Os deuses e deusas de David LaChapelle

14 de mai. de 2024

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Fotógrafo e diretor americano amplamente conhecido por seu trabalho vibrante, surreal e provocativo, ele já trabalhou para grandes marcas e publicações. Com uma carreira que abrange mais de três décadas, LaChapelle já criou imagens icônicas de celebridades, sendo reconhecido facilmente por sua linguagem visual única.


O INÍCIO

Nascido em Fairfield, Connecticut no ano de 1963, David foi atraído pela arte desde jovem, e aos 15 anos, se mudou para Manhattan com o objetivo de seguir seu amor pela fotografia. Começou como artista no East Village, onde se envolveu na vida noturna e ganhou experiência na icônica Interview Magazine de Andy Warhol. Na época, a epidemia de HIV/AIDS era um fato: impulsionado pela incerteza existencial, seu trabalho inicial mostrava seus amigos doentes vestindo asas de anjo e banhados em luz sagrada.

“Eu não achava que ia estar aqui tanto tempo, então eu queria um propósito para estar vivo. Não era sobre dinheiro ou deixar um legado. Era sobre fazer imagens bonitas para deixar para o mundo, e era essas fotos de anjos. Então, usei todo o dinheiro que tinha no banco e fiz essas asas projetadas. Eu queria fotografar o espírito dos anjos. Cheguei muito perto de Deus. Eu tenho estado perto de Deus desde que era criança. Mas isso foi quando eu estava diante da morte. Eu achava que ia morrer. Por que eu não morreria?" - David sobre a epidemia de HIV/AIDS nos anos 80.

Ele sempre soube que queria ser artista. Desde cedo, sua mãe, fotógrafa amadora, o posava em situações improváveis. Após largar o ensino médio e ir morar em Nova York, seu primeiro emprego foi de garçom no clube Studio 54 - onde conheceu Warhol, que foi seu mentor até o dia de sua morte. Muito novo e morando sozinho numa cidade enorme, seu pai foi buscá-lo e, após um ano na escola de arte da Carolina do Norte (onde se apaixonou pela fotografia), ele retorna para a cidade com 18 anos e começa a trabalhar na revista de Andy.

“Eu vi que houve uma mudança. Com o passar dos anos, ficou entendido que Picasso teve a primeira metade do século XX e Andy Warhol teve a segunda metade do século XX.” - David LaChapelle sobre Warhol

Seu primeiro trabalho foi fotografando The Beastie Boys na Times Square. Naquela época, a vida noturna nos clubes e a arte andavam de mãos dadas e, em pouco tempo, ele estava fotografando para as principais revistas e produzindo algumas das campanhas publicitárias mais icônicas de sua geração. Depois da fotografia comercial, ele se aventurou na produção de palco, de documentários e na direção de videoclipes para artistas como Jennifer Lopez, No Doubt, Christina Aguilera e Moby.

The Beastie Boys Andy Warhol, 1986


SUAS MOTIVAÇÕES

O artista, que hoje mora no Havaí (desde 2006 - ele encontrou a coisa mais próxima de um Éden terrestre na ilha de Maui), sempre representou temas como redenção e esperança, com toques renascentistas. O ambiente o qual ele cresceu, se desenvolveu e arranjou o primeiro trabalho era de dependências de drogas, estilos de vida excessivos e, consequentemente, a perda de muitos amigos queridos, inclusive seu primeiro namorado, de 24 anos.

"Como é a alma? Existe o paraíso? "Sinto uma responsabilidade de criar imagens que possam elevar e servir à humanidade” - David sobre transformar o ser humano em uma divindade

Michael Jackson, 1990

Uma Thurman

André 3000

LaChapelle se apegou à sua fé: ele acredita que é um veículo para um poder superior. Sua inspiração vem de dentro - suas orações. No início, foi surpreendente ouvir alguém com uma longa e sucedida carreira insistir em sua própria humildade. No fim das contas, esse é apenas seu modo de ser, artística e pessoalmente.

"Tenho algumas fotos com as quais tive muito pouco a ver. Apenas acordei no meio da noite com uma imagem na cabeça depois de orar por inspiração […] Vem de Deus. Não tenho orgulho. Sou abençoado. É um presente. É algo para ser grato e ter fé em Deus. Ninguém pode me dizer o contrário. Só posso falar por mim. Sei de onde vem minha inspiração, e não sou eu.” - sobre sua inspiração maior


A LINGUAGEM FACILMENTE RECONHECÍVEL

Seus retratos podem ser visto como uma celebração surrealista da cultura contemporânea e uma sátira maliciosa que lembra ao público de seus pecados mais graves. O estilo de David é hiper-saturado, teatral e traz à tona a história da arte. Michelangelo, Botticelli, Géricault são algumas das suas inspirações - e, sobretudo, a reimaginação de um Cristo nos dias de hoje.

"Jesus is my Homeboy: Last Supper", i-D, 2003

"Jesus is my Homeboy: Last Supper", i-D, 2003

"Jesus is my Homeboy: Last Supper", i-D, 2003


Os lados sombrios da cultura pop e da política foram frequentemente abordados por ele, construindo cenários decadentes, com fundos barrocos e delirantes, cada um com sua narrativa única e conteúdo evocativo. Rostos extremamente conhecidos incorporam seus personagens e, ao mesmo tempo, transmitem o ponto de vista do artista com estereótipos associados à imagem deles. Courtney Love já foi Virgem Maria, Lady Gaga vestiu manchetes, Elizabeth Taylor virou uma vidente de 5 dólares, Lil Kim estampou monogramas da Louis Vuitton em todo seu corpo, etc.

Elizabeth Taylor, 2002

Lady Gaga, 2009

Lil Kim, 1999

A forma provocativa, geralmente nua total ou parcialmente, de como as celebridades eram representadas liberta a representação do corpo feminino das conotações pornográficas, da associação da nudez com o pecado, abuso e humilhação. Ele espera que as imagens transmitam a mensagem de que “somos mais que nossos corpos; há mais em nós do que o físico”. No final do dia, ele sente que as pessoas ganham iluminação através da arte: ensinando-as sobre si mesmas, a era em que vivem e sua cultura.

Tupac

Kanye West e Lady Gaga

Travis Scott

Michael Jackson


SEU LEGADO

Depois de trabalhar por muito tempo para chegar ao ponto em que tinha confiança para tirar fotos apenas para si mesmo, David agora tira fotos para alcançar mais pessoas. Todos esses anos trabalhando comercialmente agora culminou em sua liberdade - de criar uma imagem sem ter que vender nada além de sua ideia.

A marca que ele deixou no mundo da fotografia é incomparável. Seu trabalho continua a inspirar inúmeros fotógrafos e criativos num geral. Desde seu começo humilde até atingir o ápice em sua carreira, LaChapelle consistentemente empurrou os limites da fotografia de moda, criando imagens que desafiavam convenções e ainda cativam os espectadores.