"Faz Parte da Subida": o processo de Victor Henry e Bradockdan
O novo EP, fruto da parceria do produtor e do artista, foi lançado ontem (17.05) e é a materialização de todo um processo. Conversamos com Dan e com Henry um pouco sobre suas referências, o processo criativo, a vertente de chill drill e também sobre suas expectativas com esse lançamento.
Confira abaixo um pouco da nossa entrevista com Bradockdan e Victor Herny.
BRADOCKDAN:
Conte brevemente como você começou na música e quem foram suas inspirações.
Bom, minha primeira conexão com a música veio através das batalhas de rimas. Por volta de 2009/2010 minha mãe conseguiu um computador pra gente e certo dia usando esse computador, por algum motivo o vídeo em destaque do YouTube era uma batalha de rima do Emicida de 2006/07. A partir desse dia eu fiquei fissurado pelas batalhas de rima e, por assistir tanto, eu desenvolvi uma certa habilidade em rimar. Nunca tive coragem de participar de uma batalha de rima. Então comecei a acompanhar e escutar todos os álbuns do Emicida, até o momento em que eu escrevi a minha primeira música - muito pela inspiração que as músicas dele me trouxeram. O tempo foi passando e isso acabou ficando um pouco de lado por estar fazendo outras coisas da vida. Ainda assim, sempre ficava escrevendo uma coisa ou outra mas nunca pensei em lançar algo de fato. Foi então que em 2019/20, com a cena do grime e drill em ascensão, eu e meus amigos ficávamos rimando nos beat de grime/drill e mostrávamos algumas letras que tínhamos guardadas uns para os outros. Desde então, continuei escrevendo músicas e em 2021 tive a oportunidade de colar em um estúdio pela primeira vez e gravar a minha primeira música.
Você já está inserido há alguns anos na cena e vem estourando no TikTok. Como você vê essa nova geração e como isso impactou seu sucesso? - Sinto que você sempre foi muito paciente e sempre se relacionou muito bem com o fato de “tudo tem sua hora”.
Minha relação com o TikTok é um pouco engraçada por que antes disso tudo acontecer eu detestava usar a rede. Escutei por muito tempo de amigos que era uma rede que entregava bastante os conteúdos, ainda mais de artistas que tinham costume de divulgar prévias por lá. Mas justamente por esse fato de ser uma pessoa mais paciente e acreditar que tudo tem sua hora, eu me fazia entender que estar postando prévias na rede era uma forma de apressar um processo que precisava de tempo para se tornar algo ainda maior. Em algum momento eu decidi tentar pela primeira vez postar um video por lá, e foi quando tudo aconteceu. E eu realmente entendi o quão importante é você se relacionar com ferramentas que fazem parte da sua geração, por que quando tudo aconteceu eu percebi que foi justamente isso que me trouxe para perto do público que tenho hoje.
Como você se identificou com essa vertente do drill, que só você faz? O que torna você, como artista, único?
Estávamos há um tempo fazendo o drill que a maioria das pessoas costumavam ouvir, aquela coisa mais caótica e de certa forma mais “genérica”. Em um certo momento eu estava consumindo muito samples de jazz e até mesmo beats de boombap com samples de jazz, podemos dizer, beats com uma sonoridade mais “chill“. Foi então que em uma conversa com o Henry, perguntei para ele o que ele achava disso e como poderíamos fazer isso em um drill e ainda assim, mantendo a essência do estilo. Começamos a fazer alguns beats assim, e criamos o nosso primeiro som com essa sonoridade, a música “Kéké”. E acho o que tem tornado isso algo único, é a forma como o beat conversa com a composição da letra. Fazemos drill de uma forma mais calma e menos violenta, mas mesmo assim, abordando temas com um senso crítico contundente com o nosso cotidiano e o cotidiano das pessoas que nos acompanham.
Como surgiu a parceria com o Victor para o “FPDS”? E o porquê desse nome e o que ele representa pra vocês?
Eu e o Henry já vínhamos trabalhando juntos há um tempo e percebemos o quanto nossos trabalhos e ideias se completavam dentro do estúdio, muito pelo respeito e admiração que temos um pelo outro. A ideia do EP surgiu muito por uma necessidade de colocarmos nosso nome ainda mais no mapa do drill e da música da nossa geração. Queríamos mostrar o que estamos fazendo de novo e como isso poderia influenciar outras pessoas a fazer o que fazemos. O nome do EP por si só já é muito explicativo. Fazer parte da subida é acreditar que todo processo tanto musical quanto na vida pessoal fazem parte para um amadurecimento para alcançar nossos objetivos. E o EP tem essa representatividade para gente - tem mostrado o quão valiosos são os processos em nossas vidas. Aprender com as perdas e os ganhos é entender que certas coisas acontecem por que precisam acontecer para que assim, possamos subir mais degraus.
O que os fãs podem esperar do EP “FPDS”?
Sinto que esse EP terá o poder de inspirar e fazer com o que outros jovens se vejam em nós e com isso tirar todos os seus sonhos do papel. FPDS é mais que um trabalho musical - é uma forma de mostrar o quão valioso é o processo na vida de pessoas que acreditam em uma melhora.
VICTOR HENRY:
Como foi o processo criativo do EP “FPDS", junto com o Dan?
Foi um processo bem natural, estudamos algumas referências, criamos e juntamos nossas artes. Normalmente ele escreve antes dos beats, então fiz os instrumentais específico pra esse projeto, porém foi às cegas sem nem saber o tema ou a letra, depois disso fomos unindo tudo, mudando algumas coisas e dando sentido a obra, mas não existe regra - que foi o caso de “Tipo Assim”, “Deixa Eles Achar” e “Deixa Levar” em que eu fiz o instrumental primeiro. Trabalhar com o Dan faz parecer tudo mais fácil, a gente se entende muito, foi uma experiência muito prazerosa.
Você já tem toda uma caminhada no meio do rap. Como é pra você lançar um projeto colaborativo que tem como foco principal o drill?
Drill não é o meu gênero principal, porém quando você produz uma coisa específica que alcança um número maior de pessoas, você acaba sendo atrelado ao gênero. Mas gostei muito, espero continuar fazendo.
Quais são suas expectativas para o lançamento, em relação ao público?
Estou muito animado, espero que o público receba bem e se identifique com tudo, com os beats, com os timbres, com as letras, com a estética em geral. Tentamos trazer uma onda que ainda é recente no Brasil, porém com a nossa cara.
Sobre planos para o futuro: o que podemos esperar depois desse EP?
Sem dúvidas vamos continuar trabalhando muito, podem esperar alguns singles depois do EP.