art, usava imagens cortadas, ironia e composição pronta para seu recorte artístico. A apropriação pela mídia e pelos coletivos culturais transformou sua obra em mercadoria visual com valor imediato. A diferença de universo entre quem pintava trens por reputação e quem fazia imagens fotogênicas para a internet estava posta. Isso é importante para entender o que veio depois.

O estopim aconteceu no fim de 2009. Robbo, que já havia alguns problemas com Banksy, foi recebido com uma intervenção na sua maior obra, em uma parede à beira do canal que, por décadas, abrigou o trabalho de Robbo. Era a imagem de um operário aplicando um grande papel de parede sobre a superfície. A peça cobriu parte do mural original. Para quem vinha do graffiti dos anos 80 aquilo era um gesto de deslegitimação, assim como cobrir qualquer tag nesse mundo é desrespeitoso, cobrir um trabalho histórico antigo com um stencil parecia um tapa.

O que se seguiu virou uma sequência de retalhos. Robbo e aliados responderam, pintando sobre o que Banksy deixara. O jogo virou uma guerra de sobreposições, onde no Natal de 2009 Robbo repôs a marca e a mensagem com “KING ROBBO”. Dois dias depois Banksy, ou alguém que se aproveitou da situação, acrescentou algumas letras, deixando assim a arte como "FUCKING ROBBO”. A parede era repintada sucessivamente, num ciclo que acabou simbolizando a tensão entre o grafite tradicional e a nova estética de galeria que emergia nas ruas de Londres.

A discussão ultrapassou a cena local e alcançou a mídia britânica. Programas de televisão e jornais passaram a cobrir o conflito como uma espécie de “guerra cultural” entre o artista consagrado pelo mercado e o grafiteiro que reivindicava as origens da rua. O documentário Graffiti Wars, cristalizou essa leitura ao retratar Robbo como representante da autenticidade do grafite e Banksy como símbolo da sua institucionalização. A discussão sobre autoria, visibilidade e apropriação do espaço urbano se tornou central naquele momento.

Na cultura da arte de rua existe também uma espécie de etiqueta, um acordo não falado. Marcas históricas, peças pioneiras, são vistas como patrimônio do graffiti. Pintar deliberadamente por cima de uma peça que há décadas resistia à limpeza era e continua sendo uma violação deste acordo.

Em 2011, Robbo sofreu um acidente e entrou em coma, falecendo três anos depois. Após o ocorrido, Banksy fez uma nova intervenção na parede em Camden, reinterpretando o mural de Robbo como homenagem. O gesto foi lido por alguns como um tributo e por outros como um encerramento simbólico de um conflito que já havia se transformado em mito dentro da cultura visual britânica.

Hoje, o episódio é lembrado não como uma rivalidade pessoal, mas como uma síntese das transformações que atravessaram o grafite desde o fim dos anos 1990. A tensão entre anonimato e reconhecimento, continua a estruturar a discussão sobre o papel da arte urbana.

Assistente de redação

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